Vera Batista
postado em 31/12/2018 06:00
Diante das mudanças na economia e na sociedade, com os governos que vão assumir apertando o cinto para ajustar as contas, e a população vivendo cada vez mais, com menos filhos, o cidadão brasileiro não pode deixar de pensar no futuro e acumular reservas para garantir uma velhice digna. A reforma da Previdência, inadiável, segundo técnicos em gestão pública, é fundamental para cobrir o rombo do sistema, que pasará de R$ 292 bilhões em 2018.
;Além dessas questões, há o desemprego estrutural. A inteligência artificial fará muita gente perder a empregabilidade. Estudos apontam que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo, nos próximos 30 anos, ficarão sem emprego, mas seus gastos, com a idade, aumentarão. Terão dificuldades. A realidade nos obriga a encontrar, de imediato, formas de proteger o dinheiro e investir na aposentadoria;, destaca Jurandir Sell Macedo, professor de finanças pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Macedo acredita que o Brasil está, finalmente, saindo do fundo do poço da recessão. Os próximos quatro a cinco anos serão melhores para a economia. ;O problema é saber quando o país começará a crescer. Isso depende das reformas estruturais e dos impactos das tensões internacionais;, afirma. Portanto, é preciso cuidar muito bem do dinheiro.
A razão é simples: a melhora econômica não vai eliminar a necessidade de acumular reservas para garantir o futuro, mesmo porque será cada vez menos prudente confiar na Previdência estatal. ;Não adianta dizer que pagamos, portanto, temos direito e queremos o retorno. Não tem jeito de resgatar um direito dado no passado, mas que será bancado pelas próximas gerações;, reforça o professor.
A maioria dos brasileiros não tem cultura previdenciária ou hábito de poupança. Mas a necessidade de poupar parte dos rendimentos e escolher boas aplicações é essencial. ;Não existe fórmula única. O melhor investimento depende do perfil e da situação específica do poupador. As pessoas se esquecem, por exemplo, da importância de ter liquidez para imprevistos;, diz Macedo. Mas, antes de tudo, a pessoa precisa identificar se tem mais ou menos apetite para risco, ou seja, se tem perfil conservador, moderado, dinâmico ou arrojado.
Objetivos
;Risco e retorno andam juntos. Não existe baixo risco com alto retorno;, alerta o professor da UFSC. Para quem não conhece os meandros do mercado financeiro, ele aconselha aplicar na caderneta de poupança, nos fundos DI (que acompanham de perto a Taxa Básica de Juros, a Selic) ou no Tesouro Direto (investimento em títulos públicos) corrigido pela Selic. ;Nunca faça investimento que você não conhece. É preciso entender como funciona cada um deles, o retorno, se há ou não desconto de Imposto de Renda (IR), enfim, quais são os riscos, e se vale a pena, considerando seu nível de renda e seus objetivos. Se quiser fazer uma longa viagem, por exemplo, aplique em fundos corrigidos pela moeda que será usada (dólar, euro, etc).;As irmãs Ana Carolina, 22, e Gleicilene Ramalho, 23, foram educadas para ;entender que os pais não são eternos, e que fazer reserva é fundamental;. Gleicilene é bacharel em enfermagem e se prepara para concurso público. As duas dizem que pretendem começar a poupar. ;Ainda não sabemos exatamente o plano ou o ativo. Mas vamos investir no mercado financeiro;, diz Ana Carolina.
O engenheiro eletricista Marcelo Gonçalves, 41, já se prepara há 10 anos para o futuro. ;Eu e minha esposa, que é funcionária pública, conversamos muito a respeito e vimos que não tinha outra saída;, afirma. Ambos poupam mensalmente, e separadamente, R$ 152 para eles e para o filho Guilherme, de 4 anos.
;O que se vê é insegurança total na economia. Trabalho em uma montadora de automóveis. Não tem muito tempo, mais de 10 mil foram mandados embora e outros aderiram ao plano de demissão voluntária. A maioria não está vivendo bem. Se não tivermos reservas, a situação será terrível daqui para a frente;, afirma Gonçalves.
Diversificação
O próximo estágio é diversificar o investimento, a depender de como é a vida do aplicador. Se for solteiro, jovem e sem dívidas, pode ser mais agressivo. Se casado e com filhos, ou maduro, precisa saber das necessidades de curto prazo. O mais importante, no entanto, é que o cidadão descubra qual é a sua ;inflação pessoal;, diz o educador financeiro Fabrizio Gueratto. ;Veja as suas despesas e prioridades. Os idosos, por exemplo, pagam mais por planos de saúde, que têm uma correção altíssima devido aos custos dos equipamentos médicos, e menos em vestuário e calçados. Os mais jovens gastam mais em educação. A prioridade é proporcional;, explica o educador financeiro.A maioria dos brasileiros ainda não sabe ou não se convenceu de que não pode ficar de braços cruzados. Matheus Malty, 23 anos, retornou recentemente do mestrado de filosofia na Alemanha e está desempregado. ;Enquanto não consigo uma vaga, vou ajudando o meu pai na fazenda, em Goiás, onde ele cria gado;, conta. Ele explica que o pai insiste para que ele contribua para o INSS e faça também um plano de previdência complementar. ;Ouço ele falar, mas sou descrente. Nada me garante que não vai aparecer de novo um outro louco para confiscar minha poupança. A economia é muito volátil;, afirma. Os especialistas descartam veementemente essa hipótese.