postado em 21/12/2018 06:00
São Paulo ; O economista Marco Castro, que comanda a área de auditorias da PwC no Brasil e que também preside o Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef), está confiante na retomada da economia em 2019. Por manter contato diário com empresários de diversos setores da economia e participar de eventos que reúnem líderes do meio corporativo, Castro tem notado uma visão generalizada de que o ambiente de negócios está melhorando no país. ;No meio empresarial, há projeções de retomada de investimento, de crescimento e contratação. O cenário, portanto, é bastante positivo;, afirma o executivo.
Segundo ele, vários projetos que estavam engavetados em razão das turbulências políticas e econômicas começam a virar realidade, o que pode gerar efeitos positivos duradouros para o país. A Lava-Jato, diz o sócio da PwC, teve papel fundamental nesse processo. ;O Brasil saiu da crise melhor do que entrou;, afirma. ;Há uma onda geral de purificação depois da Lava-Jato.; Esse movimento, acredita o profissional, resultou na melhoria da governança nas empresas, tornando-as mais transparentes e menos tolerantes à corrupção.
Apesar das perspectivas positivas, Castro ressalta que o futuro presidente Jair Bolsonaro tem imensos desafios pela frente. O maior deles ; e o mais urgente ; é aprovar as reformas necessárias para tornar as contas públicas mais equilibradas, beneficiando toda a sociedade. A aprovação das reformas reforçaria a onda positiva, e o país enfim deixaria a crise dos últimos anos para trás. ;Quanto mais rápido as reformas forem realizadas, melhor para o país;, diz.
Do ponto de vista político e econômico, como o ano de 2018 será lembrado?
Vai ser lembrado como um ano de grandes incertezas. Passamos por um período muito prolongado de indefinições, tanto no panorama eleitoral, com o desfecho da campanha, quanto nos rumos da economia. Além de não saber quem seriam os vencedores nas urnas, também foi difícil prever o que aconteceria com algumas importantes propostas que estavam tramitando no Congresso. Depositamos uma expectativa muito grande na aprovação de reformas, o que acabou não acontecendo. Todo esse cenário de indefinições é a marca mais importante de 2018.O que podemos esperar de 2019? Com a definição do quadro eleitoral, o Brasil vai voltar a ter um ambiente econômico mais favorável?
Acredito que sim. Ao mesmo tempo em que tivemos indefinições, 2018 foi marcado por uma impressionante reviravolta no cenário eleitoral. Se voltássemos no tempo, poucos em janeiro, fevereiro e março deste ano imaginariam o desfecho que tivemos.E isso aconteceu não apenas na eleição presidencial, mas também no pleito para governadores e nas disputas para o Congresso.
Poucos poderiam prever que alguns dos favoritos a vencer as eleições não conseguiriam se firmar e receberiam tão poucos votos. Sobre 2019, é natural que, com menos incertezas eleitorais, as condições para um ambiente mais estável sejam restabelecidas.O senhor se refere a Geraldo Alckmin e Marina Silva quando fala sobre os favoritos que não tiveram sucesso nas eleições?
Exatamente, mas há muitos outros. É preciso ampliar isso para o Legislativo. Há nomes que tradicionalmente vencem sem muito esforço e que neste ano não se reafirmaram, foram atingidos pelo desejo de mudanças. Acho que uma grande marca do ano também foi isso. Os resultados das eleições decorreram da necessidade e do desejo da população de ver as coisas acontecerem de forma diferente.Mas essa reviravolta não é também resultado de um período longo de crise na economia? Nos últimos 2 anos em especial, o país parou e gerou uma massa de milhões de desempregados.
Concordo plenamente. A gente aprende que o mercado não gosta de indefinição. Na verdade, o mercado precificou toda essa indefinição ao longo de 2018, motivo que explica tantas oscilações nos indicadores. O mercado sabe precificar certinho os impactos de todo o processo negativo que vivenciamos. É uma reação natural e imagino que, com o quadro definido agora, teremos movimentos mais constantes e definitivos.O mercado parece bastante otimista com o futuro governo Jair Bolsonaro. Essa confiança corresponde à realidade?
Pelo menos no período de início de governo, o mercado vai apresentar uma reação positiva. A expectativa é de fato bastante otimista e há sinais de que algumas reformas fundamentais deverão ser realizadas pelo futuro governo. Como resultado desse processo, os investimentos das empresas que vinham sendo postergados e engavetados devem voltar com mais força a partir do ano que vem. Acredito que haverá forte retomada de projetos no meio empresarial, e até mesmo no meio público.Na sua avaliação, essa retomada será puxada pela agenda de privatizações, que é um dos focos do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes?
As privatizações, que estavam andando de lado, vão ganhar nova energia no governo Bolsonaro. Na minha visão, a agenda de privatizações vai resultar em uma onda de investimentos no país, oportunidades de emprego e novos horizontes para os negócios.Qual é a expectativa do mercado internacional em relação ao novo governo?
Acho que o mercado internacional está torcendo pelo Brasil. O mundo precisa de opções de investimento, precisa de lugares que tenham consumo sustentável e crescente, e dentro de um ambiente democrático. Tem muita gente torcendo para que o Brasil dê certo. Um cenário positivo, com forte fluxo de investimentos, é bom para todo mundo.Qual será o maior desafio do próximo governo?
O maior desafio será a aprovação das reformas, das medidas que são dolorosas, mas que precisam ser solucionadas num curto espaço de tempo. Quanto mais rápido as reformas forem realizadas, menos sofrimento elas causarão a todos. Ou seja, melhor para o país. Então, eu acho que a aprovação dessas medidas vai ser a maior dificuldade do futuro governo.Durante o ano, a inflação se comportou
de um jeito estranho no Brasil. Houve até períodos com deflação. O que explica isso?Ter a inflação em patamares mínimos não deixa de ser saudável para a economia. Mas acho que alguns momentos de deflação que nós tivemos se devem a motivações ruins, que foram a ausência de consumo, ausência de investimento, e o baixo poder aquisitivo da população. O desemprego claramente impactou no resultado. As pessoas se fecharam, se controlaram, se seguraram na hora de consumir. Agora precisamos mudar esse cenário.