Agência Estado
postado em 10/12/2018 17:49
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Depois de um ano com queda expressiva nas emissões, o mercado de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) deve ser reaquecido em 2019. Segundo Fernanda Mello, sócia-fundadora da Vert - que junto com sua sócia Martha de Sá realizou a primeira oferta pública de CRA no País, quando faziam parte da Octante Securitizadora -, o governo não deve ter espaço para oferecer subsídios expressivos para a cadeia do agronegócio, o que deve despertar maior interesse na captação de recursos por parte das empresas do setor.
Produto de renda fixa, o CRA é um título de dívida ligado ao setor agrícola e emitido por uma empresa para captar recursos no mercado. Para quem compra, o papel é isento de Imposto de Renda e costuma oferecer uma rentabilidade elevada quando comparado a outros pares no mercado, embora não tenha cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que deve ser levado em conta por parte do investidor. Já para quem emite, é uma maneira mais barata de captar recursos, fugindo de juros elevados cobrados por instituições financeiras.
No entanto, o produto havia praticamente sumido do mercado. Segundo o buscador de investimentos Yubb, apenas três corretoras tinham CRAs disponíveis no fechamento do mercado da última sexta-feira.
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, até outubro de 2018, o volume de emissões deste tipo de papel recuou 55% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para a sócia-fundadora da Vert, a diminuição das emissões em 2018 é explicada pela queda na taxas de juros e pela incerteza eleitoral. Porém, ela acredita que, além da necessidade de alternativas para o custeio do agronegócio, o mercado também será favorecido por uma mudança na regulamentação dos produtos que ocorreu este ano - a fim de beneficiar pequenos investidores. A seguir os principais trechos da entrevista:
As emissões de CRA tiveram uma redução expressiva em 2018. O que pode explicar o fato?
Alguns fatores combinados. As taxas de juros caíram bastante no início do ano. Os CRAs que eram emitidos antes com rentabilidade menor do que o CDI passaram a ter menos demanda do investidor que buscava um retorno maior. No meio de tudo isso, havia uma expectativa da regulamentação, que não tinha saído ainda. E ainda havia as eleições. No final do ano, após o resultado eleitoral, você já percebe uma recuperação.
Qual a perspectiva para 2019?
A gente acredita que a retomada deva continuar no ano que vem. Do lado do tomador, você tem um governo com restrição de gastos, que precisa de crédito para custeio. O Plano Safra hoje já não atende a necessidade do produtor. E, como o agronegócio é um dos setores que mais cresce na economia, a tendência é que o subsídio atenda cada vez menos. O que eu vejo é o mercado de capitais ganhando força como forma de tomada de recursos para o setor do agronegócio.
Como o investidor pode voltar a ser atraído pelo produto com os juros achatados?
Você já teve uma melhora no mercado em geral, principalmente na Bolsa, após as eleições. O prêmio ali já não é mais tão alto como no começo do ano. Quem estava saindo de renda fixa para a Bolsa se questiona de quanto espaço ainda tem ali para valorização. Então, os investidores passam a olhar de volta para os ativos de renda fixa.
Os CRAs estão muito presentes nos portfólios dos investidores qualificados. O produto pode chegar também à carteira do pequeno investidor?
Acredito que sim. Em 2018, houve uma mudança na regulamentação que trata deste ponto. Antes, você só podia vender para o investidor qualificado. Agora você pode vender para o varejo, desde que você siga algumas condições determinadas. Então, veremos emissões chegando a esse outro público, que não só o private.
Como analisar o risco de um CRA?
É preciso analisar com cautela. O CRA é só uma casca. O risco é do lastro que está embaixo, que pode ser de um devedor único ou de centenas de devedores, por exemplo. O investidor ou mesmo o próprio distribuidor tem de analisar o produto e ver qual é adequado para cada público. O investidor não deve alocar uma fatia muito grande da renda nele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.