Economia

Levi´s vai para a Bolsa

Levi Strauss, dona da marca que lidera com folga o mercado mundial de jeans, quer levantar 600 milhões de dólares na abertura de capital. Objetivo é diversificar a sua linha de produtos

Pedro Arbex
postado em 19/02/2019 06:00

Loja da marca nos EUA: no ano passado, a fabricante de jeans fechou com uma receita de 5,6 bilhões de dólares, um crescimento de 14%


São Paulo ; O jeans que centenas de milhões de pessoas já usaram algum dia em breve estará à venda também na bolsa de valores. A Levi Strauss ; dona da icônica marca Levi;s, inventora do blue jeans e líder disparada do mercado global há mais de um século ; pediu registro para listar suas ações em Nova York.

A empresa quer levantar 600 milhões de dólares no IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês), considerando que seu valor de mercado é mais de 3 bilhões de dólares, segundo informação publicada pelo jornal americano The Wall Street Journal. O sindicato que coordena a oferta é composto por 12 bancos, incluindo os gigantes Goldman Sachs, JP Morgan, Merrill Lynch e Morgan Stanley.

O objetivo da investida é óbvio: ir além do jeans básico. Nos documentos enviados à SEC, órgão regulador do mercado financeiro americano, a empresa disse que vai usar os recursos do IPO para aquisições ;que aumentem a sua diversificação de marcas e categorias;, num momento de mudanças nas tendências de moda.

O jeans básico, que sempre foi a escolha preferida de boa parte dos consumidores, vem dando lugar às calças de moletom e ioga e às marcas de jeans premium. Além disso, a empresa quer usar o capital para dar tração à sua expansão em países emergentes, especialmente China, Brasil e Índia.

Atualmente, boa parte do faturamento da Levi Strauss ainda vem da venda de suas calças jeans e caqui, os carros-chefes da companhia e do mercado americano, o maior do mundo nesse segmento de negócios.

Fundada em 1853 pelo industrial americano de mesmo nome, a Levi Strauss começou com uma única loja em São Francisco que vendia calças de trabalho para mineiros durante a corrida do ouro na Califórnia. Hoje em dia, são mais de 820 lojas próprias, cerca de 500 store-in-store (lojas dentro de outras lojas) e 50 mil varejistas distribuindo seus produtos nos cinco continentes.

No ano passado, a fabricante de jeans fechou com uma receita de 5,6 bilhões de dólares, um crescimento de 14% ano contra ano, e um lucro líquido de 283 milhões de dólares, consolidando sua posição de líder com folga do mercado mundial.

Nos Estados Unidos, a Levi Strauss tem uma participação de mercado de 12,1%, enquanto o segundo colocado do setor (a marca Lee) tem apenas 4,8%, segundo a Euromonitor International. O mercado americano de jeans movimenta 16,6 bilhões de dólares por ano.

Este não será o primeiro IPO da Levi Strauss. Em 1971, a empresa abriu o capital pela primeira vez, mas ficou pouco tempo na Bolsa. Treze anos depois, os descendentes do fundador recompraram o controle da companhia, que está desde então nas mãos da família.

A empresa passou por turbulências nas últimas décadas. Em 2003, quase foi à falência, com um endividamento crescente e quedas constantes nas vendas. A Levi Strauss só conseguiu dar a volta por cima em 2011, quando Chip Bergh, um ex-executivo da P, assumiu as rédeas da empresa.

Sob o comando de Chip, a companhia lançou etiquetas premium e se expandiu para o exterior, crescendo em mercados emergentes como o Brasil e a China. Mais recentemente, tem apostado em ;boutiques; que permitem a personalização dos produtos, com a adição, por exemplo, de remendos e stencils nas calças.

Com 163 anos de história, a Levi Strauss terá o desafio de convencer os investidores de que tem uma estratégia sólida de inovação e condições de ganhar terreno no e-commerce, reduzindo sua dependência das lojas de departamento.

As vendas on-line ainda não respondem nem por 5% das receitas totais da companhia. Já os clientes de atacado ; na maior parte, lojas de departamento ; representam dois terços do faturamento.

O problema é que cadeias como Macy;s, J.C. Penney e Sears têm sofrido, nos últimos anos, uma crise sem precedentes, com o fluxo de clientes caindo e as empresas fechando uma loja atrás da outra. Mesmo assim, a Levi Strauss vive o seu melhor momento em muitos anos. A abertura de capital é prova disso.

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