Beatriz Roscoe*, Gabriel Ponte*
postado em 20/02/2019 18:33
Com a entrega da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, investidores e analistas do mercado financeiro conheceram, com maior profundidade, os principais pontos que a equipe econômica, comandada por Paulo Guedes, ministro da Economia, pretende implementar no sistema previdenciário.
[SAIBAMAIS]Apesar da euforia em torno do assunto, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), chegou a ensaiar uma onda de alta pelo período da manhã, mas viu os agentes econômicos embolsarem ganhos pela tarde. Com isso, o índice encerrou o dia em queda de 1,14%, aos 96.544 pontos, com volume negociado de R$ 17,4 bilhões. No entanto, de acordo com Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, o comportamento de realização de lucros, por parte dos investidores, não denota preocupação.
;Todo mundo ficou atento à pauta interna da previdência, mas o que observamos nos últimos dias e semanas foi um rally (intenso movimento de compra e venda de ativos na bolsa), que era o mercado subindo na expectativa da apresentação oficial do texto da reforma, e, o dia chegou. Com isso, a realização de lucros foi algo natural;, disse. Também hoje, o Federal Open Market Committee (FOMC) divulgou a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos), em janeiro, informando que Autoridade Monetária estadunidense será ;paciente; com a condução dos juros no país.
Ainda segundo o documento, parte de dirigentes apontou que a alta de juros, no país, só será necessária caso a inflação norte-americana acelere. Atualmente, os juros básicos da economia estadunidense estão no intervalo entre 2,25% e 2,50%. ;Não houve nenhuma novidade. O mercado já vem esperando um comportamento mais brando do Fed (Federal Reserve) em relação à continuidade da política de juros;, completou Silva.
Já na visão de André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, o mercado vivenciou um dia volátil, atingido, principalmente, pelo receio de investidores em torno da real capacidade de coalizão por parte do governo para aprovar a PEC da previdência. ;O mercado abriu em alta, mas, ao longo da fala do corpo técnico, com a complexidade do tema, a bolsa caiu, zerando os ganhos, e, posteriormente, fechando em queda. A questão não é a reforma em si, mas sim a capacidade dela tramitar no Congresso. Passou-se a ser ventilada uma opinião mais pessimista de que Bolsonaro não iria conseguir encaminhar, tão facilmente, a aprovação do texto;, disse.
Já o dólar norte-americano encerrou a sessão em alta de 0,54%, aos R$ 3,736 a venda, em um dia volátil. Ainda segundo o economista-chefe da Necton Corretora, a ata do FOMC, divulgada às 16h (horário de Brasília), apontou para uma conjuntura econômica desafiadora nos Estados Unidos, com o dólar avançando frente ao real, em uma leitura mais cautelosa;, completou Perfeito.
Para Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora, o dólar e a bolsa estão voláteis porque a reforma da Previdência terá dificuldade (na tramitação) no Congresso e nas comissões, com muitos obstáculos que demandam tempo. A previsão do economista é que de que a PEC só seja aprovada em agosto, e, com isso, não há como fazer uma projeção sustentável. Nehme afirma que o mercado ficará incerto ao longo deste período, e que a moeda norte-americana não terá razões para subir ou depreciar, mantendo-se no suporte dos R$ 3,70, entre R$ 3,70 e R$ 3,75, pois não haverá recuperação dos fluxos dos investidores.
Já o economista Newton Rosa, da Sulamérica Investimentos, está otimista e acredita que apesar da dificuldade de aprovação da reforma, ela será muito bem aceita pelo mercado. ;Eu considero a proposta de reforma da Previdência abrangente e bem estruturada, acredito que seja bastante positiva. A aprovação da reforma pode ser vista como uma sinalização de que o governo será capaz de realizar outras reformas importantes (analistas apontam a tributária), e que isso será bem visto aos olhos dos investimentos estrangeiros;. Durante o período de discussão da reforma, o economista prevê que o dólar seja negociado a R$ 3,75.