Economia

Setor de telecomunicações se une para buscar modernização regulatória

Anatel está realizando audiências públicas para apresentar proposta de um novo regulamento. Em evento, especialistas defendem modelo de autorregulação como já existe no setor bancário

Simone Kafruni
postado em 19/02/2019 18:26
Anatel

Altamente regulado, o setor de telecomunicações passa por um momento de transição, com vistas a flexibilizar as regras, reduzir as sanções e evitar a judicialização. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está realizando audiências públicas para apresentar a proposta do novo regulamento de fiscalização regulatória a ser adotado pelo órgão. A última consulta pública será realizada em Brasília em 20 de março.

Enquanto a agência não bate o martelo, especialistas e agentes do setor discutiram, nesta terça-feira (19/2), a possibilidade de autorregulação durante o seminário Políticas de Telecomunicações, organizado pelo site Teletime. Karla Crosara Rezende, superintendente executiva da Anatel, explicou que a alteração da regulamentação pretende priorizar a realização de ações com maior potencial benéfico aos consumidores. No entanto, a mudança impacta fabricantes, fornecedores de equipamentos, radiodifusores e órgãos de defesa do consumidor.

Para as empresas e entidades de telecomunicações, a implementação das regras propostas deve permitir maior clareza nos processos de fiscalização e maior transparência e compreensão das atividades de acompanhamento, inspeção e controle da agência. Números da Anatel apontam que 40% das multas emitidas em 2014 e 2015 estão no Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor público federal (Cadin) e na dívida ativa. Em 2015, 21,15% das sanções aplicadas estavam suspensas judicialmente.

Durante o painel Caminho para a modernização regulatória, José Bicalho, consultor da ABCTelecom, apresentou a proposta de autorregulação. ;É um modelo que permite uma forma coletiva de fazer regulação responsiva. A resolução de um problema passa a demandar um esforço conjunto;, explicou.

No entanto, para lograr êxito, o modelo exige alto nível de comprometimento das empresas reguladas e da Anatel. ;Não é um processo simples. É preciso uma mudança de mentalidade;, assinalou. A autorregulação poderia reduzir os problemas com menor nível de intervenção de terceiros.

;Basta usar o conhecimento do regulado para atingir a solução. Isso evita que normas, cuja implementação tenha alto custo, sejam criadas. Impede que o modelo de negócios seja engessado e evita também sanções desproporcionais;, defendeu Bicalho.

O resultado seria uma melhor imagem das prestadoras e aumento da credibilidade do setor. ;A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) desenvolveu um modelo há mais de 10 anos com participação de órgão de defesa do consumidor. O resultado foi pouca intromissão, redução de reclamações e percepção de melhoria pelos consumidores;, detalhou.

Outro exemplo, segundo o especialista, existe na Austrália, onde o tema dados pessoais foi tratado exclusivamente por modelo de autorregulação. Para José Leça, diretor de assuntos jurídico-regulatórios da Telefônica, a nova abordagem tem tudo para dar certo. ;O modelo de sanção acaba sendo judicializado. Estamos num caminho bom, mas temos de insistir nas induções corretas;, opinou.

O professor Othon de Azevedo Lopes, vice-diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), alertou para a necessidade de uma mudança abrupta de mentalidade. ;Ainda há uma percepção de direito administrativo. O modelo precisa ser reconstruído para fazer com que a nova forma de funcionar a economia e novo estado regulador seja compreendido por nossas instituições. Porque elas ainda não entenderam;, destacou.

Conforme Lopes, as agências reguladoras já entenderam que a mudança de paradigma é necessária porque sentem a própria defasagem. ;Mas isso não chegou a órgão de controle nem ao Judiciário;, ressaltou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação