Após recuar pela manhã desta terça-feira (4/11) impactado pela realização de leilão de linha pelo Banco Central, o dólar voltou a ter o ritmo ditado pelo cenário externo e fechou em alta de 0,37%, negociado a R$ 3,8552. A moeda ganhou força globalmente ante emergentes e, aqui, chegou a tocar os R$ 3,86, acompanhando um movimento de deterioração de todos os ativos brasileiros. Operadores ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, apontam que uma série de fatores contribuíram para a piora de humor externo, entre elas estremecimento entre EUA e Rússia em tratado nuclear, incertezas sobre a trégua americana com a China e a piora nas taxas dos Treasuries e no preço do barril de petróleo.
No meio da tarde, o dólar renovou sucessivas máximas ante o real e avançou sobre a maior parte dos emergentes. No maior patamar, tocou os R$ 3,8672, em alta de 0,68%. O movimento coincidiu com fala do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, de que os Estados Unidos suspenderão sua participação num tratado nuclear, com o argumento de que a Rússia tem violado a iniciativa. A conclusão de violação teria sido endossada pela Otan.
Vários outros fatores, no entanto, colaboraram para a piora de humor lá fora. Após euforia de segunda-feira com a trégua entre Estados Unidos e China, a percepção dos investidores sobre um acordo entre os países piorou com um ;tuíte; de Donald Trump em que ele se auto intitula um "homem de tarifas", além de sinalizar que não quer abrir mãos das demandas americanas na negociação. Há ainda dúvidas se o prazo de 90 dias será suficiente para um acordo entre as partes.
"O (presidente Donald) Trump é imprevisível, então existem muitas dúvidas sobre essa trégua", aponta o operador de câmbio da Fair Corretora, Hideaki Iha.
Além disso, investidores mostram-se cautelosos com a redução no spread (diferença) entre os juros da T-note de 2 anos e 10 anos, que poderia ser um indício de recessão à frente nos EUA. A percepção de desaceleração americana provoca uma fuga global ao risco, fortalecendo a moeda americana ante divisas mais frágeis. Além disso, os contratos futuros de petróleo, que iniciaram o dia com alta sustentada, perderam força e operavam próximos da estabilidade, com viés de queda para o barril negociado para janeiro na Nymex, o que prejudicou moedas ligadas à commodity.
Internamente, o noticiário doméstico fraco não teve grande impacto nos preços, mas os investidores seguem de olho no desenrolar da votação do projeto da cessão onerosa e em quão célere o novo governo será no envio da reforma da Previdência ao Congresso. No fim da tarde, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, afirmou que o projeto não seria votado nesta terça e que ainda se constrói um entendimento técnico com governadores, uma vez que a divisão dos recursos com governos regionais esbarra no teto de gastos. Apesar disso, o parlamentar afirmou que trabalha para que se vote o projeto ainda nesse ano.
"Em relação ao mercado interno, o dólar anda de lado, trabalhando com um noticiário praticamente vazio", aponta o operador da corretora Spinelli, José Carlos Amado.
O mercado operou o dia todo com baixa liquidez, comum para essa época do ano. No mercado à vista, o volume era de US$ 1,49 bilhão. Após identificar escassez de dólar, o Banco Central anunciou na segunda-feira novo leilão de linha para esta terça. Como a taxa utilizada como base para leilão é a Ptax medida às 12h, o mercado tenta forçar a taxa para baixo, o que justificaria a queda nos primeiros negócios. Na mínima do dia, o dólar foi negociado aos R$ 3,8191.
O BC costuma realizar leilões de linha nessa época do ano para fornecer liquidez ao mercado em uma época de procura por dólares, em razão das remessas de fim de ano por parte de multinacionais. Nos leilões de desta terça foram ofertados US$ 1 bilhão, distribuídos em duas operações.