Economia

Guedes apresenta as ideias para soltar as amarras da economia

Em discurso contundente, ministro critica 'piratas privados' e 'burocratas corruptos', diz que excesso de despesas travou o crescimento do país, promete simplificar impostos e defende a reforma do Estado para estimular o setor produtivo

Hamilton Ferrari, Rosana Hessel
postado em 03/01/2019 06:00
Novo comandante da equipe econômica anunciou uma 'enxurrada' de medidas nos próximos 30 dias
Após muita expectativa, Paulo Guedes, o ;guru; do presidente Jair Bolsonaro, finalmente discursou como ministro da Economia do novo governo. Ele defendeu a reforma do Estado e fez duras críticas ao excesso de gastos do passado e à apropriação da máquina pública por autoridades. O chefe da área econômica classificou como ;piratas privados;, ;burocratas corruptos; e ;criaturas do pântano; os políticos que se aproveitaram de bancos públicos para obter benefícios. Ressaltou que a classe política, que tomava as decisões até agora, permitiu que o Brasil fosse ;corrompido; pelo excesso de despesas, o que resultou na interrupção do crescimento da atividade econômica. Enfatizou que a reforma da Previdência será o item prioritário da gestão que assumiu para corrigir as distorções e defendeu, com veemência, a manutenção do teto de gastos.

Guedes adiantou que os primeiros atos de ajuste ; que não precisarão passar pelo Congresso ; começam a ser divulgados a partir de amanhã pelo secretário de Previdência e Trabalho da Economia, Rogério Marinho. O governo vai editar uma medida provisória (MP) para combater fraudes e concessões indevidas de recursos. A MP fará parte de uma ;enxurrada; de ações que serão adotadas nos próximos 30 dias e que não alteram a Constituição.

O projeto de mudanças nas aposentadorias está sendo revisto e será apresentado apenas em fevereiro, quando começa a nova Legislatura do Congresso. Ao defender a reforma previdenciária, o novo ministro afirmou que o sistema atual é uma ;fábrica de desigualdades;. ;Quem legisla e julga tem as maiores aposentadorias e a população, as menores;, disse, sendo bastante aplaudido pela plateia.

Bombas


Em referência à criação da carteira de trabalho verde-amarela, o ministro afirmou que Bolsonaro ;vai inovar e abandonar a legislação fascista; da CLT. Ele defendeu a separação dos benefícios assistenciais da conta da Previdência, acrescentando que o sistema atual, de repartição, ;traz várias bombas, bomba demográfica, bomba do financiamento;;.

Guedes disse, porém, que não será um ;superministro;, como tem sido apresentado. ;Não existe superministro, não existe alguém que vai consertar os problemas do país sozinho, os Três Poderes terão que se envolver;, ressaltou. Ele cuidará dos antigos ministérios da Fazenda, do Planejamento, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) e de parte da pasta do Trabalho.

O responsável pela nova cara da política econômica do país solicitou ajuda aos parlamentares para avançar com as reformas. Guedes disse que, se a reforma da Previdência for aprovada, o país terá 10 anos de crescimento sustentável pela frente, com maior expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e investimentos. Mas, sem essa medida, alertou, o governo precisará trabalhar com uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para flexibilizar o uso das verbas federais, permitindo a desvinculação e a desindexação de despesas obrigatórias, ;que engessam 93% do Orçamento;.

Cortes


Na avaliação do ministro, o controle de despesas não precisa ser feito mediante cortes drásticos, bastando evitar que elas cresçam no ritmo atual. O teto de gastos, segundo ele, é fundamental, mas são necessárias reformas para sustentá-lo. ;O teto, sem parede de sustentação, cai. Temos que aprofundar as reformas, que são as paredes;, comparou.

Guedes defendeu menor intervenção do Estado na economia. Para ele, não há dúvida de que temos uma ;democracia resiliente;, que vem sendo testada nos últimos 30 anos, e que agora passa por uma nova era de revezamento do poder, assumido por ;conservadores nos costumes e liberais na economia;.

Segundo o ministro, privatização e a simplificação de tributos serão ;pilares; da nova gestão. Ele ressaltou o perfil técnico da equipe, que vai recolocar o país nos trilhos do crescimento sustentável. O grande número de áreas que ficarão sob a responsabilidade do ministério não será empecilho. ;É só para todo mundo cantar na mesma música. E os Chicago Oldies conhecem bem essa canção;, disse Guedes, em alusão à equipe montada com base na Universidade de Chicago, que é o berço do neoliberalismo.

Além de aplausos, o discurso de 49 minutos de Guedes recebeu elogios dos presentes, que ficaram entusiasmados. O economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco elogiou a nova equipe. ;A expectativa é muito positiva. Parece desenhar um novo paradigma de política econômica;, avaliou. ;Foi ótimo;, disseram o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, e o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal.

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