Economia

Desaceleração da economia global torna Brasil mais atraente para investidor

Orientação liberal do novo governo, programa de privatizações e perspectivas de crescimento colocam o país em destaque frente a outras nações emergentes, segundo analistas

Gabriel Ponte*
postado em 14/01/2019 06:00
Política econômica prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, deixa o mercado otimista, mas é preciso realizar ajuste fiscal A expectativa de desaceleração da economia mundial em 2019 tem feito investidores internacionais voltarem os olhos para países que ofereçam boas condições para a aplicação de recursos. Nesse quadro, o Brasil, entre os países emergentes, ganha destaque. A orientação liberal da equipe econômica do novo governo é bem-vista pelo mercado, e muitos países que poderiam disputar espaço com a economia brasileira pelo direcionamento de recursos globais estão em situação menos favorável. O México, por exemplo, também acaba de empossar um novo presidente. López Obrador, porém, é ideologicamente de esquerda, o que provoca receio entre grandes bancos e empresas.

O foco em mercados emergentes não é à toa. Em dezembro passado, analistas passaram a cogitar até mesmo a possibilidade de os Estados Unidos entrarem em recessão neste ano. A preocupação parece exagerada, tendo em vista os últimos dados da maior economia global ; em dezembro, foram criadas 312 mil novas vagas de trabalho, bem acima das expectativas, o que fez a taxa de desemprego recuar para 3,9%. De qualquer modo, a guerra comercial iniciada por Donald Trump contra a China começa a afetar estruturas produtivas do país, aumentando a sensação de incerteza, num momento em que o embate do presidente com a oposição em torno do orçamento provoca a paralisação de diversos órgãos governamentais.

A cautela com o desempenho econômico norte-americano contagiou o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Divulgada na semana passada, a ata da última reunião do órgão destacou que a evolução da política monetária do país andará de lado com a atividade econômica. Dessa forma, o Fed, que anunciou quatro aumentos de juros no país em 2018, deverá ser mais ponderado neste ano, de forma a não prejudicar uma tendência de crescimento que deve, naturalmente, sofrer alguma desaceleração.

Opções

Com o receio acerca dos EUA, os emergentes tornam-se opções para alocação de recursos. Antecipando-se a essa tendência, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), acumulou valorização de 15,03% em 2018, enquanto a Bolsa Mexicana de Valores (BMV), no mesmo período, teve perda de 13,3%.

Países como Argentina, Turquia, África do Sul, Índia e Malásia também disputam a atenção dos investidores globais. Porém, de acordo com o economista César Bergo, a conjuntura doméstica é mais favorável. ;Eu não me surpreenderia se, em uma próxima reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) optasse por reduzir a taxa Selic. Assim, em um ano de inflação sem reação e juros baixos, o mercado de renda variável desponta como promessa;, afirma.

Bergo ainda destaca as recentes baixas das bolsas norte-americanas. Os índices Dow Jones, do setor industrial, Nasdaq, de tecnologia, e S, que abarca as maiores empresas, tiveram um ano difícil em 2018, puxado, principalmente, pela previsão de redução da demanda global. ;Os EUA estão, ultimamente, à sombra da recessão, ou seja, o volume de recursos que busca uma alternativa vai aumentando para outros mercados, com o Brasil na rota;, disse. ;Nosso país ainda tem muita capacidade ociosa. Passamos por quase três anos de recessão, ou seja, a indústria está ávida por produzir, o que pode não ocorrer em outros países;, completa Bergo.

Fernanda Consorte, estrategista de Câmbio do Banco Ourinvest, pondera que, apesar de o Ibovespa ter alcançado nova marca de fechamento na semana passada, com 93.658 pontos, o otimismo do investidor local é que tem movido a bolsa. ;Os fluxos financeiros captados pelo BC e pela B3 mostram o investidor estrangeiro saindo do Brasil, ou seja, o bom humor está sendo feito pelos locais;, explica. Segundo Fernanda, a volta do estrangeiro depende da execução das reformas anunciadas pelo governo.

Os dados do mercado de câmbio sustentam a análise da economista. Em que pese a recuperação mostrada nas últimas semanas, o real se desvalorizou 14,66% frente ao dólar norte-americano em 2018. Foi a terceira maior perda entre as moedas emergentes, atrás apenas da lira turca (28,25%) e do peso argentino (50,57%). Já o México viu o peso mexicano avançar 0,11% frente ao dólar.

Condições favoráveis

Para Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, o país desponta como fonte de investimento para quem opera no mercado em virtude da orientação econômica do governo Bolsonaro. ;O Brasil elegeu um governo de linha liberal, que é amigável ao investimento. Isso é um fator muito importante. Já do ponto de vista político, é um país pacificado. Claro que há divergências naturais, mas são canalizadas de maneira pacífica;, analisa.

Freitas pondera que, apesar de as condições já não serem tão favoráveis como as dos anos 2000, as perspectivas internacionais ainda são positivas. ;O mundo não está adverso. Naturalmente, os Estados Unidos podem contrair um pouco, assim como a China crescer 6,5%, e não 12%, como outrora. Aliam-se a isso os movimentos protecionistas do presidente Trump, mas a economia brasileira está pronta para decolar, com juros baixos e inflação controlada, porém, com a necessidade da correção do deficit público e da redução do desemprego;, afirma

Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, diz que o Brasil representa a melhor oportunidade de investimentos neste primeiro semestre entre os emergentes, mas a Índia é forte competidora pela captação de recursos. ;A Índia apresentou, nos últimos anos, forte crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Muitos investidores chegam a chamar a região de ;Chíndia;, em alusão ao país de Xi Jinping;, e esperam que a economia indiana, que cresceu 6,7% em 2017, tenha avanço comparável ao da China na década de 2000, observa.

Potencial

Para Spyer, o desempenho da bolsa mexicana está atrelado à evolução da economia norte-americana. ;O México pode voltar a atrair recursos, mas dependerá, principalmente, dos EUA, e a expectativa é de que o PIB norte-americano desacelere. Eu não me preocupo muito com os EUA. Na minha cabeça, fazendo os ajustes nas contas públicas, o Brasil tem maior potencial para atrair investimentos;, compara.

Além disso, Spyer vê no Brasil um potencial de privatizações de empresas públicas que não existe em outros países emergentes. ;Economias como Argentina, Turquia, África do Sul, mesmo a Índia, não possuem um programa de privatização forte e não têm capacidade de atrair recursos como nós. O Brasil é a melhor oportunidade de investimentos para emergentes em 2019;, destaca.

Freitas, ex-diretor do BC, destaca a semelhança das economias mexicana e brasileira. ;O México tem algumas condições semelhantes, e outras diferentes. Aqui, na América do Sul, o Chile também tem um caminho bom e equilibrado, mas é uma economia pequena quando comparada à nossa. No continente africano, a África do Sul não anda muito bem no momento, nem a Turquia, no continente europeu;, diz.

*Estagiário sob supervisão de ODail Figueiredo

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