São Paulo — Nada de corantes, aromatizantes e outros itens de origem artificial. Beterraba e cenoura roxa, por exemplo, são responsáveis pela coloração rosada dos produtos com morango. Desde novembro passado, a Verde Campo, empresa de laticínios, vem substituindo matérias-primas usadas na produção para colocar nas prateleiras de supermercados e padarias apenas itens naturais. Toda a conversão no processo fabril deve ser concluída ao longo deste ano.
A empresa, fundada em Lavras, no interior de Minas Gerais, foi comprada pela Coca-Cola em 2016, mas seus principais executivos, como um dos ex-donos, Alessandro Rios, foram mantidos.
Rios já tinha planos de mudar a forma de produção dos laticínios antes da venda do controle da companhia mineira para a Coca-Cola. Há pelo menos cinco anos, ele começou a colocar a ideia em ação, com os preparativos para que a Verde Campo conseguisse a certificação de boas práticas, concedida por uma empresa da Nova Zelândia, a QCONZ (Quality Consultants of New Zealand), que é referência no assunto. Para receber a certificação, a Verde Campo precisou envolver no projeto todos os seus fornecedores — só as fazendas de leite chegam a 200.
Os fornecedores de leite foram financiados pela Verde Campo para que alterassem seus processos e melhorassem as características microbiológicas. Já as empresas responsáveis por matérias-primas, como as polpas de frutas, explica Rios, foram desafiadas para encontrar soluções para se adequar à nova fase.
Com o interesse crescente das multinacionais, motivadas pelos novos hábitos dos consumidores, de buscar alimentos e bebidas mais saudáveis, não foi difícil acelerar o projeto, que teve o aporte de R$ 50 milhões.
Na primeira fase, concluída em novembro do ano passado, a fabricante eliminou totalmente os ingredientes artificiais dos iogurtes, que respondem por cerca da metade das vendas da Verde Campo Além de custarem mais, as matérias-primas naturais garantem um prazo de validade menor, o que impacta nas despesas com transporte e armazenagem.
Até ganhar escala, haverá um aumento nos custos de produção — cerca de 10% no caso dos queijos e de quase 20% nos iogurtes —, mas Rios garante que não haverá repasse para o preço final e que a companhia vai absorver essas despesas adicionais.
A expectativa, segundo o executivo, é de que a taxa de crescimento anual — em média, de 30% na última década — chegue já em 2019 a 60%. Os iogurtes sairão na frente nessa previsão porque foram os primeiros a passar pela alteração de receita. Além dos ingredientes, também foi feita uma alteração na comunicação visual das linhas naturais, com nova logomarca e novo slogan.
Se a meta de expansão das vendas se confirmar, poderá ser necessário pensar na descentralização da produção, hoje toda concentrada em Lavras. A previsão de Rios é que a marca, hoje distribuída especialmente no varejo dos grandes centros, passe a ter uma maior capilaridade. “Estamos trabalhando para aumentar os pontos de venda”, afirma o fundador da empresa.
Desde que a Verde Campo decidiu transformar a forma de preparar seus produtos, toda a linha fabril passou por mudanças, com novos equipamentos. Com isso, a capacidade de produção, que era de 4,5 milhões de litros por mês, quadruplicou. Agora, poucos meses depois de alterar os iogurtes, a Verde Campo já chegou à marca de 6 milhões de litros mensais produzidos.
Segundo projeções feitas pela empresa, até o fim do primeiro trimestre deverá estar concluída a mudança na linha de queijos. No segundo semestre, será a vez das pastas, requeijão e do cottage.
Para Rios, a decisão da Verde Campo de trocar ingredientes artificiais por naturais deverá impactar na indústria de laticínios. “Esse tipo de iniciativa faz parte de um movimento mundial de busca por mais naturalidade”, afirma o profissional. “Quem faz parte desse setor será desafiado a partir de agora. Em algum momento, acredito que outras empresas vão passar a oferecer o mesmo conceito que o nosso.”