Em dia de liquidez baixa, o dólar começou a sessão volátil e firmou alta na parte da tarde desta sexta-feira (23/11) e chegou a bater em R$ 3,83. O novo tombo do petróleo no mercado internacional, em meio a preocupações com o aumento da oferta da commodity e o temor de desaceleração da economia mundial, contribuiu para trazer nervosismo para os investidores pelo mundo, com bolsas em queda em Nova York e dólar em alta ante moedas fortes, como o euro, e pares do real entre os emergentes, como o peso mexicano, argentino e colombiano. O dólar à vista engatou a terceira alta seguida, de 0,40% e encerrou a sexta-feira em R$ 3,8241. No acumulado da semana, subiu 2,2%, a maior valorização desde a semana de 19 de agosto.
Na transição de governo, os nomes que estão sendo anunciados por Jair Bolsonaro (PSL) para sua equipe econômica, que agora inclui o comando de bancos, além da secretaria de desestatização - que teve o executivo Salim Mattar anunciado nesta sexta - estão agradando às mesas de operação, mas operadores ressaltam que o tom de cautela lá fora impede um movimento de vendas maior do dólar aqui. Um dos indícios é alta do risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, que era negociado a 216 pontos-base no final da tarde de hoje, ante 212 no fechamento de quinta.
O mercado fraco nos EUA e o cenário externo mais cauteloso, ressalta o diretor da Fourtrade Corretora, Luiz Carlos Baldan, levaram bancos e outros grandes investidores a migrarem para posições mais defensivas no câmbio. Além disso, os investidores estão esperando os eventos da próxima semana, que inclui a reunião do G-20, o grupo formado pelos países mais ricos do mundo, que ocorre na Argentina e terá a presença de Donald Trump. Para Baldan, a tendência é que o dólar oscile nas próximas semanas na casa dos R$ 3,75 a R$ 3,80.
Os estrategistas de câmbio do Société Générale veem o dólar mais pressionado pela frente, chegando a R$ 3,95 em março do ano que vem e a R$ 4,05 a partir de junho, fechando 2019 em R$ 4,10. A avaliação do banco francês é que o cenário externo vai seguir mais desafiador e o Brasil tem "múltiplos desafios", por conta de indicadores fiscais muito deteriorados e a dificuldade de se formar coalizões em um Congresso muito fragmentado. "A dívida pública do Brasil está perto de um nível em que pode interromper abruptamente o ciclo de expansão e colocar em dúvida a sustentabilidade da macroeconomia", ressalta relatório do banco.