Economia

Com Ilan de saída do BC, Copom decide manter taxa básica de juros

A taxa está no menor patamar da história desde março de 2018. A previsão majoritária do mercado é de que ela continue no mesmo nível até o fim de 2019.

Hamilton Ferrari
postado em 07/02/2019 06:00
foto do ex-presidente do Banco Central,Ilan Goldfajn

Numa decisão já esperada pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu pela sétima vez consecutiva manter a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5% ao ano. A taxa está no menor patamar da história desde março de 2018. A previsão majoritária do mercado é de que ela continue no mesmo nível até o fim de 2019, mas há instituições financeiras revisando as projeções para baixo. Além de a previsão de inflação para este ano estar abaixo da meta, a promessa do governo de equilibrar as contas e interromper o avanço da dívida pública vem sendo avalizada pelos analistas ; ainda que a aprovação da reforma da Previdência, principal medida nessa direção, suscite dúvidas, como mostrou a forte queda, na quarta-feira (6/2), da Bolsa de Valores de São Paulo (veja matéria ao lado).

A reunião de quarta-feira (6/2) do Copom foi, provavelmente, a última comandada por Ilan Goldfajn. Ele será substituído na presidência do Banco Central (BC) tão logo o sucessor indicado, Roberto Campos Neto, tenha o nome aprovado pelo Senado. Quando assumiu o posto, em junho de 2016, Goldfajn encontrou a Selic em 14,25%. De lá para cá, conseguiu ancorar as expectativas do mercado em relação à inflação e trouxe os juros básicos ao patamar atual. Muitos economistas acreditam que, em futuras reuniões, o BC poderá reduzir a taxa ainda mais.

O elemento fundamental para que essa previsão se concretize será a reforma da Previdência. O economista-chefe e sócio da Quantitas Asset, Ivo Chermont, observa que, se o Congresso der aval a uma reforma robusta, o problema das contas públicas poderá ser equacionado. ;Não precisa nem ter uma economia de R$ 1 trilhão em 10 anos, como prevê o ministro (da Economia) Paulo Guedes, para ter efeito significativo na economia;, afirmou. ;Caso as mudanças tragam uma economia de R$ 800 bilhões no mesmo período, haverá um grande otimismo.;

Num cenário otimista, Chermont acredita que o Banco Central começará uma nova rodada de redução dos juros em setembro e prevê, para o fim do ano, uma taxa de 5,5% ; um ponto percentual menor que a atual. Patrícia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, é mais cautelosa. Ela observa que a sinalização de parlamentares da base aliada é de que o governo não vai usar a proposta de reforma enviada ao Congresso pelo ex-presidente Michel Temer, o que permitiria ganhar tempo.

;Não dá para ter redução de Selic sem ter reforma forte aprovada. Assim que passar no Congresso, teremos espaço para taxas estruturais mais baixas. Mas as discussões apontam que o governo deve encaminhar uma nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC). O rito é mais demorado e não estou confiante de que passe no primeiro semestre. Talvez no terceiro trimestre;, frisou.

Para o Banco Central, a agenda de reformas é o ponto chave, mesmo porque o cenário internacional ;permanece desafiador;, como salienta o comunicado distribuído na quarta-feira (6/2), após a reunião do Copom. ;Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas. Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit;, diz o documento.

A principal preocupação do BC é com uma possível frustração em relação às medidas internas que precisam ser tomadas para resolver o desequilíbrio fiscal e criar um ambiente de juros estruturalmente mais baixo no país. ;O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa a médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia;, informou a autoridade monetária.


Poupança perde R$ 11 bi


Para fazer frente às despesas do início de ano, os brasileiros sacaram R$ 11,2 bilhões líquidos da caderneta de poupança em janeiro, informou o Banco Central. O montante é o segundo maior da história para o mês, perdendo apenas para os R$ 12,032 bilhões de janeiro de 2016. Os saques refletem, em grande parte, a necessidade de recursos para pagar despesas como IPTU, IPVA, matrículas e materiais escolares. Janeiro é, tradicionalmente, um mês em que as famílias retiram recursos da caderneta, sendo que muitas vezes a origem do dinheiro é o 13; terceiro salário pago em dezembro. A diferença é que os saques do mês passado foram mais que o dobro do montante de janeiro de 2018 (R$ 5,201 bilhões).

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