Gabriel Ponte*
postado em 31/01/2019 20:03
Em um dia favorável para os negócios locais, o dólar norte-americano rompeu a barreira dos R$ 3,70 e encerrou a sessão de negócios cotado a R$ 3,656 para venda, queda de 1,40%. É o menor valor de fechamento desde 26 de outubro (R$ 3,654). O desempenho favorável do real, em relação à divisa estrangeira, esteve atrelado ao posicionamento do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), na quarta-feira (30/01). Jerome Powell, chairman da autoridade monetária dos EUA, afirmou que o BC estadunidense será "paciente" com a condução da política monetária dos juros locais. Atualmente, os juros dos EUA estão fixados entre 2,25% e 2,50%, intervalo não alterado desde dezembro de 2018.
De acordo com Jefferson Laatus, especialista em dólar e sócio-analista do Grupo Laatus, o mercado já esperava a manutenção dos juros, mas o discurso de Powell teve peso pelo tom mais ameno sobre a elevação da taxa em 2019. ;Com a não alteração, o pregão de hoje só deu continuidade ao cenário positivo delineado pelo Fed ontem. O petróleo subiu, os treasuries caíram", explicou. Porém, segundo Laatus, teve peso também no dia a formação do Ptax, a última de janeiro, que serve de referência para liquidação de diversos contratos cambiais. "O dólar cedeu bastante pela briga do Ptax, com o encerramento do contrato futuro da moeda para fevereiro. Quem estava comprado tentou manipular para cima, enquanto que, quem estava vendido visou manipular para baixo. Diante de um desempenho fraco da moeda no mundo, os vendidos acabaram aproveitando-se", destacou.
Para Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora, apesar da sinalização favorável, principalmente para economias emergentes, sobre a estabilidade dos juros na economia dos EUA, investidores permanecem reticentes em relação ao Brasil. ;A medida do Fed é muito positiva para países emergentes, além de impactar as bolsas norte-americanas, fazendo com que os traders diminuam a aplicação em treasuries (títulos da dívida pública dos EUA). Isso fragiliza o dólar, mas, para o Brasil, ainda precisamos observar a volta real do estrangeiro ao país. Continuo a achar que o dólar deve manter-se no patamar dos R$ 3,75. No momento, abaixo do suporte dos R$ 3,70, acho que não há sustentabilidade;, analisou. No primeiro mês do ano, a moeda estadunidense desvalorizou-se 5,66% em relação ao real.
Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou o dia em alta de 0,41%, aos 97.393 pontos. De acordo com analistas do mercado, a declaração de Paulo Guedes, ministro da Economia, na quarta, 30, de que militares serão incluídos na reforma da Previdência, contribuiu para os ganhos do índice. Durante o pregão, o índice chegou a alcançar o nível dos 98.405 pontos, novo recorde intradiário. Já entre as ações negociadas no dia, o destaque ficou para as do setor financeiro.
Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modal Mais, a nova marca do Ibovespa justifica-se pelas conjunturas doméstica e internacional. "A fala do Fed, ontem, tranquilizou investidores. Pelo menos neste primeiro semestre, é difícil uma elevação. O Jerome Powell também deu a entender que vai dar meia trava na redução do balanço do Fed, contribuindo para os mercados em alta. Isso também deixa um dólar mais fraco, abrindo espaço para economias emergentes tentarem se adequar, com reformas estruturantes", analisou. Para ele, foi destaque também o balanço positivo do Bradesco, cujas ações preferenciais correspondem à 8,5% da carteira teórica do Ibovespa, corroborando para alta. Os ativos do banco foram o segundo mais negociado do dia, em alta de 6,21%, após a instituição financeira ter divulgado que o lucro acumulado do ano de 2018 foi de R$ 19.085 bilhões, alta de 30,19% em relação à 2017.
*Estagiário sob supervisão de Roberto Fonseca