Gabriel Ponte*
postado em 18/11/2018 08:00
Com um novo governo em formação, o Brasil volta as atenções para o cenário internacional ainda incerto para o próximo ano. Analistas temem, a partir de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma desaceleração global em 2019, que, além de atingir as principais economias, pode impactar, em grau maior, os países emergentes. Eles ressaltam, porém, que o Brasil pode ser pouco afetado, se implementar reformas estruturais, principalmente na área fiscal, que contribuam para o enxugamento de gastos públicos, a captação de investimentos e a retomada da atividade.
De acordo com Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, os indícios são de que o ano que vem será desafiador. ;Nós vamos entrar em 2019 em meio ao processo de alta de juros nos Estados Unidos, que tira recursos dos emergentes. E ainda não se está dando atenção à potencial inflação que Mário Draghi (presidente do Banco Central Europeu) disse enxergar na Europa, querendo corroborar suas intenções de reduzir os programas de estímulo e começar também a subir juros por lá;, diz. ;Além disso, o protecionismo, que pode se ampliar com a guerra comercial com a China, fomentada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também é um risco sério.;
Em seu último relatório, o Fundo Monetário Internacional reduziu de 3,9% para 3,7% a previsão de alta da economia global em 2019. Nesta semana, a agência de classificação de risco Moody;s divulgou documento em que também diz ver um crescimento menor da economia mundial no próximo ano. De acordo com a Moody;s, além da tensão entre EUA e China, o tumultuado processo de saída do Reino Unido da União Europeia, a instabilidade na Turquia e, especialmente, Itália, afetarão a economia mundial.
Para Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC), apesar de eventuais sinalizações de uma desaceleração, o cenário global não é sombrio. ;Não tenho uma visão pessimista, embora também não haja nada parecido com o otimismo que vivemos entre 2003 e 2008. Não é aquele clima, mas também não estou vendo nenhuma recessão mundial;, avalia. ;Alguns cenários não são tranquilos, como a Argentina, que é uma economia interligada com o Brasil, além da América Latina como um todo, que não possui um desempenho brilhante. Já na Europa, há um cenário de freio na Zona de Euro, porém os EUA continuam em situação forte;, pondera.
A expansão da economia norte-americana, que cresceu 3,5% em termos anualizados no terceiro trimestre, é um dos fatores que têm levado o Federal Reserve (Fed, o banco central do país), a implementar uma política gradual de elevação dos juros, de modo a manter a inflação na meta anual de 2%. Porém, na visão de César Bergo, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o ciclo econômico nos EUA não deve apresentar queda expressiva nos próximos anos.
* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo