Rosana Hessel, Gabriela Vinhal
postado em 08/01/2019 06:00
Alinhados com a orientação liberal do novo governo, os bancos públicos pautarão suas operações com foco no mercado e orientados para a competição. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, deve aumentar os juros dos financiamentos imobiliários para a classe média e vender ativos. O Banco do Brasil pretende se desfazer de subsidiárias que não estão no ;core business; da instituição e quer ser mais agressivo no varejo. E o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) busca se diversificar e se aproximar mais de pequenas e médias empresas, deixando de ser o grande financiador dos ;campeões nacionais;, como ocorreu na era petista.
Esses foram alguns objetivos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os novos presidentes do Banco do Brasil, Rubem Novaes; da Caixa, Pedro Guimarães; e do BNDES, Joaquim Levy, sinalizaram ontem nas cerimônias de posse e de transmissão de cargos, no Palácio do Planalto, primeiramente, e nas sedes das instituições, em seguida. Os novos dirigentes deixaram claro que vão trabalhar para buscar maior retorno aos acionistas. Embora controlado pelo governo, o BB tem ações no mercado. Caixa e BNDES são integralmente de propriedade da União.
O novo presidente da Caixa afirmou que a captação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da poupança, para o financiamento imobiliário, atingiu o limite. Portanto, para expandir o crédito habitacional, será preciso captar recursos no mercado. Guimarães garantiu que os juros do programa Minha Casa, Minha Vida não mudam, mas disse que a classe média terá de pagar mais pelos financiamentos ou buscar alternativas em bancos privados. ;Vamos respeitar, acima de tudo, a lei de mercado;, disse.
Desestatização
Guimarães acredita que a Caixa poderá ampliar a oferta de crédito mediante a securitização e a venda no mercado de R$ 20 bilhões a R$ 100 bilhões de créditos a receber. Ele também sinalizou a privatização de ativos, sem dar detalhes. E reconheceu que a instituição retomou cerca de 60 mil imóveis por falta de pagamento no MCMV. ;Isso tem que ser resolvido. Você vai ter que ter uma metodologia de venda de mil imóveis, dois mil imóveis, três mil imóveis ao longo do ano. A maior parte dessas unidades são do Minha Casa, Minha Vida, nas faixas 1 e 2;, disse.
Durante a cerimônia no Planalto, Guedes criticou o uso político dos bancos oficiais pelos governos anteriores e defendeu a desestatização do crédito, como forma de reduzir distorções no mercado. Ele voltou a classificar os dilapidadores do patrimônio público de ;criaturas do pântano político, piratas privados e burocratas corruptos;. ;O mercado de crédito está estatizado. Quando o BNDES recebe aportes para fazer projetos econômicos estranhos, para ajudar os mais fortes, nós, liberais, não gostamos e achamos que isso é transferência de recursos;, afirmou o ministro.
Caixas-pretas
O ministro também defendeu maior transparência nos empréstimos das instituições financeiras públicas. ;A Caixa foi alvo de saques, fraudes, assaltos ao dinheiro público. Isso ficará óbvio mais à frente, à medida que as caixas-pretas forem abertas;, completou. Antes da cerimônia de posse pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter que as caixas-pretas de diversos órgãos começaram a ser abertas e que ;muitos contratos foram desfeitos e serão expostos;.
Em seu discurso, Joaquim Levy garantiu que o BNDES vai combater o patrimonialismo e reforçou a estratégia do banco de diversificar as operações. ;Estamos na antessala de um novo ciclo de investimentos em uma economia que será mais aberta, mais vibrante, com mais espaço para o setor privado e para o mercado de capitais. O papel do BNDES é o de contribuir nesse ambiente, desenvolvendo novas ferramentas, novas formas de trabalhar, em parceria com o mercado;, disse. O novo presidente do banco de fomento disse ainda que sua gestão vai continuar ajustando o balanço da instituição, reduzindo a proporção de recursos do Tesouro Nacional, ;para que se tenha adequado retorno do capital, que é de cada um da população;.
À tarde, Novaes explicou que, ao defender a desestatização do crédito, o governo não tem intenção de reduzir os empréstimos rurais do BB. ;O ministro falou de uma maneira geral, para aumentar a competição. Não tem nenhum recado direto ao BB. É possível aumentar a competição com acréscimo de competidores e não necessariamente pela redução do papel do Banco do Brasil, porque não está em cogitação;, afirmou.
Poupança capta R$ 38 bi
A caderneta de poupança encerrou o ano de 2018 com captação líquida (diferença entre saques e depósitos) de R$ 38,3 bilhões, informou o Banco Central. O saldo é o maior desde 2013, período anterior à recessão, quando os brasileiros haviam aplicado R$ 71 bilhões líquidos na poupança. A captação positiva no ano passado reflete, em grande parte, a retomada da economia. Embora os dados de atividade de 2018 ainda não tenham sido fechados, a expectativa do mercado é de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha subido 1,3%. Nesse ambiente, as famílias tiveram mais espaço no orçamento para guardar dinheiro.