Nelson Cilo
postado em 28/11/2018 06:00
São Paulo ; O Natal de 2018 promete ser melhor do que nos últimos anos, mas não será fácil para os empresários que esperam aumentar suas vendas. Estudo realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que, antes de sair às compras, mais brasileiros querem utilizar o 13; salário para se livrar de dívidas antigas antes de voltar a comprar.
Esse é o caso de 86% dos entrevistados, percentual 1,18% superior aos 85%, em 2017. Em 2016, esse índice foi de 81%. Já a fatia dos que planejam gastar o salário extra com a compra de presentes caiu de 6%, há dois anos, para os atuais 5%. O maior percentual de trabalhadores disposto a tirar dos ombros o peso de contas em atrasos reflete, segundo o estudo, a redução da atividade econômica nos últimos anos, o desemprego maior e taxas de juros elevadas.
A cautela se explica pela dolorosa experiência deixada pela crise dos últimos anos no orçamento doméstico. O 13; salário é, historicamente, visto pelos consumidores como a chance de reorganizar as finanças pessoais. ;O dinheiro deveria ser primeiramente pensado para pagar dívidas atrasadas, empréstimos ou investir. Se o consumidor tem só uma dívida em aberto, é mais fácil resolver o problema. Caso exista mais de uma, o ideal é escolher aquela que está atrasada ou optar pela que tem juros altos, como cheque especial e cartão de crédito;, afirma José Vignoli, educador financeiro do SPC.
Ele considera importante avaliar os gastos no começo do ano, como IPTU, mensalidades escolares e IPVA. ;Assim como a quitação de dívidas atrasadas, a formação de uma reserva para saldar compromissos típicos também deve ser prioridade. Todos os anos, eles aparecem, mas muitos só deixam para pensar nessas despesas quando elas chegam;, garante.
A decisão de quitar seus débitos antes de voltar a comprar é, no médio prazo, uma ótima notícia para o varejo, na avaliação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. A razão é simples: com menos dívidas, o consumidor pagará menos juros e, por consequência, terá mais dinheiro no bolso para comprar ou poupar. ;O trabalhador que quita as parcelas em atraso pode começar o ano no azul e voltar a comprar, de forma consciente;, diz Kawauti. ;O consumidor deve tomar cuidado para nunca comprometer mais do que 30% do próprio rendimento com parcelamentos. Dessa forma, fica mais fácil manter o controle das contas e não entrar em superendividamento.;
Ter de lidar com um consumidor mais cauteloso na hora das compras não significa que o Natal será ruim para o comércio. Pelo contrário. A estimativa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) é de que, em meio à queda da inflação e dos juros, a data movimentará R$ 34,5 bilhões na economia, um avanço de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado, ante previsão anterior de alta de 2,3%.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) prevê, com o pagamento do 13; salário, mais R$ 211,2 bilhões em circulação na economia nacional até o final de dezembro, o que representará 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
O otimismo sobre o futuro econômico do país e a queda na insatisfação com a situação atual também levaram a confiança do consumidor brasileiro a registrar, em novembro, o melhor nível em quase quatro anos e meio, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) saltou 7,1 pontos em novembro, atingindo 93,2 pontos, o maior patamar desde julho de 2014.
;Há uma série de fatores que indicam uma melhoria do ambiente econômico, assim como é evidente que hoje existe um otimismo mais saudável, com o pé no chão;, diz o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Hilgo Gonçalves (leia mais na entrevista abaixo).
A combinação entre consumidores calejados pelas dívidas e um ambiente mais estável para a economia forçará as empresas a adotar uma nova postura para seduzir clientes. ;Existe um novo consumidor no Brasil. Ele é mais cauteloso e planeja mais porque não sabe o que o espera no futuro. A crise é muito dura e moldou esse novo comportamento;, afirmou o diretor do Painel de Consumidores da Nielsen Brasil, Ricardo Alvarenga. ;As recentes oscilações da economia moldaram um novo padrão de consumidor, mais disposto a trocar de marcas, a buscar rendas alternativas e a se adaptar a um orçamento restrito;, disse.
A palavra-chave deste fim de ano, ao que tudo indica, será planejamento. Segundo Edson Moraes, executive coach e consultor financeiro, a solução para evitar que as festas terminem em endividamento e inadimplência é fazer contas. ;É fundamental acompanhar periodicamente as receitas e despesas, seja para a gestão financeira do dia a dia ou para atingir objetivos de médio ou longo prazo;, recomenda o economista. ;Deixar que receitas e, principalmente, despesas sigam sem acompanhamento e controle faz com que a perspectiva de um futuro financeiro fique à mercê da sorte.;