Rosana Hessel
postado em 05/12/2018 13:22
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que, se o projeto de autonomia da instituição tivesse sido aprovada pelo Congresso Nacional, ele teria permanecido no comando da autoridade monetária e não teria anunciado sua saída ;por motivos pessoais;. Ele antecipou que deverá retornar ao setor privado.
;Se o mandato fixo tivesse sido aprovado, essa saída por razões pessoais talvez não acontecesse;, disse Goldfajn, nesta quarta-feira (5/12), durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Ex-economista-chefe do Itaú Unibanco, o ministro reforçou que ficará no cargo provavelmente até março de 2019, porque a CAE deverá sabatinar o futuro presidente do BC, Roberto Campos Neto, em fevereiro. ;Vim do setor privado e resolvi voltar às origens;, afirmou ele aos senadores.
A autonomia do BC é um tema que vem sendo debatido há mais de uma década Congresso. Goldfajn lamentou o fato de que o país ainda não amadureceu esse tema. Um dos projetos em tramitação, de autoria do deputado Celso Maldaner (MDB-SC), PLP 142/2004, foi apensado a outro mais antigo ainda, o PLP 200/1989, que aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), da Câmara dos Deputados, e está pronta para a pauta do Plenário da Casa.
;A independência do BC é uma autonomia para perseguir as metas definidas pelo governo no CMN (Conselho Monetário Nacional). O colegiado tem outros dois ministros (Fazenda e Planejamento) e é uma autonomia operacional, que existe no mundo todo. Pelas minhas andanças no BIS (o banco central dos bancos centrais), o Brasil é o único país que não tem a independência (do BC) na lei;, disse ele, contando que se sente constrangido quando é questionado pelos outros pares sobre quando termina o mandato dele. ;Não tenho mandato, porque isso ainda não amadureceu o suficiente no país. Mas acho que está amadurecendo e estamos prontos para discutir esse projeto no Congresso;, emendou.
Na avaliação de Goldfajn, o mercado ficou mais volátil neste ano, mas a economia deu sinais de amadurecimento, contudo, a recuperação está ocorrendo de forma gradual, em forma de U, porque o processo de desalvancagem da economia, tanto de consumidores quanto de empresas e do governo, que ainda está em curso. Para que esse processo tenha continuidade, principalmente, no governo, a reforma da Previdência, segundo ele, é o coração do ajuste fiscal ;A reforma da Previdência é muito importante para passar a confiança de que o país resolveu a questão fiscal. O deficit está caindo, mas ainda é deficit;, disse ele. ;Precisamos da reforma, e, uma vez que ela for aprovada, muito recurso vai vir do exterior e o investimento também está esperando isso;, afirmou.
Na avaliação de Goldfajn, medidas aprovadas durante o governo Michel Temer, como o teto de gastos e a reforma trabalhista foram importantes para o processo de retomada após a recessão econômica de 2015 e 2016. ;A direção da política econômica permitiu a mudança das expectativas (do mercado);, disse. ;Este ano foi uma ano de volatilidade interna e também de volatilidade externa. Em muitos anos, não tivemos a necessidade de voltar a subir os juros, pois a inflação permaneceu controlada e a economia continua crescendo. Acho que, de fato, o país amadureceu. Mostrou que tem amortecedores robustos para enfrentar incertezas internas e externas, como os instrumentos do Banco Central que são uma diferença em relação aos anos anteriores;, explicou.