Economia

Modo como usamos o celular e a internet terá mudança radical em 10 anos

Haverá grande evolução no modo como as pessoas usam os aparelhos celulares e a internet. Novidades, entretanto, demorarão a chegar ao Brasil

Paulo Silva Pinto - Enviado Especial
postado em 23/12/2018 08:00
Telefones sem teclas são realidade, desafio será interação entre aparelhos

Maui ; Era difícil imaginar até pouco tempo atrás que os celulares deixariam de ter teclas. Mas, por maior que seja a revolução dos smartphones no mundo, é pequena diante do que está por vir. O modo como as pessoas usam tecnologia vai mudar bastante nos próximos 10 anos. E também, claro, o negócio das empresas que produzem componentes e aparelhos ou oferecem serviços. Essa discussão foi o pano de fundo do encontro que a Qualcomm, maior fabricante mundial de processadores, promoveu na ilha de Maui, no arquipélago do Havaí, no início de dezembro.

O lugar do evento, que repete o do ano passado, não foi escolhido à toa: está a meio caminho dos Estados Unidos, sede da empresa, e da Ásia, seu maior mercado e também onde são produzidos os chips que desenvolve. Afinal, como a Apple, a Qualcomm terceiriza toda a parte de manufatura. A diferença entre as duas empresas é que a Apple desenvolve todos os componentes, incluindo o produto que chega ao consumidor. A Qualcomm e a número dois no mercado, a Intel, fazem os processadores, que são vendidos aos fabricantes de celulares, e correspondem a uma parcela grande do valor do aparelho.

Nos anos 1980, o bacana era ter um telefone no carro, relembra Keith Kressen, diretor da Qualcomm. Na década seguinte, e-mail no celular. Depois, imagem e games. ;A próxima década será da comunicação entre aparelhos;, explica. É a chamada internet das coisas. Será possível, por exemplo, monitorar 24 horas por dia a saúde de pessoas com doenças crônicas, diminuindo riscos e reduzindo a necessidade de visitas ao médico. Os veículos sem motorista se tornarão possíveis em uma etapa seguinte.

A competição entre tipos diferentes de aparelhos também tende a ser reduzida ou eliminada. Em vez de ficar com o celular na mão e a tela da tevê ligada, as pessoas poderão usar óculos virtuais com várias telas no visor. Entretenimento vai dominar cada vez mais o mercado. Hoje, nos Estados Unidos, 50% do tráfego de internet é dominado apenas por Netflix e YouTube. Em três anos, serão 70%. Com os novos celulares 5G, será possível fazer em três segundos o download de um filme de duas horas.

Os desafios para implantar a nova tecnologia, porém, não são pequenos. É preciso melhorar os aparelhos e as redes. A Qualcomm lançou, no evento de Maui, o processador Snapdragon 855. Esse é o chip que será o coração da primeira geração de celulares 5G, com uma velocidade de transmissão de dados equivalente a 10 vezes a que se obtém em média hoje em uma boa conexão de rede fixa.

É algo que ainda vai demorar um pouco para se tornar realidade, principalmente no Brasil. O brasileiro Cristiano Amon, presidente global da Qualcomm, apresentou um mapa com a previsão do início das operações dessa nova etapa de conectividade em países da América do Norte, Europa e Ásia em 2019. Algo que chamou a atenção foi a ausência de expectativa de qualquer serviço, ainda que em fase inicial, em duas regiões: América Latina e África.

* O repórter viajou a convite da Qualcomm


  • Perfil

    Nascido em Campinas (SP) e formado em engenharia eletrônica pela universidade estadual da cidade, a Unicamp, ele trabalhou como técnico em várias empresas, incluindo a Qualcomm. Voltou para a companhia há oito anos, já como executivo nos Estados Unidos. E no ano passado, chegou a presidente. Ele segue torcendo para a Ponte Preta e faz questão de falar com os três filhos em português. ;Se falam comigo em inglês, eu não respondo;.

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