Economia

Especialista afirma que produtividade do país está estagnada há décadas

André Portela, especialista em políticas públicas, sugere mudanças nos currículos não apenas para os jovens e os idosos do país para capacitar a mão de obra para a quarta revolução industrial

Rosana Hessel
postado em 17/12/2018 12:58
O Brasil tem um desafio enorme pela frente para se adequar à quarta revolução industrial e não perder o bonde dessa transformação tecnológica global. Para não ficar ao largo do processo e melhorar a sua produtividade, enquanto a população está envelhecendo em ritmo acelerado, a chave está na melhoria da educação não apenas para os jovens e também para os idosos, avisa o André Portela, professor de Políticas Públicas da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

;Estamos estagnados há décadas em relação à evolução da nossa produtividade;, alertou o especialista, nesta segunda-feira (17/12), durante o painel ;Produtividade e educação profissional; do seminário ;Correio Debate: A importância da indústria para o desenvolvimento no Brasil;, realizado pelo Correio em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ao mapear o mercado de trabalho ele reforçou que o emprego na grande indústria é para um número pequeno de pessoas, porque o mercado brasileiro é majoritariamente composto por empresas de porte pequeno e empresas informais, que empregam, no máximo, quatro pessoas. Já as empresas que estão na formalidade, em sua maioria, possuem em seus quadros até 31 trabalhadores. ;Essa é a realidade do país. Apenas 5% das empresas formais empregam um número maior de funcionários;, lamentou.

A explicação para essa situação reflete a dificuldade para empreender no país, devido ao famigerado Custo Brasil e o emaranhado do sistema tributário, que afugenta o investidor, de acordo com o especialista. ;Nos Estados Unidos, as empresas nascem pequenas e, as que sobrevivem no mercado altamente competitivo, acabam se tornando grandes, porque passam por uma seleção natural. Já no Brasil, as continuam pequenas porque é caro crescer no ambiente que não estimula a competição. Temos uma UTI para pequenas empresas improdutivas;, avaliou.

Portela defendeu que a agenda da reforma tributária tem que prever a redução do Custo Brasil e nivelar as condições de competição das empresas para que as que forem mais competentes sobrevivam. E, nesse processo, criar condições para qualificar melhor a mão de obra é fundamental porque os trabalhadores precisarão ser capazes de lidar com as novas tecnologias que estão surgindo.

Ele lembrou que a indústria 4.0 poderá eliminar 75 milhões de empregos, mas, certamente, criará outros 130 milhões. ;Toda revolução tecnológica implica no surgimento de novas ocupações e no desaparecimento de velha. No resultado líquido, o emprego aumenta;, explicou ele, destacando que as novas ocupações exigem tarefas analíticas não rotineiras e interpessoais. ;Essas são as habilidade que estão sendo requeridas em qualquer lugar do mundo;, pontuou, acrescentando que tarefas rotineiras, como as que existem no chão de fábrica devem continuar desaparecendo. ;É doloroso, mas é um processo que requer investimento em inovação e bastante audácia. Estamos na hora de sermos inovadores. De que adianta um robô à disposição se a maioria das empresas tem quatro a cinco empregados?;, explicou.

Na avaliação do acadêmico, além da mudança do currículo do ensino médio, o próximo governo precisará adotar medidas para melhorar a produtividade dos futuros jovens e também da população que estará idosa daqui a 30 anos, quando a curva da população mais nova vai coincidir com a dos mais velhos. ;O aumento da produtividade do trabalhador requer uma readaptação da qualificação do trabalhador e também nos currículos dos idosos que vão precisar de um retreinamento;, alertou. Portela considera que o país tem uma oportunidade da reforma do novo Ensino Médio, mas também precisamos pensar sobre o retreinamento. ;Muitos países estão resolvendo esse problema com a imigração. Não somos fechados apenas para o comércio de bens e serviços, mas somos fechados também para imigrantes;, sugeriu. ;O mundo é globalizado. Por que não aproveitar e trazer pessoas qualificadas para aprendermos com elas;, emendou.

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