Gabriel Ponte*
postado em 28/01/2019 18:54
Após o feriado prolongado de sexta-feira, 25, que interrompeu os negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), a Bovespa voltou à normalidade ontem, 28, e, conforme apontado previamente por analistas, os papéis ordinários da Vale apresentaram forte queda de 24,52%, a maior baixa do dia, após o rompimento da barragem mineradora em Brumadinho, no estado de Minas Gerais, na sexta-feira. Como consequência, o Ibovespa, principal índice da B3, encerrou o dia em forte queda de 2,29%, aos 95.444 pontos.
A Vale compõe, atualmente, 10,903% da carteira teórica do Ibovespa válida entre os meses de janeiro e abril deste ano, peso considerável entre as ações negociadas. Com as perdas no pregão de ontem, a mineradora também sofreu forte recuo, em termos de valor de mercado, equivalentes à R$ 72 bilhões, pior pregão da história da companhia. No entanto, o desempenho negativo não limitou-se apenas aos papéis da companhia. A Bradespar, que administra participação acionária da mineradora, também sofreu, na sessão de negócios, perdas consideráveis. Os papéis preferenciais da empresa tiveram recuo de 24,49%.
Já entre os ativos do setor bancário, destaque negativo para o desempenho, no mercado, dos papéis do Banco do Brasil (BB), ainda que de forma indireta. A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI) é uma das maiores acionistas da Vale, atuando por meio da Litel Participações, que constitui 20,98% do capital da mineradora. Com isso, os ativos ordinários do BB tiveram leve recuo de 0,27%. A Vale constitue, atualmente, a terceira maior empresa de capital aberto na B3.
Para Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Corretora, a queda observada nos papéis da mineradora já havia sido precificada pelo recuo na sexta, na Bolsa de Nova York (NYSE). ;A expectativa era de que os papéis da Vale abrissem ajustando o tombo das ADRs (American Depositary Receipts), no entanto, com as notícias negativas no fim de semana, a queda foi superior a 20%. Foi uma tragédia muito forte, além de ser uma reincidência da empresa;, pontuou.
Galdi também destaca que, entre os investidores, receios com sanções à mineradora crescem. ;Já teve multa ambiental, governo estadual solicitando indenização por parte da empresa, suspensão do pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio. Estamos naquela fase de tiroteio na qual o papel da Vale continuará pressionado, acompanhando o aumento do número de vítimas. Tudo isso cria, entre os operadores, um temor de que as multas possam ser mais pesadas, e a Vale vai pagar um ônus por isso;, explicou.
Já para o sócio-analista da Eleven Financial Research, Raphael Figueredo, a queda dos papéis da Vale, no pregão de ontem, foi muito além da expectativa inicial. ;Eu imaginava que os papéis iriam recuar entre 11% e 12%, com base no ajuste negativo do pregão de Nova York, na sexta. No entanto, o noticiário pesado carregou o papel. Tivemos também notícia sobre um possível processo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), além da alegação, por parte da Justiça do Trabalho, do bloqueio de R$ 800 milhões em relação à Vale. Tudo isso aumenta o drama, que é muito recente. Ontem, a cirurgia de Bolsonaro ficou em segundo plano;, disse.
Questionado sobre possíveis cenários, no curto prazo, para o desempenho do papel na B3, Figueredo destaca o peso da empresa nos negócios. ;A Vale é uma empresa que tem quase 11% de participação na carteira do Ibovespa. Assim, não é possível apartar o desempenho da companhia, do Ibovespa. A Vale, caindo, conduz o mal humor para o índice. Muitos fundos passivos acompanham a carteira teórica, além de que outros papéis são contaminados em função do ajuste a ser feito. O problema é um pouco maior;, diz.
*Estagiário sob supervisão de