Hamilton Ferrari, Andressa Paulino*
postado em 08/12/2018 07:00
O penúltimo resultado da inflação oficial de 2018 dá fortes sinais de que a taxa deve se manter comportada no primeiro ano do presidente eleito, Jair Bolsonaro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) registrou deflação ; queda nos valores dos produtos e serviços ; de 0,21% em novembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a menor percentagem desde 1994, quando o Plano Real foi criado. Com o resultado, o indicador ficará bem abaixo do centro da meta de 4,5% até o fim do ano. As apostas dos economistas variam entre 3,5% e 3,9%. No acumulado de 12 meses, está em 4,05%.
A inflação baixa é explicada pela atividade ainda fraca. Mesmo com a taxa Selic no menor nível da história ; em 6,5% ao ano ;, a economia tem dificuldade de engatar uma retomada mais forte. O consumo das famílias e os investimentos dos empresários ainda estão retidos. Os preços administrados, que são aqueles preestabelecidos em contratos ou definidos pelos governos, deram uma trégua em novembro.
São exemplos a energia elétrica e a gasolina, que foram vilões dos consumidores no decorrer no ano. No último mês, a conta de luz foi a responsável pelo maior impacto negativo no índice, com queda de 4,04% nos preços cobrados. Houve mudança na bandeira tarifária, saindo do patamar dois da bandeira vermelha para a amarela.
Além disso, os combustíveis contribuíram, caindo 0,74%. Só a gasolina registrou recuo de 3,07% no mês. De acordo com o motorista Ronaldo José Jeremias, 47 anos, grande parte do alívio nas despesas de casa se deu por conta da diminuição do preço nos postos. ;Estávamos pagando quase R$ 5 e, hoje em dia, encontro combustível por R$ 4,09. Consegui economizar cerca de R$ 60 só no mês de novembro;, afirmou.
No entanto, o motorista ainda reclama do valor da conta de energia, um dos itens que impulsionou a deflação em novembro. ;A energia ainda está muito cara! Moramos eu e mais duas pessoas na minha casa e a conta passa dos R$ 100;, criticou. Para ele, a alternativa para aliviar o bolso é a adoção de novos hábitos. ;Hoje já não ficamos em um ambiente e deixamos as luzes ligadas, e até o chuveiro deixamos de usar no modo inverno;, acrescentou Jeremias.
Controle
Para o engenheiro e economista Cesar de Castro, 66, a diminuição na conta de energia vai ser visível para o consumidor apenas nos próximos meses. ;Ainda não consegui notar mudanças na minha conta de luz;, contou. Por enquanto, ele aposta em medidas de economia para não gastar além do necessário. ;Em casa, passamos a usar apenas lâmpadas led, e em vez de termos duas televisões ligadas ao mesmo tempo, juntamos toda a família e assistimos a programação em uma só;, contou.
Apesar da queda no IPCA, o grupo de alimentos e bebidas subiu 0,39%, puxados pela cebola (24,45%), o tomate (22,25%) a batata-inglesa (14,69%) e as hortaliças (4,43%). Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, a inflação surpreendeu o mercado, vindo abaixo do esperado. ;Os núcleos inflacionários mostram que o cenário inflacionário está controlado, mesmo com os efeitos sazonais. O resultado confirma a tendência de que a taxa ficará abaixo do centro da meta;, afirmou. O especialista projeta que o IPCA registrará deflação de 0,02% em dezembro, fechando 2018 com taxa de 3,57%.
Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, prevê que o indicador marque 3,9% ao término do ano. Segundo ele, a inflação em 2019 vai depender do cenário de reformas e do contexto internacional. ;Nós temos uma questão interna que é a capacidade de conseguirmos fazer as reformas necessárias, como a da Previdência. O cenário externo também parece ser mais desafiador, que também pode impactar o índice de preços, mas estamos com as expectativas ancoradas;, disse.