Agência Estado
postado em 27/11/2018 18:56
Depois de dois dias seguidos de perdas, o mercado acionário brasileiro engrenou um forte movimento comprador e levou o Índice Bovespa a uma alta de 2,74%, aos 87.891,18 pontos, nesta terça-feira, 27. Um conjunto de fatores - essencialmente domésticos - foi apontado para justificar a alta do índice, que subiu na contramão das quedas do petróleo e do fraco desempenho das bolsas de Nova York. Os negócios somaram R$ 14,5 bilhões, dentro da média do mês.
O Ibovespa chegou a ceder levemente pela manhã (-0,20%), enquanto as principais blue chips seguiam em sentidos diferentes. O sinal de alta não demorou a se firmar, puxado principalmente pelas ações do bloco financeiro e as da Petrobras. De outro lado, papéis de empresas exportadoras, como as de papel e celulose, mantiveram-se em queda, acompanhando a depreciação do dólar ante o real.
O principal destaque do período da tarde foi a sinalização de que estaria próximo de ser fechado um acordo que viabilize a votação no Senado do projeto que revê as regras da cessão onerosa dos excedentes da Petrobras. De acordo com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), faltava pouco para um entendimento sobre a questão e, uma vez fechado o acordo, ele faria um apelo aos parlamentares para retirada de emendas, a fim de agilizar a votação do projeto.
"É um assunto que vem tendo muito vaivém e a sinalização de um acordo favorece não apenas as ações da Petrobras. O mercado já vinha repercutindo a indicação de bons nomes para compor o governo e agora essa equipe começa a partir para a execução. É uma sinalização muito boa para o mercado", disse Rafael Bevilacqua, estrategista da Levante Ideias de Investimento.
As ordens de compra foram comandadas por duas grandes instituições estrangeiras, ação que foi interpretada de maneiras diferentes pelos operadores nas mesas de negociação. Com as sucessivas retiradas de recursos da bolsa por parte de investidores estrangeiros, uma das explicações poderia estar no ajuste de carteiras de grandes fundos, e não necessariamente ingresso de dinheiro novo. "Com a proximidade do ajuste semestral da nova carteira do MSCI Brasil (no dia 30), pode também já estar havendo alguma movimentação da parte de instituições específicas", disse um operador.
Houve também quem apostasse no restabelecimento do fluxo estrangeiro na bolsa. Justifica essa tese a redução da posição vendida dos estrangeiros no Ibovespa futuro, que não passou despercebida nas mesas de operações. Em um único dia, houve queda de 17.440 contratos, que agora somam 106.585.
Na última sexta-feira (23), no entanto, houve saída líquida de R$ 487,399 milhões da B3, o que leva o saldo acumulado em novembro para R$ 4,079 bilhões negativos. Em 2018, o saldo de capital estrangeiro na B3 está negativo em R$ 9,989 bilhões, apontando para ser a maior saída de estrangeiros da bolsa brasileira dos últimos dez anos.
Para Ernani Teixeira, analista da Toro Investimentos, a melhora do Ibovespa reflete essencialmente a expectativa positiva com o cenário doméstico, dado o descolamento recente dos mercados internacionais. Ele chama a atenção para a expectativa de que o próximo governo acelere a agenda de privatizações. Não à toa que as ações do "kit Brasil" foram destaque no dia.
"O mercado internacional ainda inspira cautela em relação à tensão entre Estados Unidos e China, mas o mercado brasileiro é beneficiado pelas sinalizações positivas do governo eleito. A possibilidade de privatizações agrada muito ao investidor, que vê menor influência do governo nas empresas e maior chance de ganhos dos papéis", disse.
Na análise por ações, destaque para Petrobras ON e PN, que subiram 3,39% e 5,28%, além de Eletrobras ON e PNB, que ganharam 4,37% e 4,71%. Entre os papéis financeiros, B3 ON subiu 6,33%. Itaú Unibanco avançou 3,38% e Banco do Brasil ON 2,36%. Com a alta desta terça, o Ibovespa reverteu a queda acumulada em novembro e passou a registrar ganho acumulado de 0,53%.