Agência Estado
postado em 27/11/2018 20:27
O empresário Abilio Diniz prestou depoimento por quase três horas nesta terça-feira, 27, na Polícia Federal, em Curitiba, após ter sido indiciado na Operação Trapaça - que apura fraudes na BRF, dona da Sadia e Perdigão. O empresário foi indiciado por estelionato, organização criminosa, crime contra saúde pública e falsidade ideológica em 15 de outubro e pode ser denunciado formalmente pela Procuradoria-Geral da República à Justiça Federal.
Abilio respondeu a todas as perguntas da PF, foi colaborativo e pontuou qual sua versão para as suspeitas que o ligam indiretamente ao caso. A Trapaça, desdobramento da Carne Fraca, foi deflagrada em março deste ano. A operação tinha como alvo um esquema de fraudes descoberto na empresa BRF, gigante do setor de carnes e processados, para supostamente burlar as fiscalizações do Ministério da Agricultura.
"Foi muito bom o depoimento, o delegado deu ampla liberdade, o sr. Abilio expôs coisas que até então ou não tinham ficado claras ou não havia uma compreensão sobre elas. O delegado entendeu muito bem. Achei o delegado muito correto", afirmou o criminalista Alberto Zacharias Toron, um dos defensores do empresário.
Abilio chegou à PF por volta das 11h, acompanhado dos advogados Alberto Zacharias Toron e Celso Vilardi. Deixou o prédio - sede também da Operação Lava Jato, onde está preso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - por volta das 15h, sem dar entrevistas.
Denúncia
O depoimento de Diniz na fase de inquérito antecede a decisão do Ministério Público Federal de denunciar ou não os alvos da Trapaça indiciados pelo delegado Maurício Moscardi Grillo.
Entre os presos e indiciados - 42 ao todo - estão o ex-diretor-presidente global da BRF Pedro de Andrade Faria e outros executivos. Diniz não foi alvo de medidas cautelares, como prisão ou condução coercitiva, na operação.
Após seu indiciamento, a procuradora da República Lyana Helena Joppert Kalluf determinou que a PF ouvisse os indiciados que ainda não tinham prestado depoimento na fase que antecede a denúncia.
A procuradora, com base nos elementos das investigações e no relatório final do inquérito produzido pela PF, vai decidir se denuncia os envolvidos com o suposto esquema de fraudes nas unidades da BRF.
No relatório final do inquérito, a PF afirma que um esquema de fraudes nas unidades da BRF tinha como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura, e as fiscalizações de qualidade do processo industrial da empresa. As investigações concluíram que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo, bem como de seu corpo técnico, além de profissionais responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos da própria empresa.
Dividido em três frentes de irregularidades, uma delas trata sobre as fraudes nas comunicações de presença de salmonella nos produtos. "A legislação é clara quanto à necessidade de notificação pela empresa em caso de detecção positiva da bactéria salmonella pullorum. Nesse ponto, o que chama atenção é o fato da não comunicação ocorrer de modo intencional, de maneira articulada, e com o evidente propósito de retirar do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seu poder fiscalizatório legal e absolutamente necessário para preservação da saúde pública e animal", registra o relatório.
Quem decidirá se há elementos para abertura de processo penal e contra quem será o juiz federal da 1.ª Vara de Ponta Grossa, André Wasilewski Duszczak.
Colaboração
A BRF negocia com o MPF, PF e a Controladoria Geral da União um acordo de leniência - espécie de delação premiada para empresas - e a colaboração dos executivos envolvidos nos crimes.
A companhia iniciou uma ofensiva para acelerar seu acordo de leniência e está contatando os executivos que foram indiciados nas operações Carne Fraca e Trapaça para que se tornem colaboradores. Em meio a uma forte crise financeira e de reputação, a companhia, que é a maior exportadora de frango do mundo, vê a assinatura do acordo como peça importante de sua reestruturação.
O criminalista Alberto Zacharias Toron, defensor de Abílio, considerou: "Foi muito bom o depoimento, o delegado deu ampla liberdade, o sr. Abílio expôs coisas que até então ou não tinham ficado claras ou não havia uma compreensão sobre elas. O delegado entendeu muito bem. Achei o delegado muito correto".