Rosana Hessel
postado em 30/12/2018 08:00
A partir de janeiro, investir em títulos públicos ficará mais barato. A taxa de custódia dos papéis do programa Tesouro Direto, cobrada pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3), será de 0,25% ao ano, e não mais de 0,30%. A redução é considerada pequena por especialistas, que, mesmo assim, apontam a mudança como o início de uma nova fase do programa, mais favorável aos investidores.
Criado em 2002, o Tesouro Direto tem como objetivo popularizar o investimento em títulos públicos, uma aplicação antes acessível apenas aos detentores de grandes volumes de recursos. A expectativa do secretário adjunto do Tesouro, Otávio Ladeira, é de que, com essa nova tarifa, o pequeno investidor tenha mais interesse pelo programa, que permite aplicações a partir de R$ 30.
Na avaliação de Ladeira, a mudança deixará o Tesouro Direto mais atraente do que muitos fundos de renda fixa, que cobram taxas de administração de 2% ao ano. ;Com essa redução, e com o fato de que grandes bancos zeraram suas taxas de administração, que costumavam ser de 0,5% ao ano, o custo do Tesouro Direto passará de 0,8% para 0,25% ao ano a partir de janeiro. O programa já era competitivo e vai ficar mais competitivo ainda;, aposta o secretário.
O economista Fabio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), concorda que a mudança na taxa de custódia vai deixar o Tesouro Direto mais atrativo para os investidores. ;As tarifas estão caindo de forma geral no mercado porque os juros não devem subir. Manter taxas muito elevadas acaba prejudicando a rentabilidade das aplicações;, explica. Para ele, o Tesouro Direto é um bom produto para quem não quer correr riscos. ;O investimento é seguro, porque é garantido pela União, e é fácil de aplicar. O problema é que as pessoas ainda não têm o hábito de investir em títulos públicos, por isso, o volume ainda é muito baixo. Mas o investimento tem potencial para crescer;, afirma.
Na avaliação de Gallo, como a Selic (taxa básica de juros), atualmente em 6,5% ao ano, deve se manter nesse patamar em 2019, as tarifas para investimentos tendem a cair mais. ;Vários bancos e corretoras estão reduzindo os custos, inclusive as taxas de carregamento dos planos de previdência privada, que aplicam boa parte dos recursos em títulos públicos;, conta. Logo, na avaliação do analista, é importante que o Tesouro Direto também reduza as taxas para continuar sendo competitivo no mercado. ;O fato é que o país está entrando no rumo certo da história. Antes, as tarifas cobradas pelos bancos e corretoras eram altas e o investidor não percebia, porque os juros também eram elevados. Agora, isso não pode mais acontecer, e a competição vai aumentar;, destaca.
Aposentadoria
André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, também considera a mudança positiva. ;O Tesouro Direto é um bom investimento de longo prazo para quem prefere aplicar em renda fixa. O programa deve ser considerado como um complemento de renda para a aposentadoria, pois, com a expectativa de reforma da Previdência, cada vez mais o brasileiro vai ter de se preocupar em fazer uma poupança ao longo dos anos;, avalia. Perfeito destaca que, em 2019, os juros não devem subir muito, e que o Tesouro Direto não é um investimento para se especular a curto prazo, porque as taxas são mais interessantes para períodos mais extensos. Segundo ele, se o investidor está pensando em aplicar em prazos mais curtos, há CDBs pagando mais de 100% do CDI que podem competir em condições de igualdade com o Tesouro Direto.
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Aumento acelerado
De acordo com dados do governo, o número de investidores no programa Tesouro Direto saltou 67% nos últimos 12 meses, totalizando, em novembro passado, 2,97 milhões de cadastrados. Desse total, 752 mil estavam ativos no mês passado, número superior ao de investidores da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que somavam 730 mil em agosto (último dado disponível). A maior parte dos investimentos no mês passado, 64%, foi feita com valores de até R$ 1 mil.
O estoque do Tesouro Direto é pequeno se comparado ao total da dívida mobiliária do governo federal, de R$ 3,8 trilhões. Em novembro, somou R$ 53,1 bilhões, ou seja, 1,4% de todos os títulos públicos da União. Mesmo assim, o volume é crescente e mais da metade dos papéis são indexados à inflação. No mesmo intervalo de 2017, o estoque do programa somou R$ 48,1 bilhões, um aumento de 10,5% em 12 meses.
Na avaliação do economista e professor da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP), Alexandre Cabral, entre os três tipos de papéis oferecidos pelo Tesouro Direto ; prefixados, indexados à inflação ou indexados à Selic ;, o melhor para investimento de longo prazo é o Tesouro IPCA, que tem a rentabilidade atrelada ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo.
;Esse papel é interessante para quem quer deixar o dinheiro aplicado por mais de 10 anos. A taxa atual do Tesouro Prefixado não está muito competitiva com o mercado privado de fundos;, orienta Cabral. ;O Tesouro Selic é mais vantajoso que alternativas da iniciativa privada para aplicações de até R$ 4 mil, pois os grandes bancos têm taxas de administração muito altas para investimentos de pequeno porte;, completa.
Cursos
De acordo com o secretário adjunto do Tesouro, Otávio Ladeira, será difícil reduzir ainda mais o valor da taxa de custódia da B3, porque a Bolsa tem o papel de oferecer cursos de capacitação a profissionais das instituições que operam o Tesouro Direto. O professor Alexandre Cabral diz que o custo da educação financeira promovida pela B3 é importante para disseminar a cultura de investimento no Tesouro Direto. ;Essa queda de 0,05 ponto percentual na taxa de custódia não é maravilhosa, mas esse custo é relevante porque se transforma em cursos para as corretoras, que destinam as aulas para funcionários ou para os clientes. A liberdade de escolha é da instituição;, explica. (RH)