Agência Estado
postado em 13/12/2018 11:10
O clima está pesado na sede da Gafisa: a incorporadora voltou a atrasar pagamentos a fornecedores, suspendeu lançamentos e demitiu centenas de funcionários nos últimos meses, apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Além disso, a nova direção desistiu de transferir a sede de São Paulo para São Caetano do Sul, no ABC Paulista, conforme havia planejado, e continua à procura de um endereço que permita uma redução de despesas ainda mais profunda.
Desde que assumiu o comando da Gafisa, em 28 de setembro, a gestora de recursos GWI Group, do investidor Mu Hak You, que já teve passagens recheadas de polêmica pela Marfrig e pela Saraiva, vem implementando uma reestruturação baseada em cortes de custos. Para isso, destituiu o conselho de administração e a diretoria executiva, colocando seus funcionários nos postos. No entanto, algumas medidas práticas têm sido questionadas pelo mercado.
Fontes do setor questionam a experiência da GWI em construção civil. Ao frear os lançamentos, a companhia vai na contramão do mercado, que se prepara para uma retomada a partir de 2019. Concorrentes como Eztec, Even e Cyrela, por exemplo, estão se movimentando para crescer, e não para retroceder, nos próximos meses.
Sem previsão
Os atrasos com parte dos fornecedores e empreiteiros de obras vêm se arrastando mesmo após a direção ter se comprometido a normalizar os pagamentos após uma ameaça de paralisação de operários em 24 de outubro. Fora isso, também permanecem suspensos os pagamentos a prestadores de serviços de tecnologia, advogados e até limpeza da sede, apurou a reportagem. A suspensão seguirá por tempo indeterminado, enquanto a GWI faz a revisão dos contratos, disseram fontes próximas ao caso.
Há poucos dias, a GWI demitiu o executivo Luciano Amaral, último diretor estatutário da gestão anterior que permanecia no cargo após a tomada de controle pela GWI. Além dele, já haviam sido cortados o diretor-presidente, Sandro Gamba, o diretor financeiro e de relações com investidores, Carlos Malheiros, e o diretor operacional, Gerson Cohen. As demissões em diversos níveis - analistas, coordenadores e gerentes - têm ocorrido em praticamente todas as semanas, e o número de funcionários já caiu de 750 para 250.
Projetos novos
A reestruturação da GWI também cortou parte dos novos projetos imobiliários. A incorporadora tinha cinco lançamentos residenciais planejados para a cidade de São Paulo neste semestre, mas apenas dois foram realizados. Os outros três que ficaram de fora somam cerca de R$ 400 milhões em vendas. Segundo fontes, a companhia não está comprando terrenos, o que indica um enxugamento das operações para os próximos anos. O escritório do Rio também foi encerrado.
Uma das principais medidas de economia defendidas pela GWI foi cancelada. A gestora de queria transferir a sede da Gafisa de um prédio corporativo em São Paulo para um imóvel próprio em São Caetano.
A economia anual projetada seria de R$ 4,7 milhões, segundo a GWI, mas a conta mudou quando considerada a incidência de impostos municipais. Agora, a direção quer mudar para uma área mais barata, na próxima capital, mas a decisão ainda não foi tomada, segundo fontes próximas à companhia.
Enquanto isso, o mercado olha desconfiado para a situação da incorporadora, que fechou o terceiro trimestre com R$ 194 milhões em caixa e R$ 201 milhões de dívidas com vencimento em 12 meses. Para reequilibrar as contas, a empresa precisa agilizar a entrada de recebíveis das vendas de imóveis, que totalizam R$ 1,4 bilhão.
Com o caixa apertado, o programa de recompra de ações anunciado pela GWI foi alvo de protestos dos conselheiros independentes Eric Alencar e Tomás Awad, que renunciaram aos cargos no último mês.
Procuradas, Gafisa e GWI não comentaram o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.