Economia

MRV e Vitacon criam startup e partem para mercado de locação de imóveis

As construtoras MRV e Vitacon partem para um novo mercado, o de locação, com objetivo de atender aqueles clientes que não têm condições ou não querem comprar um imóvel

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 17/01/2019 06:00

O Luggo Cipreste, no Bairro Betânia, em Belo Horizonte, foi projetado e construído para ter unidades destinadas à locação

São Paulo ; Parecem mercados concorrentes, mas não é no que acreditam MRV, maior construtora do país, e a paulista Vitacon, especializada em microapartamentos. As duas empresas estão investindo em um segmento de aluguel de imóveis.

A MRV criou uma startup, a Luggo, apenas para atuar no setor de aluguel. O projeto-piloto foi lançado no fim do ano passado, em Belo Horizonte, assim que o empreendimento Luggo Cipreste, no Bairro Betânia, foi finalizado. Os apartamentos começaram a ser oferecidos ao mercado neste mês. A obra é da construtora mineira. Só que, em vez de vender os apartamentos, de dois dormitórios, a empresa os oferece a quem procura um imóvel para locação.

O objetivo é atender quem não tem interesse ou condições de comprar um imóvel, seja por falta de recursos, seja pelo momento que vive ; que pode demandar mobilidade, por exemplo, por causa da carreira. Rodrigo Resende, diretor de marketing e vendas da MRV, explica que o Luggo Cipreste, voltado à classe C, é um primeiro teste para a companhia e que ainda não é possível afirmar se serão lançados outros empreendimentos ainda neste ano com a vocação para o mercado de aluguel.

Neste primeiro empreendimento, os apartamentos receberam acabamentos como armários planejados, luminárias, pisos, box blindex e metais. A estrutura do condomínio é a mesma de um edifício tradicional, com academia, playground, churrasqueira e salão de festas. Mas pode ser que sejam feitas adaptações com a inclusão de mais opções, com alguns serviços de uso coletivo, como lavanderia.

Rodrigo Resende, diretor de vendas da MRV, diz que startup ofertou imóveis este mês


Como a proposta da startup da MRV ainda é recente, explica Resende, está aberta a mudanças. À medida que o projeto avançar, poderá ser oferecida, por exemplo, a possibilidade de compra para quem fez o contrato de aluguel, com algumas facilidades na negociação que levem em consideração o valor já pago durante o período de locação. ;Queremos oferecer uma alternativa sem burocracia, em que o cliente não precise apresentar fiador, com investimento em tecnologia para que haja qualidade nesse processo;, afirma o diretor.

Modelo americano

O modelo da Luggo foi inspirado em uma outra empresa de Rubens Menin, fundador e controlador da MRV. A ARS, que opera em Miami, criada em 2012, atua apenas no segmento de construção voltada ao aluguel de imóveis e gestão de condomínios. A venda é feita apenas para fundos imobiliários interessados no projeto como investimento patrimonial. Mesmo nesse caso, a operação continua a ser feita pela ARS, que se dedica principalmente no segmento de moradias para trabalhadores.

Esse tipo de empresa já tem um bom mercado nos Estados Unidos, explica o executivo da MRV, mas ainda é muito recente no Brasil. Conforme esse tipo de negócio amadurecer, pode ganhar por aqui características semelhantes às de outros tipos de ativos voltados aos fundos imobiliários, como flats e shoppings. Durante a formatação da Luggo, executivos da ARS participaram do processo, repassando o know-how do empreendimento americano.

Segundo Resende, não há conflito entre o que oferece a MRV e a proposta da Luggo. Isso porque o cliente da MRV procura a empresa já com a certeza de que quer comprar um imóvel. ;Ele já sabe a região onde quer morar e normalmente está em uma fase da vida um pouco mais previsível.;

Plataforma de locação

O negócio criado por Alexandre Lafer Frankel, presidente da Vitacon, guarda algumas semelhanças com a proposta da Luggo, mas está em um estágio mais avançado. Criada há nove anos, a construtora se especializou no mercado paulistano e no segmento de apartamentos de pequena metragem ; o menor deles tem 10 metros quadrados. Até hoje, foram lançados 61 projetos e 52 já foram entregues.

Alexandre Lafer Frankel


Frankel percebeu nos últimos anos que começava a crescer um outro perfil de cliente, que em vez da compra, buscava pela locação de imóveis. A partir daí, ele criou a startup Housi, voltada à oferta de apartamentos para alugar. Até agora, a plataforma oferece apenas os projetos construídos pela Vitacon. São edifícios projetados para oferecer um pacote de serviços aos moradores, como restaurante e lavanderia coletivos, até espaço de coworking.

A administração do condomínio também é feita pela Housi. Foram incluídos ainda alguns serviços com o objetivo de atender ao novo perfil de morador, com portaria automatizada, sistema de segurança e até logística para a mudança. Segundo Frankel, a proposta é ;reduzir os pontos de atrito para que os moradores não percam tempo e possam se dedicar aos seus afazeres, tudo baseado em muita tecnologia;. ;Já nascemos no conceito de economia compartilhada. Nossos empreendimentos sempre tiveram opções de uso comum, como sala de jantar, carros e patinetes;, acrescenta o presidente da Vitacon.

Assim como a Luggo, a ideia é fazer o processo de locação desburocratizado, todo pelo site da empresa. Mas esses apartamentos da construtora de Frankel também são oferecidos em outras plataformas, como Airbnb, Booking e Hoteis.com para períodos mais curtos de aluguel.

O empresário sonha alto. Ele quer que a Housi seja a Netflix do mercado imobiliário como uma grande plataforma digital desse setor. Para isso, além de trabalhar com a possibilidade de incluir imóveis que não sejam da Vitacon, o empreendedor vai partir para outras cidades este ano, abrindo o sistema para outros imóveis. O objetivo em uma primeira etapa é chegar até as maiores capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, para depois partir para cidades de grande porte.

Tendência

;Acredito muito no modelo de locação. A tendência é cada vez maior de as pessoas não comprarem, mas alugarem imóveis, inclusive entre as pessoas de menor renda, que sempre tiveram a aspiração de ter a casa própria. Esse comportamento tem mudado com o passar do tempo. Mas isso não quer dizer que o desejo de adquirir um imóvel acabou. Os dois modelos terão espaço;, opina o presidente da Vitacon.

Frankel vem tocando o projeto da Housi com capital próprio, mas não descarta a aproximação com fundos de venture capital para irrigar financeiramente e dar mais velocidade ao crescimento da startup. Apesar do perfil do negócio, o fundador não pensa em vendê-lo para um fundo. Para ele, o potencial de expansão ainda é muito grande e deve ser aproveitado.

Quando analisa o potencial do negócio desenvolvido pela Housi, Frankel leva em consideração o comportamento atual, mas também o comportamento futuro dos seus clientes. ;Como será a moradia do futuro? Será que as pessoas vão querer passar 30 anos endividadas, pagando por um imóvel? Ou será que vão preferir buscar algo que atenda melhor a sua necessidade em diferentes fases da vida?;

"A tendência é cada vez maior de as pessoas não comprarem, mas alugarem imóveis, inclusive entre as pessoas de menor renda, que sempre tiveram a aspiração de ter a casa própria;

Alexandre Lafer Frankel, presidente da Vitacon

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