Economia

Após período de baixa, setor calçadista comemora retomada dos lucros

Depois de um longo período de dificuldade, segmento voltou a crescer em 2018, mas há preocupação com as exportações, que sofreram redução de 10,8% em volume em relação a 2017

Mariana Barbosa
postado em 05/02/2019 10:08
Fábrica de calçados da Klin: volume de negociação da empresa em 2018 e em 2017 foi praticamente igual, um empate técnico
São Paulo ; Poucos setores da economia sofreram tanto nos últimos anos quanto a indústria calçadista. A queda no consumo interno e as dificuldades em exportar para tradicionais mercados, como a Argentina e a União Europeia, criaram um ambiente desafiador para as empresas do ramo.

Pelos cálculos da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a capacidade ociosa superou 50% nas fábricas em 2018, afetando diretamente mais de 60 mil lojas no território nacional. ;A demorada greve dos caminhoneiros, o seu inevitável desabastecimento no varejo, a desconfiança dos consumidores diante do clima eleitoral e a crise na Argentina, que ocupa o posto de vice-líder no ranking dos compradores internacionais dos calçados do Brasil, impediram que o nosso setor reagisse;, disse o presidente da Abicalçados, Heitor Klein.

As dificuldades, no entanto, parecem ter ficado para trás. Lentamente, o setor está caminhando rumo à recuperação. Uma pesquisa da Ablac e da Kantar revela que as vendas aumentaram 2,6% entre 2017 e 2018. ;Isso é significativo porque viemos de quedas em 2016 e 2017;, destaca Imad Esper, presidente do Conselho da Associação Brasileira dos Lojistas de Calçados e Artefatos (Ablac). ;Estamos apostando em um crescimento ainda mais consistente para 2019;, acrescentou o executivo.

Um termômetro dessa reação pode ser observado na maior feira da América Latina voltado ao setor, a Couromoda, encerrado na última semana. Lá estavam pelo menos 2 mil marcas brasileiras expostas nos estandes institucionais e comerciais, além de delegações de mais de 40 países, inclusive árabes e latino-americanos. ;Ficou bem claro que os negociadores apostam novamente no Brasil como potencial fornecedor de qualidade em longo prazo. Afinal, os fantasmas da recessão desapareceram e as perspectivas econômicas parecem bem favoráveis;, afirmou Esper.

Apesar das expectativas positivas para o setor calçadista, persiste a preocupação com as exportações. Todos os meses do ano passado, à exceção de abril, tiveram queda, segundo a pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados. No fechamento do ano, os embarques ao exterior fecharam com retração acima de 10%. Foram embarcados 113,47 milhões de pares. A soma é de US$ 976 milhões no período, baixa de 10,8% em volume e de 10,5% em receita no comparativo a 2017.

No mesmo período, as importações, principalmente da China, cresceram acima de 20%. ;O primeiro semestre deste ano chegou de uma forma bastante ansiosa, não só para o setor calçadista, mas para toda a economia do Brasil. É uma expectativa grande por tudo o que vivemos nos últimos anos;, diz Otavio Facholi, diretor da fabricante Klin.

Só em dezembro, as exportações alcançaram 13 milhões de pares e US$ 97,6 milhões em receita, queda de 24,3% em volume e de 16,5% em receita ante dezembro do ano anterior. Na avaliação do presidente da Abicalçados, Heitor Klein, as oscilações cambiais provocadas pelo período eleitoral no Brasil e o aumento dos juros nos Estados Unidos prejudicaram as exportações.

;A partir deste ano, porém, num ambiente mais seguro para os agentes de exportação, devemos obter incrementos;, prevê Klein, que aposta nas boas expectativas de recuperação, especialmente para o mercado americano. ;Existe uma tendência, por conta da guerra comercial travada entre os Estados Unidos e a China, de substituição das importações de calçados asiáticos;, comenta.

Principais mercados


Os Estados Unidos foram o único país entre os três principais destinos estrangeiros dos calçados brasileiros a apresentar saldo positivo em dezembro de 2018, com 2,17 milhões de pares embarcados a um valor US$ 25 milhões, alta de 51% em volume e de 26,8% em receita ante igual mês de 2017. No acumulado do ano, o país de Donald Trump comprou 10,76 milhões de pares por US$ 166,78 milhões, queda de 5% em volume e de 12,2% em dólares em relação ao ano anterior.

O segundo maior comprador internacional foi a Argentina, que importou 418,4 mil pares a US$ 5,24 milhões em dezembro de 2018, baixa de 47,3% em pares e de 28,5% em receita no comparativo com dezembro de 2017. O acumulado do ano resultou em 1,8 milhão de pares a US$ 139,38 milhões vendidos aos argentinos, crescimento de 2% em volume e queda de 5,2% em receita ante o ano anterior.

A Argentina passou a diminuir suas importações de calçados brasileiros a partir dos últimos meses do ano passado, especialmente pela crise interna e a brusca desvalorização do peso frente ao dólar, o que encareceu os produtos dolarizados.

A França foi o terceiro maior importador de calçados nacionais no ano passado: 910,8 mil pares a US$ 6,53 milhões vendidos em dezembro, um decréscimo de 47,3% em volume e de 28,5% em receita comparado a igual mês de 2017. Os franceses compraram 7,34 milhões de pares, que geraram US$ 57 milhões, salto de 5,7% em volume e queda de 2,5% em receita na relação com 2017.

Já nas importações, o mercado calçadista cresceu forte em 2018. Entraram no Brasil 26,6 milhões de pares, um total de US$ 347,55 milhões. A cifra representou aumento de 11,8% em volume e de 2,2% em receita comparativamente a 2017. As principais origens foram os países asiáticos, com destaque para Vietnã, Indonésia e China.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação