Agência Estado
postado em 21/01/2019 13:30
A Bolsa furou a barreira dos 96 mil pontos, acumulando alta de quase 10% nos primeiros 13 pregões do ano. Embora a alta esteja calcada na expectativa positiva dos investidores em relação à agenda liberal do novo governo, especialistas apontam que a perspectiva de melhora nos resultados das empresas em 2019, diante do maior crescimento em um ambiente de inflação controlada e Selic baixa, também sustenta o avanço.
Do ponto de vista corporativo, o Itaú BBA revisou para cima seus prognósticos para o lucro das companhias de capital aberto neste ano: de um avanço de 29%, previsto em dezembro passado, para 38%, agora em janeiro. A temporada de balanços começa no fim deste mês.
De acordo com Luiz Cherman, estrategista de renda variável para o Brasil da instituição, um ponto importante é que essa mudança para um cenário mais favorável ocorreu sem uma revisão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que se mantém em 2,5% para este ano.
"Essa revisão significativa da espera por lucros maiores mostra que há fundamento para a alta da Bolsa", diz Cherman, ressaltando também que a razão entre preço e lucro (P/L) de 11,8% está na média histórica. Thiago Souza, gestor de recursos da Mapfre Investimentos, complementa que um P/L entre 11% a 12% é relativamente barato, ficando caro acima de 15%.
"Não é só o investidor fazendo uma aposta. As empresas estão mais positivas e isso dá mais solidez ao movimento de alta do mercado de ações", afirma Cherman.
No entanto, ele ressalta que a revisão para cima dos resultados corporativos também considera a aprovação da reforma da Previdência. Isso porque, diz o estrategista, com as contas fiscais equilibradas, os juros básicos poderão seguir baixos e isso permitirá maior crescimento econômico e, evidentemente, refletirá na melhora dos resultados das empresas. Já em caso de falha na aprovação das novas regras de aposentadoria, não haverá caminho para conjuntura favorável.
Papéis
Entre as ações que apresentaram bons desempenhos nos primeiros dias de 2019, mas que também têm boas perspectivas, Especialista em ações da Levante Ideias de Investimento, Eduardo Guimarães cita as de estatais. Os novos presidentes da Petrobras e do Banco do Brasil, por exemplo, têm discursos favoráveis ao mercado. "As ações vão subir até mais que o índice. Os lucros vão melhorar, especialmente da Petrobras", aposta.
Em relação à Eletrobras, ele afirma que a continuidade de Wilson Ferreira Jr. à frente da empresa reforça as expectativas positivas, inclusive de uma possível privatização. "Nesse sentido, até mesmo as estatais estaduais estão em bom momento, principalmente Sabesp e Cemig, com as sinalizações dadas pelos respectivos governos (locais)", diz Guimarães. O analista ressalta que as estatais federais e estaduais listadas no Ibovespa representam 20% do índice.
Segundo Tatiane Cruz, da Coinvalores, papéis de bancos e do varejo refletem a expectativa de maior crescimento da economia, do crédito e a redução da inadimplência. Assim como o Itaú BBA, a gestora também considera crescimento do PIB em torno de 2,5% este ano.
Ela diz que atualmente há empresas com preços ainda muito atrativos e com grande potencial de crescimento. Entre os ativos com espaço para subir, ela cita a mineradora Vale, que tem apresentado forte geração de caixa e tem boa perspectiva de distribuição de dividendos este ano. Destaca ainda Suzano, Estácio, Kroton, CCR, EcoRodovias e Rumo como boas alternativas para os investidores, por conta do preço atual dos ativos e da perspectiva de melhora no ambiente macroeconômico.
Guimarães coloca, entre as ações que merecem um pouco mais de cautela por parte dos investidores, a Cielo, que tem apresentado bom desempenho neste começo de ano por conta da forte queda de 2018, mas que ainda tem um cenário complicado devido à competição no setor. A área de educação, por ser ainda muito dependente do governo e ter um ciclo mais longo, também desperta um pouco mais de cuidado, segundo o analista.
Riscos
Apesar dos bons indicativos, há riscos nessa trajetória, até o final do ano, que não são vistos no momento. Gestores alertam para a instabilidade da cena internacional, com as dúvidas sobre o ritmo de desaquecimento global e tensões comerciais entre grandes potências que respingam nos emergentes. Uma desaceleração da China, por exemplo, reduz o preço de commodities e afeta as empresas na Bolsa brasileira.
Segundo Cherman, do Itaú BBA, enquanto por aqui a situação da política monetária para o investidor local é confortável, no exterior, a situação é mais complexa. "Isso tem condicionado a cautela do investidor estrangeiro." Para o estrategista, o risco de não passar a reforma da Previdência aqui é menor do que o de desaceleração global.
Souza, da Mapfre Investimentos, afirma que alguma frustração pode vir caso as empresas não entreguem os resultados estimados e se as reformas não forem aprovadas na profundidade que o mercado espera, ou seja, de uma economia estimada entre R$ 500 bilhões e R$ 1 trilhão nos próximos anos. "Uma frustração certamente trará uma correção para a Bolsa, mas tudo depende do tamanho da frustração." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.