Economia

Mário Torós: 'O Brasil é uma das melhores apostas para 2019'

Agência Estado
postado em 08/12/2018 08:00
As condições econômicas para o Brasil voltar a crescer são as melhores desde a redemocratização do País, na análise do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) e sócio da Ibiuna Investimentos, Mário Torós. A decolagem, porém, vai depender da capacidade política do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para resolver o problema fiscal. Caso consiga, o País poderá chegar ao segundo semestre de 2019 crescendo a uma taxa anualizada de 3,5% ou 4%, diz o economista. Segundo ele, Bolsonaro tem até o fim do ano para aprovar a reforma da Previdência. A seguir, os principais trechos da entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Como será o Brasil que Bolsonaro vai receber? Sempre que se analisa o Brasil, é preciso olhar o cenário doméstico e internacional. Talvez Bolsonaro esteja assumindo um governo com a melhor situação econômica, do ponto de vista de fatores cíclicos, do novo período democrático. A taxa de juros está baixa, a inflação baixa, o hiato do produto (ociosidade que permite crescimento econômico) bastante grande. Claro que tudo isso foi à custa de desemprego, mas a situação de balanço de pagamentos é tranquila e a conta corrente, equilibrada. Mas há um problema estrutural enorme: o fiscal. Se esse nó for desatado, o País pode entrar em um ciclo de crescimento sustentável. E o que tem de ser feito? São coisas sabidas: reforma da Previdência, simplificação tributária, fim do abono salarial. Acho que as já medidas foram desenhadas pela equipe econômica, que é excelente. A questão que remanesce é se vai haver capacidade política. O governo Temer não teve. Conseguiu só no primeiro ano. O sr. está confiante nessa capacidade política? Ainda é cedo para afirmar. As medidas estão na direção correta. Do ponto de vista de mercado, os preços (na bolsa) mostram isso: estão atrativos e há prêmios grandes que refletem dúvidas. A economia decola em 2019? As indicações mostram que uma alta de 2,5% no PIB é bastante factível. A questão é se o governo consegue desatar o nó fiscal. Se consegue deixar claro no primeiro semestre que a questão será resolvida, a economia pode acelerar. Podemos chegar nos últimos trimestres crescendo a uma taxa de 3,5% ou 4% ao ano. Com esse crescimento, será possível manter a inflação e os juros baixos? Acho que o BC fez um trabalho extraordinário de ancorar as expectativas de inflação. Mas ainda é cedo para dizer se a taxa de juros permanecerá estável. Que avaliação o sr. faz do novo presidente do BC, Roberto Campos Neto? Trabalhei com ele muito tempo no Santander. A escolha não podia ser melhor. Ele é tranquilo, sabe ouvir e é ponderado ao tomar decisões. Há um debate em torno da autonomia do BC. O que mudaria, na prática, com a medida? Há estudos que tentam quantificar isso: quanto se consegue reduzir na taxa de juros diminuindo a incerteza (com a autonomia do BC). Do ponto de vista institucional, essa passagem dará para os agentes econômicos confiança, uma mensagem de que se está indo na linha de praticamente todos os países centrais e, portanto, investir aqui faz sentido. Recentemente, Donald Trump disse estar infeliz com o (presidente do Fed, o Banco Central americano) Jerome Powell. O mercado ignorou isso (por causa da autonomia do banco). Isso poderia custar milhões. Imagina se um presidente do Brasil diz: 'olha, não sei, não, esse presidente do BC'. Como gestor, que apostas o sr. está fazendo? Depois de grande exuberância (na economia global) em 2016 e 2017, começou um período de aperto de liquidez. Esse aperto vai ter um impacto negativo nos mercado emergentes em geral e é base para a economia brasileira no próximo ano. Não dá para ser tão vagaroso na reforma com esse cenário. Dito isso, nos mercados emergentes, o Brasil talvez seja uma das melhores apostas. O México, por exemplo, tem um prêmio maior que o do Brasil, mas o Brasil tem mais upside (espaço para valorização). Gosto da curva de juros do Brasil e da Bolsa em geral, principalmente porque vai ter desregulamentação das empresas, privatização de braços delas e melhora da gestão pública. O sr. falou que há muitas oportunidades para o Brasil. O que pode ameaçá-las? Que a economia americana cresça mais aceleradamente, pressione a inflação e o Fed tenha de aumentar os juros mais que o previsto. Esse risco era alto, mas diminuiu um pouco. Outro risco é uma desaceleração mais forte nas economias centrais que leve a crer que o Fed subiu muito os juros. Esse é um cenário menos provável, mas faria as commodities caírem. Do ponto de vista doméstico, é não conseguir transformar um diagnóstico correto do que tem de ser feito na economia brasileira em ações. Analistas apontam a reforma da Previdência como prioridade. Qual o prazo para ser aprovada sem prejudicar as expectativas? Acho que tem o ano que vem. Mas, se durante o ano, o governo consegue aprovar outras coisas - independência do BC, cessão onerosa - e mostra que a proposta da Previdência é exequível, os dividendos podem ser coletados ao longo do ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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