Economia

Tarifa branca garante desconto de até 13% na conta de luz no DF

Para quem consome acima de 250 kWh por mês, o equivalente a R$ 140 ou mais, a nova opção, disponível desde 1º de janeiro, é viável. Mas é preciso ficar atento aos horários de pico

Simone Kafruni
postado em 23/01/2019 06:00
Sócia da Lavanderia Texas, Anísia Cardoso da Silva já desliga equipamentos cedo para economizar
Desde que a conta de energia elétrica começou a pesar demais nas despesas da Lavanderia Texas, os donos do negócio, o casal Galavardino Souza, de 68 anos, e Anísia Cardoso da Silva, 58, adotaram o hábito de desligar mais cedo as máquinas de lavar e os ferros de passar roupa. Agora, a medida de economia poderá, também, garantir um bom desconto na fatura no fim do mês. Desde 1; de janeiro de 2019, a opção pela tarifa branca está disponível para quem consome mais de 250 quilowatts/hora (KWh) por mês, equivalente a um valor de R$ 140, caso da lavanderia da família Souza.

A tarifa branca sinaliza aos consumidores a variação do valor da energia conforme o dia e o horário do consumo. Assim, ao adotar a tarifação diferenciada, o consumidor do Distrito Federal vai pagar 13% menos do que o valor convencional na maior parte do dia e durante os finais de semana e feriados. Mas é preciso muita atenção, porque, assim como dá desconto em determinadas horas, eleva em 74% a tarifa no chamado horário de ponta, das 18h às 21h, e em 14% nos momentos intermediários, das 17h às 18h e das 21h às 22h. Esses índices são relativos ao Distrito Federal, abastecido pela Companhia Energética de Brasília (CEB), pois variam conforme a distribuidora.
Galavardino Souza, dono da Lavanderia Texas, vai aderir à opção para ganhar desconto
Com a lavanderia há 8 anos, Souza conta que o custo da energia disparou. ;É o maior gasto do negócio. Pagamos entre R$ 400 e R$ 600 por mês, dependendo da bandeira tarifária;, diz ele. Para aliviar o bolso, a esposa Anísia determinou o desligamento dos equipamentos que mais consomem eletricidade mais cedo. ;Não passa das 18h;, afirma ela. Para este tipo de consumidor, a tarifa branca será muito vantajosa.
Para Ligia Kelly Alves Lima, proprietária do Salão de Beleza Alessandro Maciel, não é viável trocar a tarifação
Mas não é assim para todos. Para a proprietária do salão de beleza Alessandro Maciel, Ligia Kelly Alves Lima, 34, a opção não é um bom negócio. Como consumiu 436 kWh no mês passado, pagando uma conta de R$ 341, é elegível para tarifa branca, mas não vai aderir, porque o movimento do negócio é grande no fim do dia. ;Temos clientes até mais de 21h. O ar condicionado e os secadores ficam ligados direto;, afirma.

O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, explica que a tarifa energia elétrica está elevada e há necessidade de um esforço conjunto, para aprimorar os mecanismos regulatórios no sentido de reduzir o custo. ;A tarifa branca pretende, ao deslocar o horário do pico, dar maior segurança ao sistema elétrico, que na ponta fica mais sobrecarregado, Assim, as distribuidoras dão o desconto, mas não precisarão reforçar o sistema para garantir o pico e podem investir em outros pontos no sistema;, destaca.

Feitosa ressalta, contudo, que, para valer a pena, é preciso deslocar a maior parte do consumo para fora do horário de ponta. ;O importante nesta inovação que busca reduzir a tarifa é tomar a decisão após ter feito uma análise do perfil de consumo durante um período longo. Não é aconselhável aderir baseado na conta de um mês. Há períodos em que a temperatura baixa bastante, a refrigeração não é usada muito, no entanto, na seca há uso maior de ar condicionado;, alerta.

A opção já estava disponível no ano passado para unidades com consumo acima de 500 kWh. Mas a adesão foi baixa. Dos 3,5 milhões elegíveis, apenas 3 mil consumidores no Brasil, sendo 43 em Brasília, adotaram, 0,1% do total. No ano que vem, todos os brasileiros poderão trocar. No atual patamar, de 250 kWh, 15 milhões de unidades estão aptas a aderir. ;Mais vantajoso para o poder público, comércios e pequenas indústrias, por isso esperamos uma adesão maior;, estima.

Mudança de hábito

O escalonamento, segundo Feitosa, foi feito para dar um tempo para as distribuidoras se prepararem e também para acomodar a mudança de hábito do consumidor. ;São alterações na rotina, como deixar para passar roupa no horário fora da curva. Usar a máquina de lavar no fim de semana. Tomar banho mais cedo ou mais tarde;, elenca.

Pela regulamentação da Aneel, uma vez que o consumidor entre em contato com a distribuidora para migrar para tarifa branca, a concessionária terá 30 dias para fazer a instalação do medidor eletrônico, sem custo adicional. ;Caso se arrependa, terá mais 30 dias para retirar o medidor e voltar à tarifa convencional;, explica. Uma nova adesão, no entanto, só pode ser realizada em seis meses.
Funcionário da Pet Shop Patas e Mimos, Francisco Tiago de Souza Silva usa o soprador que gasta energia
A possibilidade de reduzir a conta da pet shop Patas e Mimos interessou o proprietário João Carlos de Oliveira Valgueredo, 36. Ele tem três unidades consumidoras distintas em espaços próximos na mesma quadra: a loja, o consultório e a estética dos animais, essa com o maior consumo. ;São quatro sopradores ao mesmo tempo, secadores, e o ar condicionado de 24 mil BTUs, porque os equipamentos esquentam o ambiente;, conta. A fatura bate a casa dos R$ 1 mil. ;Mas é justamente a estética que fechamos mais cedo. A tarifa branca pode funcionar;, diz.
José Geraldo da Silva, dono da Padaria Pão Minas, não será beneficiado pela tarifa branca
O dono da padaria Pão Minas, José Geraldo da Silva, 68, lamenta não poder aproveitar o desconto, porque gasta R$ 4,5 mil por mês com eletricidade. ;Trabalho à base de energia, mas eu não posso escolher o horário que o cliente vai frequentar meu estabelecimento. Além disso, tenho equipamentos que ficam ligados 24h por dia;, afirma, mostrando as geladeiras e freezers.

Pode faltar medidor eletrônico, diz Abradee

Se todos os 15 milhões de consumidores elegíveis aderirem à tarifa branca, é possível que faltem medidores eletrônicos no mercado ou que o custo com os aparelhos provoquem o aumento da conta de energia convencional. O alerta é do diretor da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marco Delgado. Isso, explica ele, porque o medidor eletrônico é mais caro do que o simples e gera um custo operacional para as empresas.

;O investimento na operação é repassado no cálculo da tarifa convencional, que é rachada entre todos;, afirma. Segundo Delgado, a expectativa da Aneel é que a melhor utilização de energia postergaria a necessidade de expandir o sistema. ;O sinal o que vai trazer de economia para postergação de investimentos na rede elétrica não compensa o custo adicional nos medidores. Se muita gente fizer o pedido, pode até faltar medidor no mercado. Não tem fornecedor para 14 milhões de aparelhos novos;, assinala.

O diretor da Abradee destaca que as relações de preços e descontos variam entre as distribuidoras, porque são condições distintas de mercado. ;Em 2018, 3,5 milhões poderiam fazer a troca e só 1,5 mil converteram e outros 1,5 mil optaram, mas eram novos consumidores;, diz. Delgado ressalta, ainda, que a opção ;não necessariamente; garante menor despesa. ;Dependendo do perfil, pode pagar mais;, comenta.
Infográfico sobre a redução na conta de luz

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