Gabriel Ponte*
postado em 09/01/2019 06:00
A declaração de Pedro Guimarães, novo presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), de que as taxas de juros do crédito habitacional do banco público para a classe média seriam as de mercado pouco deve mudar os financiamentos para quem busca a casa própria. Dados do Banco Central (BC) mostram que a Caixa já cobrava taxas compatíveis com o sistema. Em novembro do ano passado, a instituição financeira trabalhava com o maior juros de empréstimos imobiliários para pessoas físicas, quando comparado a outros bancos privados e públicos: 11,54% ao ano.
De acordo com a autoridade monetária, no mesmo mês, o ItaúUnibanco, praticava o menor percentual ao ano: 8,66%. O Bradesco cobrava 9,34% ao ano; o Santander, 9,38%; o Banco do Brasil (BB), 9,86%; e a Ape Poupex, com índices anuais de 11,41%. De acordo com a Caixa, os números estão defasados e os juros aplicados à linha de crédito de Carta de Crédito SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) acima de R$ 1,5 milhão, atualmente, variam entre 9,5% e 11%.
Segundo Guimarães, no dia de sua posse no banco, ;quem é classe média tem de pagar mais na Caixa ou vai buscar no Santander, Bradesco, Itaú. A Caixa vai respeitar os juros de mercado;. O percentual para quem ganha mais é bastante superior às taxas aplicadas ao programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), que tem os juros subsidiados pelo governo federal.
Baixa renda
No caso do MCMV, a faixa 1, com renda familiar de até R$ 2,6 mil mensais, as taxas cobradas variam de 4,59% a 5,11% ao ano. Já as faixas 2 e 3, as quais abarcam renda superior de até R$ 7 mil mensais, os juros estão entre 5,11% e 8,47% ao ano, inferiores aos aplicados à classe média nas demais linhas de crédito. Outro banco público, o BB também oferece linhas do MCMV a taxas iniciais de 5,16% aplicado a imóveis com valor de até R$ 300 mil para famílias com renda máxima de R$ 9 mil.
Ontem, Guimarães negou que a classe média teria de arcar com o aumento de juros para financiamento imobiliário. De acordo com o presidente da Caixa, os juros aplicados para a classe média são, naturalmente, maiores que os do MCMV, os quais são subsidiados e destinados a classes mais baixas da população. ;O menor juros que existe no Brasil para crédito imobiliário é o do Minha Casa Minha Vida. Você querer comparar Minha Casa Minha Vida com crédito imobiliário para classe média não é correto matematicamente. É óbvio que juros para classe média é maior;, explicou.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, de acordo com dados do BC, deve-se enfatizar a diferença entre as taxas reguladas (crédito imobiliário para o programa habitacional MCMV, por exemplo) e as de mercado. ;Existe uma diferença entre as duas, mas a comunicação da Caixa foi no sentido de diminuir a diferença praticada por eles dentro do mercado;, declarou. De acordo com ele, atualmente, a taxa regulada é de 7,84% ao ano, enquanto que, a de mercado, é de 9,52%.
Distorções
Em relação à declaração de Novaes, para Perfeito, o governo está, novamente, reafirmando a intenção em diminuir as distorções do mercado. ;Faz parte da orientação da nova equipe tirar distorções outrora aplicadas. Quando se fala em aplicar a taxa de mercado, precisamos aguardar por mais informações, até pela importância do crédito imobiliário, com peso no PIB (Produto Interno Bruto), uma área de fundamento principal;, completou.
Dados da Autoridade Monetária mostram que os juros médios de mercado para financiamento imobiliário tiveram queda de 2,4 p.p, saindo de 11,9%, em outubro de 2017, para 9,5% em outubro de 2018. Já segundo a Associação Brasileira de Crédito Imobiliário (ABECIP), a Caixa Econômica perdeu a liderança no crédito imobiliário a partir de recursos da poupança, entre os meses de janeiro e novembro de 2018, para o Bradesco. Também em 2018, a Caixa reduziu as taxas de juros para crédito imobiliário no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e também para o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), os quais constituem o sistema não subsidiado.
* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira