Jornal Correio Braziliense

Economia

Estatal que fabrica chip de boi defende manutenção 'pública ou privada'

Uma das primeiras estatais na lista de prováveis empresas que governo Jair Bolsonaro quer fechar as portas, a Ceitec quer assegurar sua existência de maneira "pública ou privada". Responsável pela produção de chips de monitoramento de animais e medicamentos, a companhia avalia que sua manutenção é essencial para inserir o País em um novo patamar tecnológico, de acordo com comunicado assinado por sua diretoria executiva. "É importante manter no País o legado de mão-de-obra altamente qualificada e uma cultura de inovação na área de semicondutores, que são os alicerces do desenvolvimento no atual cenário econômico mundial, sendo ela pública ou privada", diz a nota. "Foi por meio de investimentos no setor de semicondutores que países como Bélgica, Coreia do Sul e Israel iniciaram sua guinada tecnológica e se tornaram potências na atualidade." O posicionamento da diretoria executiva da Ceitec é uma tentativa de impedir a extinção da empresa. Inicialmente contra a privatização, os diretores já admitem essa possibilidade para manter a companhia. No mês passado, reportagem publicada pelo Estadão/Broadcast revelou que a liquidação da Ceitec estava na pauta da primeira reunião do conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), colegiado formado por ministérios e bancos públicos, além da Presidência da República, que deve se reunir ainda neste mês. Na época, o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) negou haver decisão sobre a extinção da companhia e disse que faria uma análise técnica sobre a empresa. Em defesa de sua existência, a Ceitec afirma ser a única empresa na América do Sul com capacidade comprovada de desenvolver e fabricar chips em larga escala. A companhia afirma ter produzido 110 milhões de chips e ser uma das cinco no mundo autorizada a produzir e certificar o chip do passaporte, além de desenvolver projetos de pesquisa de ponta na área de saúde para detecção precoce de câncer e de exames mais rápidos e baratos. "A empresa fabrica oito tipos de chips e mais de uma dezena de diferentes aplicações, nos segmentos de identificação logística e de patrimônio, identificação pessoal (chip do passaporte), identificação veicular e identificação de animais, além de encapsulamento de cartões de telefonia e de meio de pagamento de chips de terceiros, dentre outros", diz a nota. Apesar do desejo da diretoria executiva da Ceitec, o governo avalia que não há interesse do mercado na companhia, o que inviabilizaria uma tentativa de privatização. Para se ter uma ideia, a empresa tinha, em 2017, patrimônio líquido de R$ 105 milhões, mas esse resultado está relacionado à subvenção que recebeu do Tesouro Nacional naquele ano, de R$ 75 milhões. Vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), a Ceitec está no grupo das 18 estatais que dependem de recursos do Tesouro Nacional para pagar seus gastos de custeio e a folha de pagamento. O governo tem hoje 135 estatais, mas a maioria delas, mesmo com resultados negativos, consegue gera recursos para pagar essas duas despesas. Criada em 2008 durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Ceitec registrou prejuízo nos três últimos anos: R$ 23,9 milhões em 2017; R$ 49,6 milhões em 2016; e R$ 31,2 milhões em 2015. A Ceitec conta com 194 empregados e salário médio de R$ 8.600,00. Embora tenham entrado nas empresas por meio de concurso público, todos os empregados seriam demitidos caso a empresa fosse liquidada, pois suas atividades serão encerradas. Segundo a empresa, 40% dos profissionais possuem mestrado, doutorado ou pós-doutorado.