Economia

Eric Hutto: "Empresas precisam estar mais atentas à corrupção"

Confira entrevista co Eric Hutto, vice-presidente global de Enterprise Solutions da Unisys

Nelson Cilo
postado em 18/02/2019 06:00
Confira entrevista co Eric Hutto, vice-presidente global de Enterprise Solutions da UnisysSão Paulo ; O executivo americano Eric Hutto, vice-presidente global da gigante Unisys, com sede nos Estados Unidos e uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, viaja para o Brasil pelo menos três vezes por ano para acompanhar o desenvolvimento das operações no mercado local. Em sua mais recente visita, ele reforçou que a prioridade da companhia para o país é fortalecer os negócios com as administrações públicas, um setor que passou a ser temido e evitado por muitas empresas após os casos de corrupção expostos pela Lava-Jato e que culminaram na prisão de vários profissionais graúdos do ambiente corporativo brasileiro. Segundo Hutto, tão importante quanto evitar que desvios de conduta aconteçam é agir rapidamente quando eles ocorrem, evitando assim que seus efeitos nefastos sejam disseminados. ;Desvios de conduta e casos de corrupção podem acontecer;, afirma o executivo. ;Mas, se acontecerem, temos de estar prontos para agir de forma rápida e efetiva. Imediatamente. Não em questão de dias, mas em questão de horas;, disse o vice-presidente em entrevista exclusiva ao Estado de Minas/Correio Braziliense. Durante a conversa, Hutto afirmou que o Brasil ; atualmente um dos cinco maiores mercados para a companhia no mundo ; concentra o maior potencial de expansão dos negócios na América Latina, ao lado do México. Confira a entrevista a seguir.

Qual é a sua visão sobre o atual estágio do mercado de tecnologia no Brasil? Há um consenso de que o país tem enormes defasagens na área de inovação.
Essa é, provavelmente, uma indústria diferente. Existe um engajamento da sociedade, das empresas e do setor público para criar um ambiente de desenvolvimento e segurança na área de tecnologia. A participação individual dos cidadãos também é um ponto-chave para a inovação, na medida em que são as pessoas que incorporam as tecnologias no seu dia a dia. O mundo da tecnologia está disponível a todos nós, e os governos têm exercido um papel fundamental no seu avanço.

Mas, no caso brasileiro, as perspectivas são positivas?

Com certeza o PIB da tecnologia voltou a crescer de novo. Não só no Brasil, mas em toda a região da América Latina há um incrível crescimento. O Brasil tem um papel protagonista no bloco. Com a definição das eleições, as pessoas e as empresas agora entendem qual é o foco e qual o rumo que a nova administração vai seguir. E isso é fundamental para que todos voltem a tomar decisões e fazer negócios, além de decidir suas estratégias pelos próximos três ou quatro anos para as suas operações, além de saber onde farão seus investimentos.

Essa definição eleitoral abre caminho para mais negócios com o setor público?
Cerca de 20% das receitas da companhia na América Latina são provenientes de contratos com o setor público. Em todo o mundo, 40% das receitas da Unisys vêm do setor público. Ou seja, nossa estratégia para a região é fazer crescer os negócios nessa área, há um enorme potencial para isso.

O que a empresa pretende fazer para ampliar os negócios com o setor público?
Temos uma tremenda experiência nessa área e podemos trazer para o Brasil toda a nossa expertise acumulada com negócios com governos em todo o mundo. Podemos trazer para a administração pública brasileira práticas bem-sucedidas como a que o governo da Austrália está fazendo, como a que o governo da Alemanha está fazendo. Então, essa é nossa maior estratégia para promover os negócios da Unisys no Brasil. Trata-se de uma imensa área na qual queremos ampliar a nossa presença.

Se a estratégia é ampliar a presença no setor público, como a empresa vai evitar que seu nome esteja envolvido em casos de corrupção e desvios de conduta, tão característicos do universo brasileiro como as investigações da Lava-Jato revelaram nos últimos anos?
Bom, é um tema muito difícil. Essa é uma pressão constante. Precisamos crescer, mas ter um crescimento de forma profissional. Todas as empresas precisam estar mais atentas para evitar casos de corrupção. Temos um time de líderes muito bem orientados em relação a isso. Eles sabem como fazer o trabalho de forma correta, sem desvios de conduta.

O que a empresa faz internamente para combater eventuais desvios de conduta dos funcionários?

Desenvolvemos internamente um ambiente de transparência, no qual todos os processos são amplamente checados, e mecanismos capazes de mostrar rapidamente qualquer eventual problema que possa ocorrer na relação com os entes públicos. Todos os anos, temos dedicado bastante tempo de nosso trabalho para treinar funcionários, desenvolver nosso compliance e valorizar o bom comportamento do nosso time. Isso faz toda a diferença.

Mas o que fazer quando eventualmente surjam casos suspeitos dentro de uma empresa?
Desvios de conduta e casos de corrupção infelizmente podem acontecer. Mas, se acontecerem, temos de estar prontos para agir de forma rápida e efetiva. Imediatamente. Não em questão de dias, mas em questão de horas.

Há planos de investir mais em compliance no Brasil?
Eu diria que o investimento constante em compliance é parte do nosso negócio globalmente. Não achamos necessário ter um foco diferente para isso no Brasil. Mas, sim, temos operações em oito países em que consideramos que precisamos fazer mais, ter uma atenção especial.

Além do setor público, quais são as prioridades da empresa no país?
Já temos uma posição muito boa no setor financeiro no Brasil. Temos ajudado instituições financeiras a enfrentar os desafios da digitalização, criando modelos de canais omnichannels que as conectam com a sociedade e os clientes. Existem desafios semelhantes em outras indústrias, além do setor financeiro, e temos ajudado todas elas a seguir em frente.

Que áreas de negócios são essas?

Existem três setores privados que, em razão de nossa expertise, desejamos fortalecer nossa operação: transporte, ciência da saúde e bancos comerciais. E no setor público, especialmente no Brasil, tecnologias de proteção de fronteiras e instituições financeiras. Esses setores possuem no país regulação muito rígida, e todos os lados precisam estar seguros para levar os negócios adiante. Há muito trabalho a ser feito e isso representa uma grande oportunidade para nós.

Mas já existe uma concorrência muito grande em todas essas áreas de negócios.

Sim. Em todos os mercados em que a Unisys atua globalmente, há uma forte concorrência. Para nós, o Brasil é um mercado difícil, no bom sentido, porque há muitos players globais atuando no país. Mas, estamos acostumados com esse ambiente de forte concorrência.

Nos Estados Unidos, país de origem da Unisys, a concorrência entre as grandes empresas do setor também deve ser bastante feroz.
Os Estados Unidos concentram 30% de todo o mercado consumidor de tecnologia do mundo e estamos na disputa ao lado das principais companhias globais. Todas as empresas estão nos Estados Unidos, e todas elas obviamente defendem a sua fatia de mercado. Então, acho que existe espaço para todas as empresas. Muitas, inclusive, podem se tornar parceiras e trabalhar juntas em determinados setores com alta qualidade de serviços. O objetivo maior é suprir as necessidades por novas tecnologias e deixar os clientes satisfeitos. Eles se importam com o dinheiro que vão pagar para terem acesso a soluções para suas demandas. Nosso desafio é atender a esses anseios com a maior qualidade possível.

Quais são os maiores mercados na Unisys no mundo e qual a posição do Brasil nesse ranking?

O Brasil está no top cinco dos nossos maiores mercados. E precisa ser. Atualmente, 60% dos negócios do mercado de tecnologia na América Latina acontecem no Brasil, um país que está se tornando vital para as grandes empresas de tecnologia. Outro mercado importante na região é o México. Então, poderíamos apostar em diferentes mercados no mundo, mas precisamos estar no Brasil, e sermos bons aqui.

Além do Brasil, quais são os outros mercados fundamentais para a empresa?
Mundialmente, os mercados mais importantes para nós são Estados Unidos, Alemanha, Austrália e Reino Unido, que concentram nossa maior força de negócios. Há outros mercados que têm apresentado nos últimos anos forte crescimento, como a Malásia e Taiwan, especialmente no segmento de serviços financeiros.

O que pode acontecer com o Reino Unido, sob a ótica dos negócios na área de tecnologia, após a conclusão do Brexit?
Eu realmente não sei. Difícil dizer.

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