Economia

Queda na bolsa do Japão deixa investidores no Brasil apreensivos

O índice Nikkei da Bolsa de Valores de Tóquio despencou 5,01%, após o péssimo resultado da véspera em Wall Street

Rosana Hessel, Simone Kafruni
postado em 26/12/2018 06:00
foto da bolsa de valores de Tóquio

Investidores estão apreensivos com a abertura do mercado no Brasil nesta quarta-feira, após o feriado de Natal, devido à onda de desvalorização que varreu as bolsas internacionais no início da semana. Nesta terça-feira (25/12), o índice Nikkei da Bolsa de Valores de Tóquio despencou 5,01%, após o péssimo resultado da véspera em Wall Street. Na segunda-feira, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuou 2,9%, a baixa mais expressiva da história em uma véspera de Natal, em meio às incertezas sobre o orçamento norte-americano, declarações polêmicas do presidente dos EUA, Donald Trump, e à queda dos preços do petróleo.

Para Carlos Henrique de Oliveira, sócio da Miura Investimentos, o tsunami global deve influenciar a abertura do mercado brasileiro e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), tende a abrir em queda. ;Nova York recuou por conta do chamado shutdown (encerramento parcial de órgãos federais norte-americanos, que pode durar até janeiro). Lá, eles levam a sério a questão do orçamento;, afirmou.

O especialista explicou que, no Japão, onde não há feriado de Natal, o efeito foi uma desvalorização recorde, com o indicador da bolsa caindo para o menor patamar desde abril de 2017. ;Isso, com certeza, vai influenciar nosso mercado por equiparação, com impacto nas commodities. Talvez, ao longo do dia, o resultado dos bancos brasileiros atenue a queda. Hoje, a B3 é comandada pelas instituições financeiras, que não teriam, diretamente, um motivo para cair tanto;, avaliou.

Oliveira destacou, contudo, que indústria e setores produtivos vão sentir a aversão ao risco global. ;Nos últimos dias, já se percebeu uma forte onda de vendas de ações lá fora, entrando no que chamam, nos Estados Unidos, de bear market (mercado do urso, quando a bolsa cai);, destacou.

Câmbio

O temor, segundo os analistas, é com a instabilidade política nos Estados Unidos, que viveu três dias de paralisação parcial em meio ao impasse orçamentário. Além da ameaça de shutdown, o mercado norte-americano recuou por conta de declarações de Trump, segundo as quais o Federal Reserve (Fed, banco central americano) estaria elevando a taxa de juros muito rapidamente. ;Eles (diretores do Fed) pensam que a economia está indo muito bem;, disse o presidente ontem. Trump teria, inclusive, discutido com assessores a demissão do chairman do Fed, Jerome Powell. A possibilidade, porém, é muito difícil, já que os dirigentes da autoridade monetária são protegidos por mandato fixo.

;O mercado deve abrir com realização de lucros devido às péssimas performances das bolsas internacionais, com queda da B3, alta do dólar e o barril do petróleo derretendo;, apostou Pablo Spyer, diretor da coreana Mirae Asset Securities no Brasil. ;Os grandes investidores estão muito preocupados com a guerra comercial entre EUA e China e também com a crise em torno do Fed;, explicou. Segundo ele, as recentes críticas de Trump ao Fed têm gerado muita incerteza entre os investidores. ;Há uma grande preocupação de que haverá uma desaceleração na economia global no ano que vem. O problema é de quanto será essa desaceleração, pois tudo indica que poderá ser mais forte do que inicialmente estava sendo previsto;, avaliou.

Muitos mercados financeiros na Ásia, Europa e América do Norte ficaram fechados ontem, por conta do feriado de Natal, mas o índice Nikkei refletiu o clima de preocupação. O indicador também foi afetado pela valorização do iene ante o dólar, que é visto como ameaça à recuperação econômica do país, baseada na exportação. Ontem, a cotação do dólar caiu a 110 ienes, menor nível em quatro meses.

Volatilidade

O vice-ministro das Finanças do Japão, Masatsugu Asakawa, disse ontem que a volatilidade está crescendo e que as autoridades estão prontas para tomar as medidas necessárias se o mercado se mostrar errático em demasia. ;Cada país compartilha a visão do G7/G20 de que o excesso de volatilidade e de movimentos desordenados são indesejáveis para a economia;, afirmou. ;Vamos manter um olhar atento sobre os movimentos do mercado, com um senso de urgência, enquanto checamos extensivamente para observar qualquer movimento especulativo;, disse.

O preço do barril de petróleo também influenciou os mercados ao cair mais de 6%. O WTI fechou a US$ 42,53, nível mais baixo desde junho de 2017. Já o barril de Brent do Mar do Norte fechou o dia em queda de 5,72%, a US$ 50,74. Na China, as ações também encerraram os negócios em baixa, ontem, em meio à liquidação generalizada nos mercados, mas os papéis de empresas financeiras evitaram um recuo maior. O índice de Xangai chegou a perder mais de 2%, porém, fechou em baixa de 0,9%.

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