Agência Estado
postado em 14/02/2019 11:00
Prestes a deixar a presidência do Banco Central, Ilan Goldfajn prega "cautela" nas próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que reúne a diretoria do BC para decidir os rumos da Selic, a taxa básica de juros. A principal preocupação é o desequilíbrio das contas públicas, diante da indefinição da aprovação das reformas.
Hoje, com os índices de inflação sob controle e a atividade econômica em recuperação ainda lenta, uma parcela dos investidores vem flertando com a possibilidade de o BC promover novos cortes da Selic, para abaixo dos 6,5%.
O BC quebrou o ciclo histórico de juros elevados? Os juros mais baixos vieram para ficar?
A primeira observação é a de que o BC precisa se concentrar em medidas sustentáveis. Quando falamos em administração de riscos, temos de saber que o BC atua para que as mudanças sejam sustentáveis, e não efêmeras. Ter uma inflação baixa para vários anos é uma conquista da sociedade. Isso não significa que essa conquista ocorreu, mas sim que ela tem de ser administrada o tempo todo. O BC tem muito a fazer ainda. Não apenas o BC, mas o governo e a sociedade como um todo. Nós concordamos hoje que a continuidade das reformas e dos ajustes é o principal para manter a inflação baixa, o juro estrutural baixo e ajudar na recuperação da economia.
Muitos analistas dizem que o senhor foi ajudado pelo período de recessão grande no Brasil.
Em 2016, quando assumimos, o PIB estava caindo 3% e a inflação estava em 10%. Infelizmente, na história brasileira, recessões não são necessariamente acompanhadas de inflação baixa. Temos hoje uma alta ociosidade, tanto do capital quanto no emprego, e isso gera uma pressão de inflação menor. Mas isso tem de ser combinado com a credibilidade de que a inflação ficará baixa. Senão, os reajustes de preços são preventivos, automáticos.
Mas a recessão ajudou?
A recessão não é tudo. O componente importante é o fato de você permitir que as forças de demanda e oferta se materializem. Para isso, é preciso que haja a percepção de que temos certa estabilidade. No Brasil, já tivemos muitos momentos de ociosidade de fatores, mas com inflação. A ociosidade não é o fator central. Ela contribui, porque quando você tem demanda menor, obviamente gera pressão menor. Em nossos documentos, um dos riscos que colocamos é que a ociosidade, talvez, influencie mais. Há outros dois: o de reformas e ajustes, que têm de ocorrer, e o cenário internacional. Nesta última reunião do Copom, falamos bastante do cenário externo. Há uma percepção de que talvez haja desaceleração global mais à frente. E isso muda a percepção de política monetária e tem influência no curto prazo sobre o Brasil.
Sem as reformas fiscais, chegamos no limite de queda da Selic?
Não falaria isso. Eu diria que, com o desafio fiscal relevante que a gente tem pela frente (a Selic), estando hoje nas mínimas históricas, testar novas mínimas históricas, precisa ser feito com certa cautela.
Como o senhor vê a situação fiscal do País hoje?
Para manter a inflação baixa e juros estruturais baixos, permitindo crescimento sustentável, precisamos de contas públicas em ordem. Nós ainda estamos no processo de ajustar as contas públicas.
Como explicar que hoje temos o menor juros da história, sendo que o fiscal está desequilibrado?
Isso ocorre porque estamos em período de inflação baixa. E você pode explicar a inflação baixa pela ociosidade dos fatores e pelo fato de termos administrado o risco de tal forma que, hoje, o BC fará o que precisar ser feito para manter essa inflação baixa no médio e longo prazos. Agora, não há mágica. No médio e longo prazos, a política monetária não consegue manter a inflação baixa se não tivermos reformas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.