Economia

PIB brasileiro está melhor, mas não muito no 3º trimestre do ano

Expectativa de especialistas para o crescimento econômico de julho a setembro varia de 0,5% a 1,1%, na relação com os três meses anteriores. Desemprego ainda alto e retomada lenta, depois da greve dos caminhoneiros, derrubam avanço

Rosana Hessel
postado em 25/11/2018 08:00

Expectativa de especialistas para o crescimento econômico de julho a setembro varia de 0,5% a 1,1%, na relação com os três meses anteriores. Desemprego ainda alto e retomada lenta, depois da greve dos caminhoneiros, derrubam avanço

Apesar do tumultuado período pré-eleitoral, a expectativa dos especialistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre venha melhor do que o dos três meses anteriores, de alta de apenas 0,2% em relação ao período de janeiro a março. As estimativas dos analistas consultados pelo Correio variam de crescimento de 0,5% a 1,1% para julho a setembro. Para eles, entretanto, a melhora não deve se manter no último trimestre.

As apostas de especialistas para o PIB deste ano variam de 1,1% a 1,6%. A mediana das respostas de 75 economistas ouvidos pelo Banco Central, semanalmente, para o Boletim Focus, na última segunda-feira, estava em 1,36%, bem menos do que os 3% previstos no início do ano. O resultado da atividade no terceiro trimestre será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima sexta-feira.

O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, prevê alta de 0,7% na margem, mas minimiza o efeito do desempenho melhor no terceiro trimestre, porque a base de comparação é muito baixa, devido à greve dos caminhoneiros em maio, que derrubou o avanço de 0,4% de janeiro a março. ;Na realidade, a economia tem apresentado altos e baixos neste ano. Ainda não há indicadores de uma retomada consistente, o que indica que o crescimento será praticamente igual ao ano passado, de 1%;, resume.

Para ele, o avanço no terceiro trimestre será de 0,5%, com o PIB encerrando 2018 com expansão de 1,3%. Rosa enumera vários fatores que afetaram a recuperação da economia, como a deterioração das contas públicas, a maior incerteza no mercado externo e as eleições. ;O câmbio mais valorizado e a taxa de desemprego diminuindo de forma muito lenta refletem o mercado de trabalho. A criação de emprego no setor informal, em que a remuneração é mais baixa, faz com que a massa salarial fique estagnada, prejudicando um impulso maior do consumo;, completa.

Indústria

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, estima 0,7% de alta entre julho e setembro, com destaque no lado da oferta para crescimento da produção industrial, que recuou 0,6% no segundo trimestre e deve avançar 0,7% no terceiro por conta de dados mais positivos em setembro. A agropecuária, que ficou estagnada entre abril e junho, deve registrar alta de 0,9%.

Do lado da demanda, o consumo das famílias e os investimentos devem vir com mais força, de 0,7% e 6,2%, respectivamente, enquanto os gastos do governo devem reduzir o ritmo para 0,1% depois de avançarem 0,5% no trimestre anterior, pelas projeções da Tendências, que também apontam crescimento nas exportações e nas importações.

Alessandra, contudo, prevê redução do ritmo de crescimento no quarto trimestre, de 0,5%. ;Apesar do crescimento no trimestre, a indústria ainda está bem fraca e, em linhas gerais, a economia está se recuperando em ritmo moderado desde a greve dos caminhoneiros, em maio. O quadro qualitativo mostra que a economia está caminhando. Há uma leve recuperação, inclusive, nos dados de emprego, mas o que está contribuindo para a geração de emprego é a informalidade. O quarto trimestre, tirando a sazonalidade, avança menos, mas ainda teremos um segundo semestre melhor do que o primeiro;, afirma. A previsão inicial para o PIB, de 2,8%, hoje está em 1,2%.

Silvia Matos, pesquisadora sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), prevê alta de 0,8% no PIB do terceiro trimestre, mas admite que seja provável que venha mais elevado devido aos efeitos relacionados à tradicional revisão que o IBGE costuma fazer nos dados trimestrais. Nesta última semana, o IBGE revisou queda do PIB em 2016, que passou de 3,5% para 3,3%.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, espera alta de 0,5%, para o terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, e de 1,5% para o ano. ;A economia levou um choque com a greve em maio e está se recuperando, liderada por investimentos e pela produção industrial. O quarto trimestre deverá vir mais baixo do que o terceiro, porque a base de comparação será melhor. Mas o histórico de 2018 é de retomada gradual, o que é uma boa notícia, após a economia apresentar estagnação desde 2016;, afirma.

Reforma

Padovani ainda não fez previsão para o quarto trimestre, mas já está revendo os números para o próximo ano e pretende elevar de 2% para 2,5%. ;Estou mais otimista. O novo governo tem condições políticas para aprovar uma reforma da Previdência boa, e isso é fundamental para a recuperação da confiança e a volta de um crescimento mais robusto;, afirma.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, lidera as apostas com alta de 1,1%, na margem do terceiro trimestre, mas não está entre os mais otimistas para o próximo ano. Apesar do resultado das eleições de outubro, com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), Vale não elevou a sua projeção do PIB para 2019, de ala de 2,2%, mantida desde junho, e um pouco melhor do índice previsto para este ano, de 1,6%. ;Acreditávamos que haveria recuperação depois da greve de maio, mas lenta. Poderíamos ter alcançado quase 3% este ano se a greve não tivesse acontecido, mas crescer 1,6% com todas as dificuldades políticas, além da greve, é bastante razoável. Esse número merece a visão do copo meio cheio;, afirma.

Artur Passos, economista do Itaú Unibanco, afirma que o banco, recentemente, elevou a projeção para 2019 de 2% para 2,5%, mas manteve a previsão para 2018 em 1,3%. ;Estamos prevendo um terceiro trimestre melhor que o segundo, com alta de 0,7%, mas isso não muda a trajetória que estamos prevendo para o ano, ainda precisaremos descontar alguns efeitos contábeis, porque a base foi menor. O mercado de trabalho está melhorando aos poucos e a confiança está crescendo, mas a intensidade da retomada dependerá do avanço das reformas do próximo governo;, afirma. Para ele, a aprovação da reforma da Previdência ajudará a elevar a confiança do mercado.

Na avaliação de Alessandra, da Tendências, se existe uma certa tranquilidade com a escolha de uma equipe econômica alinhada com a agenda de ajuste fiscal, do ponto de vista político ainda existem muitas incertezas sobre como será o próximo ano. ;Para ficar alinhado ao discurso de campanha, Bolsonaro não está construindo uma base partidária. Os primeiros sinais não são animadores e isso não é nada saudável, porque o novo governo precisará de muito apoio para tocar uma agenda pesada;, alerta.


Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria

;O quadro qualitativo mostra que a economia está caminhando. Há uma leve recuperação, inclusive, nos dados de emprego, mas o que está contribuindo para a geração de emprego é a informalidade. O quarto trimestre, tirando a sazonalidade, avança menos, mas ainda teremos um segundo semestre melhor do que o primeiro;

Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria

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