Economia

Empresas do setor de tecnologia sofrem perdas bilionárias

Valor de mercado das maiores empresas do segmento nos EUA, como Facebook e Apple, têm queda de quase US$ 1 trilhão desde o momento de maior valorização. Redução na demanda por alguns produtos e guerra comercial explicam as baixas

Gabriel Ponte*
postado em 12/12/2018 06:01
Valor de mercado das maiores empresas do segmento nos EUA, como Facebook e Apple, têm queda de quase US$ 1 trilhão desde o momento de maior valorização. Redução na demanda por alguns produtos e guerra comercial explicam as baixas
As ações de empresas de tecnologia, que compõem a bolsa Nasdaq, em Nova York, enfrentam um ano difícil, com perdas expressivas. Até a última segunda-feira, os papéis de Facebook, Amazon, Apple, Alphabet (proprietária do Google) e Netflix, companhias conhecidas pela sigla FAANG, que possuem o maior valor de mercado no segmento de tecnologia, já perderam, desde o momento de maior valorização nas últimas 52 semanas, cerca de US$ 975 bilhões em valor de mercado (R$ 3,82 trilhões na cotação de ontem). Entre os fatores que explicam a queda estão a redução da demanda global por produtos dessas companhias, além dos efeitos da guerra comercial entre Estados Unidos e China ; que tem impacto sobre a cadeia de suprimentos do setor, mas afeta também outros segmentos.

Em escala global, as preocupações com o conflito entre EUA e China continuam intensas, apesar da trégua firmada entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e líder chinês, Xi Jinping, no início deste mês, após a reunião do G20. Na semana passada, a prisão de Meng Wanshou, vice-presidente do Conselho Consultivo da Huawei, principal empresa de telecomunicação da China, voltou a assustar os operadores, com a possibilidade de acirrar a relação entre as duas maiores potências econômicas globais, podendo colocar o acordo por água abaixo. Ontem, o ex-diplomata canadense Michael Kovrig foi preso na China, em uma possível retaliação do governo de Pequim.

Na área de tecnologia, a companhia que mais chama a atenção é a Apple, do Vale do Silício, que está sendo apelidada de ;maçã envenenada; de Wall Street, com perda de US$ 312,38 bilhões (R$ 1,22 trilhão) em valor de mercado, queda de 27% desde o ponto de maior cotação das ações, em 3 de outubro. O cenário econômico incerto em 2019, assim como a redução da demanda mundial, impactam o balanço da companhia, que depende da venda de equipamentos caros e sofisticados. A Apple anunciou, recentemente, que vai restringir a produção de novos modelos de iPhone, carro-chefe da empresa.

Balanço pífio


Em segundo lugar vem o Facebook, de Mark Zuckerberg, com perda de US$ 220,3 bilhões (R$ 863,8 bilhões). Em julho deste ano, a empresa havia sofrido a maior queda histórica diária no mercado acionário norte-americano, quando perdeu US$ 120 bilhões em um único pregão, após um balanço trimestral pífio. Em terceiro lugar vem a Amazon, presidida por Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo na atualidade, com perdas de US$ 199,6 bilhões em valor de mercado (R$ 783 bilhões) desde a máxima atingida em 4 de setembro deste ano.

Ainda compondo a lista, a Alphabet, controladora do Google, entre outras empresas, viu o valor de mercado cair US$ 174,4 bilhões (683,8 bilhões) em 2018. Fechando a lista, está o popular serviço de streaming de vídeo Netflix, cujo valor teve redução de US$ 67,54 bilhões (R$ 264,8 bilhões) desde o ponto de maior valorização.

Pablo Spyer, diretor de Operações da Mirae Asset, observa que as FAANG já foram consideradas um porto seguro para investimentos, mas, após uma década de ganhos ininterruptos, parecem ter chegado a um limite. ;Aquele momento positivo, na década passada, que fez as tecnológicas alcançarem um nível de valorização irracional, atingiu um ponto de inflexão, entrando no que os operadores chamam de bear market, ou período de baixa;, afirmou.

Mas a depreciação não atinge apenas as companhias tecnológicas, estendendo-se a outros setores, como o de commodities, com preocupações, por exemplo, em relação à queda das cotações do petróleo. A Schlumberger, maior empresa prestadora de serviços de petróleo no mundo teve, em 12 meses, queda superior a 30% em valor de mercado. Outra também afetada foi a Exxon Mobil, que, no mesmo período, registrou depreciação de 4,5%. No segmento automobilístico, a General Motors (GM) acumula perdas de 20%, em um cenário de disputa com Trump, que ameaça cortar subsídios da montadora.

Efeito cascata


Na visão de Tiago Mori, assessor da Eixo investimentos, a desvalorização de alguma das principais companhias em diferentes setores é um efeito ;cascata; gerado pelo segmento de tecnologia. ;Quem opera no mercado nota que, quando um índice vai mal, o mau humor é refletido instantaneamente em outros índices. O investidor é o mesmo. Quando decide sair do risco, acaba afetando o mercado como um todo;, disse.

Para Lívio Ribeiro, pesquisador sênior do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), quando se analisam os possíveis cenários para as companhias tecnológicas, deve-se levar em conta o período temporal. ;As discussões, a curto prazo, dizem respeito a balanços de crescimento. A médio prazo, é sobre cautela em relação à cadeia de suprimentos. Já a longo prazo, abarca-se a política monetária do Fed (banco central dos EUA), com expectativa de alta de juros, assim como o desempenho da economia global;, completa.

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação