Economia

Ano será bom para países emergentes, avalia Armando Castelar

Coordenador de Economia Aplicada, do Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV) participou nesta terça-feira do evento Correio Debate

Ingrid Soares, Alessandra Azevedo
postado em 05/02/2019 18:53
Armando Castelar
O economista Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada, do Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que 2019 será um bom ano para os países emergentes ; não tanto pelo prisma comercial, mas pelo menos do ponto de vista financeiro. ;Tem tudo para ser um ano interessante, como foram 2016 e 2017;, comentou, em apresentação no evento Correio Debate, na tarde desta terça-feira (5/2).

O mercado, segundo ele, não acredita que os Estados Unidos vão aumentar a taxa de juros este ano, o que reforça o cenário positivo para os países emergentes, que vinha desde outubro. O problema é a volatilidade de algumas políticas monetárias, que, na visão do economista, foi a marca de 2018. ;Tudo pode mudar daqui a pouco;, alertou.

O exemplo mais simbólico foi o ;cavalo de pau; que o Banco Central americano (FED) deu em relação à política monetária nos Estados Unidos. O comitê, que até dezembro tinha uma posição bastante agressiva em defesa do aumento de juros este ano, em pouco tempo mudou de opinião. ;E agora, no final de janeiro, teve mudança de postura, de 180 graus, com o FED sugerindo que não vai mais subir juros;, lembrou Castelar.

Para ele, a volatilidade mostrada pelo FED pode acabar sendo também a marca de 2019. Por isso, mesmo acreditando que não há sinais de que os Estados Unidos subam os juros este ano, não tem como garantir esse posicionamento. ;É importante guardar em mente que, do mesmo jeito que 2018 começou muito bem, depois ficou muito ruim. Dólar a R$ 4,20, risco país subiu, crise na Argentina, crise na Turquia;, ressaltou. ;Pode ser que também em 2019 as coisas virem pó;, acrescentou Castelar.

Os juros americanos estão em 2,5%, que é o teto da baixa de juros. ;As previsões mostram o PIB (Produto Interno Bruto) americano crescendo acima do potencial. O dado de emprego veio quase o dobro do que os economistas previam. Também teve aumento salarial, que ainda não pressiona muito, mas de 3,2% de valorização;, comentou.

Congresso

Além da decisão do FED, outro fato marcante este ano foram as eleições da Câmara e do Senado este ano. Ao conseguir emplacar os candidatos que gostaria, o governo saiu ganhando. ;Isso, obviamente, é um sinal positivo, do ponto de vista das reformas;, disse Castelar. Ainda que não seja uma garantia de aprovação, é ;melhor isso do que ter perdido;, completou.

Ele também pontuou que, em janeiro, o movimento de preço de ativos foi muito positivo. Houve uma alta na bolsa de valores acima de outros países. Além disso, os juros a longo prazo caíram muito e os títulos do tesouro subiram. ;Acho que essa alta do preço de ativos é a principal razão para a confiança estar subindo muito. Também porque existe muito otimismo com o novo governo. Mas a gente sabe que, quando o dólar cai e a bolsa sobe, todo mundo fica mais otimista;, comentou Castelar.

Riscos

Os principais riscos que o Brasil precisará enfrentar este ano incluem possíveis frustrações com a reforma da Previdência. Apesar de ser ;totalmente essencial;, a estratégia do governo de ;ir com tudo ou nada; para o Congresso pode ser ótima ou dar errado, explicou Castelar.

Ele acredita que o que vai puxar o PIB este ano é a demanda doméstica, não consumo do governo ou setor externo. O consumo das famílias deve ter papel primordial.

Do ponto de vista internacional, o grande risco é que a inflação americana pressione o mercado de trabalho e haja um novo cavalo de pau do FED. Sobre a relação dos Estados Unidos com a China, ele acredita que haverá um acordo comercial, mas não o fim da briga entre os países. ;É um problema para 20, 30 anos. Não para dois ou três meses;, explicou. O dólar deve enfraquecer, o que é bom para os emergentes.

Previdência

Castelar ressaltou que a previdência é o principal gasto da União e a reforma precisa ser feita, pois esta há mais de 20 anos sem conseguir uma solução mais radical. Ele aponta ainda que Bolsonaro não conseguirá a aprovação da reforma em sua totalidade e por isso, poderá abrir mão de alguns pontos e pedir mais do que acredita conseguir. ;Do ponto de vista de equilibrar as contas públicas, pelo peso da previdência e pela velocidade com que o gasto cresce, é fundamental. Dado o tamanho da reforma, não aprovar significa que dificilmente conseguirá fazer uma reforma fiscal. A previdência responde por 55% dos gastos, cresce muito mais rápido do que as receitas. É inviável.;.

Sobre a nova formação do Congresso ele aponta que foi uma mudança positiva ; A renovação foi grande, a preferência ideológica congressista ficou mais perto do presidente, mais conservadora. Essa era uma preocupação grande. O Congresso anterior tinha visão mais esquerda, havia receio de briga entre o executivo e o legislativo;.

Outro ponto ressaltado pelo coordenador é a nova estratégia de formação política adotada pelo governo Bolsonaro. ;Eles não adotaram o presidencialismo de coalizão, que foi como funcionou desde a redemocratização do país, com os partidos dividindo o poder com o presidente. Mas como isso vai funcionar, ninguém sabe;, pondera.

Castelar aponta ainda que o desafio do presidente Bolsonaro está em conseguir manter o ciclo positivo de recuperação da economia, que segue em um momento de inflação e juros baixos.;, conclui.

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