Agência Estado
postado em 20/02/2019 18:53
O dólar chegou a cair abaixo de R$ 3,70 após a apresentação da proposta de reforma da Previdência pelo governo, mas em seguida os investidores preferiram adotar um tom de cautela e a moeda passou a subir. A divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), já perto do fechamento do mercado à vista, que alertou para aumento de riscos de desaceleração da economia mundial, ajudou a reforçar a prudência dos investidores e a moeda americana bateu máximas. O dólar terminou esta quarta-feira, 20, em R$ 3,7319, em alta de 0,42%.
As medidas que mudam as aposentadorias no Brasil foram consideradas "amplas e abrangentes", mas a percepção nas mesas de câmbio é de que o texto pode ser desidratado na tramitação no Congresso, reduzindo seu impacto. "Os mercados tiveram o que esperavam, uma proposta sólida de reforma, com economia de R$ 1 trilhão. A reação foi tímida porque essa economia fiscal provavelmente será reduzida no texto final", avalia o economista-chefe para a América Latina da consultoria norte-americana Continuum Economics, Pedro Tuesta. Para ele, o quanto o texto será desidratado durante a tramitação vai determinar o tipo de reação do mercado nos próximos meses. O economista vê o dólar entre R$ 3,70 a R$ 3,75 nos próximos dias. Na máxima desta quarta, a moeda chegou a R$ 3,73 e na mínima, a R$ 3,69.
Os estrategistas do banco norte-americano JPMorgan preveem que a proposta de reforma da Previdência terá um "longo caminho" no Congresso antes da votação final. Com a opção de Jair Bolsonaro de enviar nova Proposta de Emenda Constitucional (PEC) ao invés de aproveitar o texto de Michel Temer que já tramitou pelas comissões especiais e estava pronto para ser votado, o tempo de aprovação pode ser mais longo do que o estimado no cenário-base do banco, que previa apreciação na Câmara já no segundo trimestre e votação final no terceiro trimestre. O JP diz que vai reavaliar este cenário.
Já a ata do Fed acabou contribuindo para reforçar o tom de cautela no final da tarde. "A ata revelou que a decisão do Fed de adotar uma postura 'paciente' veio em resposta à fraqueza da economia mundial", avaliou o economista da consultoria Capital Economics, Paul Ashworth, citando a Europa e a China como as regiões com maior chance de desacelerarem. Ele nota que os dirigentes do Fed viram riscos "mais nítidos do que o esperado de desaceleração" da atividade mundial, o que levou alguns deles a reconhecerem que as chances de piora da atividade aumentaram. Pelo lado positivo, o Fed deve terminar em breve o programa de redução de seu balanço.