Economia

Companhias de baixo custo criam desafio para o setor de aviação

Guerra de preços está achatando margens e forçando empresas de aviação a reverem suas estruturas de operação. Na Europa, trabalhadores ameaçam parar no começo do ano que vem

Jaqueline Mendes
postado em 18/12/2018 06:00
Passagem entre Londres e Berlim custa cerca de 10% do valor cobrado por empresas tradicionais

São Paulo ; No começo de 2019, o setor aéreo europeu poderá enfrentar uma das maiores paralisações de sua história. A declaração, em tom de ameaça, partiu do sindicalista alemão Ingolf Schumacher, o mais influente negociador do sindicato de pilotos da Europa, o Vereinigung Cockpit. Isso porque a maior companhia aérea low cost do continente, a irlandesa Ryanair, estaria, segundo ele, submetendo seus funcionários a uma excessiva jornada de trabalho.

;As empresas de baixo custo precisam levar em conta as reivindicações dos funcionários e encontrar uma forma de garantir os direitos dentro desse modelo de negócio;, afirmou Schumacher, em entrevista à emissora N-TV.

A declaração ecoou em todo o mercado aéreo europeu, que vive uma intensa guerra de preços. Uma passagem entre Londres e Berlim, por exemplo, é oferecida por 12 euros pelas companhias de baixo custo, cerca de 10% do preço cobrado por empresas tradicionais, como British Airways e Lufthansa.

Existe a necessidade de encontrar uma maneira de manter conversas construtivas a fim de melhorar as condições de trabalho e a remuneração dos trabalhadores;, acrescentou o sindicalista, ao lançar o slogan Ryanair must change (Ryanair tem que mudar). No ano passado, a Ryanair foi a única companhia europeia a ocupar uma vaga entre as 15 piores empresas aéreas do mundo, segundo o ranking da Skytrax.

Isso explica por que algumas companhias, na prática, já estão mudando. A Joon, companhia aérea de médio e longo curso criada em setembro de 2017 pela Air France-KLM, com a proposta de ser uma empresa voltada aos ;millenials;, estaria com os dias contados.

Segundo o jornal francês Le Figaro, o novo CEO do grupo, Benjamin Smith, não enxerga futuro para a empresa diante das margens apertadas ou resultados deficitários. Por isso, deve encerrar as operações da Joon em breve, focando seus esforços nas companhias de baixo custo regionais, a Transavia e Hop.

Somente no primeiro semestre deste ano, paralisações, protestos e greves na Air France resultaram em perdas de US$ 381 milhões. Vale lembrar que o atual presidente herdou a Joon de Jean-Marc Janaillac, ex-CEO que pediu demissão alguns meses atrás. No Brasil, a Joon iniciou neste ano uma rota direta entre Fortaleza e Paris, operada com o Airbus A340-300.

O problema é que as tarifas praticadas por várias empresas low cost ferem uma regra básica da contabilidade, de que resultado de receita menos despesa precisa ser positivo. ;As low cost criam grandes desafios para o setor aéreo tradicional porque operam com margens muito baixas e estruturas que as grandes não conseguem ter;, afirmou o espanhol Juan Requejo Liberal, consultor em mercado aéreo e especialista em turismo. ;Esse fenômeno tem se desenvolvido muito rapidamente porque também está em crescimento a modalidade de turismo barato e de curta duração, especialmente na Europa.;

Não há no horizonte qualquer sinal de que as low cost perderão força nos próximos anos. Ao contrário. Para o mercado brasileiro, já anunciaram suas operações a chilena Sky, a norueguesa Norwegian Airways e a Avianca Argentina (que não tem relação com a Avianca Brasil, em recuperação judicial desde a semana passada).

Na opinião do presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, a maior concorrência será positiva para os consumidores brasileiros, mas defende mudanças nas regras tributárias sobre o setor.

Segundo ele, os custos operacionais no Brasil deixam as empresas nacionais em situação de desvantagem na concorrência com rivais estrangeiras. ;Esse reforço da competitividade passa pela equalização dos custos existentes por aqui, que são superiores à média global;, informou a Abear, em nota. ;A desregulamentação do transporte de bagagens, a exemplo do que já se praticava no restante do mundo, tem amparado a retomada do crescimento do setor, após a crise econômica, abrindo espaço para novos modelos de negócio, renovando, inclusive, o interesse de estrangeiras.;

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