Economia

Minério de ferro sobe no exterior e puxa alta nas ações da Vale

Para analistas, mercado viu como exagerada a queda de 25% no valor das ações da empresa, na segunda-feira, após o desastre de Brumadinho. Corte de 10% na produção devido à desativação de barragens em Minas Gerais deve ser absorvido pela companhia

Hamilton Ferrari, Gabriel Ponte*
postado em 31/01/2019 06:00
Província mineral de Carajás, no sudeste do Pará, é responsável pela maior parte da produção da companhia

Por mais que o desastre em Brumadinho (MG) tenha causado perdas humanas irreparáveis e grande impacto ambiental, a Vale voltou a ter força no mercado financeiro. Ontem, as ações da companhia subiram 9% na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), cotadas a R$ 46,70 no fechamento. Ou seja, desde o pregão que levou os papéis a caírem quase 25%, na última segunda, a mineradora já recuperou em R$ 4 ; o que equivale a um ganho de 10,2%.

A decisão da companhia de suspender em até 10% a produção de minério de ferro gerou um efeito internacional positivo para as empresas do setor. Com a menor oferta da commodity no mundo, até as empresas concorrentes da Vale se beneficiaram com o anúncio, realizado na última terça-feira. As ações da Cleveland-Cliffs subiram 17,30% em Nova York. A Rio Tinto e a BHP tiveram alta de 0,7% e de 2,1%, respectivamente.

A reação ocorreu após grande elevação dos preços do minério de ferro no mercado internacional ; provocada, em grande parte, justamente pelo corte de produção da Vale. Somente ontem, a cotação futura da commodity na China subiu 5,6%, saindo de US$ 79,5 para US$ 87,2. O país asiático é o maior importador do minério do Brasil, maior exportador mundial do produto. A Vale é a principal empresa desse mercado e uma das maiores do mundo. A valorização das ações da companhia impulsionou a alta de 1,42% do Ibovespa, principal indicador da B3, que avançou para 96.996 pontos. O dólar, por sua vez, encerrou o dia em queda de 0,35%, negociados a R$ 3,708 na venda.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que as especulações ;explodiram; o preço da commodity. ;Faz parte do jogo, mas é extremamente exagerado;, disse. ;Serão 40 milhões de toneladas que deixariam de ser produzidas, o que corresponde a US$ 2 bilhões. O Brasil exportou 390 milhões de toneladas em 2018. Teoricamente, cairia para 350 milhões. Não significa que haverá perda de receita, ainda mais com a alta nos preços;, completou.

Além disso, o especialista avalia que é difícil saber se o Brasil perderá mercado internacional para outros concorrentes, como Índia e Austrália. ;O que deve acontecer é que, no primeiro momento, esses dois países vão suprir parte de mercado. Mas, hoje, a economia mundial está desacelerando. Vemos isso na China, principalmente, o que pode levar o país a comprar menos minério;, destacou Castro.

A Vale é considerada uma empresa robusta e as multas e indenizações que deve ser obrigada a pagar em consequência da tragédia de Brumadinho, não devem colocar a companhia de joelhos. A maior parte da produção de minério de ferro da Vale não fica entre as barragens que serão desativadas mas, sim, em Carajás, no sudeste do Pará, estado que, após a criação do complexo minerador, viu a produção da commodity subir para 230 milhões de toneladas ao ano.

Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, avalia que, a princípio, a empresa saiu ;do fundo do poço;. ;Há um temor em relação às ações judiciais que estão sendo abertas nos Estados Unidos e no Brasil, além de outras sanções, mas apesar do acontecimento, o mercado percebeu que foi exagerada a queda de 25% das ações na última segunda-feira;, disse. ;Devemos ter desdobramentos e penalidades, mas que não vão mudar significativamente o patamar do preço de mercado da empresa. Ou seja, a Vale terá volatilidade, mas a fase de grandes traumas de preços de mercado será diluída;, acrescentou.


Fed empurra Bolsa e faz dólar cair


O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) decidiu manter as taxas de juros norte-americanas no intervalo entre 2,00% e 2,25% em sua primeira reunião do ano. Segundo Pablo Spyer, diretor de Operações da Mirae Asset, a notícia, apesar de esperada, contribuiu para os ganhos, no fim do pregão, da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), e para a queda do dólar diante do real. Estável durante a maior parte da sessão, o dólar fechou cotado a R$ 3,708 para venda, o menor valor em 20 dias, com queda de 0,35%. Mais do que a manutenção dos juros, influenciou o mercado a afirmação do presidente do Fed, Jerome Powell, de que a autoridade monetária será ;paciente; antes de definir novos aumentos dos juros.

Processos na Justiça

A Vale afirmou que pretende se resguardar ;de forma vigorosa; de uma ação judicial coletiva nos Estados Unidos movida pelo escritório Rosen Law. O presidente da companhia, Fábio Schvartsman, e o diretor executivo de Finanças e Relação com Investidores, Luciano Siani Pires, são acusados no processo. Em nota, a mineradora ainda disse que a ;reclamação requer indenização por danos ainda não especificados;, o que, segundo a companhia, impossibilita a previsão de qualquer desfecho para a questão.

A ação coletiva afirma que a Vale apresentou, em abril passado, à reguladora do mercado de capitais americana (SEC, na sigla em inglês), um documento assinado por Schvarstman e Siani garantindo que a empresa estava empenhada na manutenção de locais de trabalho seguros, além de atuar para diminuir prejuízos ambientais. A intenção, à época, era reparar dados provocados pelo rompimento da barragem em Mariana (MG), em 2015. De acordo com a Rosen Law, os comunicados da Vale ;eram materialmente falsos e/ou enganavam, porque não levavam em consideração fatos adversos inerentes às operações da empresa, ;que eram conhecidos pelos acusados ou descartados de forma imprudente por eles;.

Também ontem, um grupo de acionistas minoritários ingressou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitando a abertura de inquérito contra a companhia por não contabilizar, nos relatórios de riscos de negócios, a ameaça ambiental que seus empreendimentos continham. Segundo os acionistas, a mineradora falhou ao não emitir amplas informações aos investidores em relação aos riscos, além de impactos ambientais. O documento também abarca os riscos dos empreendimentos da mineradora nos estados do Pará e Maranhão. O texto também solicita, à CVM, a apuração do assunto em torno da responsabilidade da mineradora e do ocultamento de informações requisitadas em lei.
*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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