Economia

Aumento das mensalidades escolares pesa na prévia da inflação de fevereiro

A maior parte dos itens pesquisados pelo IBGE teve comportamento discreto, mas gastos ligados à educação subiram 3,53%

Beatriz Roscoe*
postado em 22/02/2019 06:00

Gladson Guimarães se queixa de que o salário não acompanha o aumento dos gastos com a escola dos filhos

O aumento das mensalidades esolares pesou no orçamento das famílias em fevereiro. Mesmo assim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor 15 (IPCA-15), que funciona como uma prévia da inflação oficial, aumentou 0,34%, a menor variação para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. Com isso, no acumulado de 12 meses, o indicador alcançou 3,73%, ficando bem abaixo da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 4,25% para este ano. Em Brasília, o índice teve deflação, ou seja, a média dos preços caiu 0,15%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


A inflação prévia do mês foi baixa graças ao bom comportamento dos preços dos bens do grupo transportes, que tiveram, em média, queda de 0,46%, e vestuário, com redução média de 0,92% em fevereiro, na comparação com janeiro. O recuo dos valores do grupo transporte refletiu a baixa dos preços da gasolina, em consequência da menor cotação do petróleo no mercado externo e da redução do valor do dólar. É bom lembrar que o IPCA-15 deste mês mediu a variação de preços entre 16 de janeiro e 12 de fevereiro.

Comunicações, com alta de 0,05%, e saúde e cuidados pessoais, com elevação de 0,56% foram outros dois grupos que registraram variações moderadas de preço. Os gastos com alimentação e bebidas subiram 0,64%. O grande vilão do IPCA-015 foi o item educação, que teve a maior variação, de 3,52%, devido, sobretudo, ao aumento de 4,6% das mensalidades de cursos regulares.

O policial Ricardo Barcelos, 49 anos, sentiu os efeitos da inflação da educação no bolso: ;Indubitavelmente, a escola teve um índice de aumento superior à expectativa, e nosso salário não está acompanhando esse aumento expressivo;, reclamou. O contador Gladson Guimarães, 47, também se queixa das mensalidades altas e da falta de compatibilidade com o aumento do salário. Para a fisioterapeuta Patrícia Dias, as atividades extracurriculares e os materiais escolares foram os itens que mais subiram de preço, e ela acredita que a inflação irá se manter.

O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas Carlos Thadeu Filho afirma que a alta de bens e serviços relacionados à educação é normal em fevereiro, uma vez que as escolas particulares realizam o reajuste das mensalidades nesta época do ano. O engenheiro e empresário Douglas Galhardo Passatuto, 32, disse não ter sentido tanto o aumento da mensalidade, mas que a educação suplementar foi o que pesou no orçamento: ;O curso de inglês, a aula de reforço, e serviços de educação complementar aumentaram bastante o preço;.

Para Manoel Pires, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, os dados confirmam o fato de que a inflação tem se comportado bem. ;Isso reverte a percepção de que existia uma pressão inflacionária.; Ele observa, porém, que os índices têm se mantido em patamar baixo, em boa parte, devido à fraqueza da economia.O mercado de trabalho tem reagido muito pouco, e a recuperação da atividade econômica está muito lenta, explica.

Carlos Thadeu Filho nota que a economia tem gerado poucos empregos. ;Na prática, o crescimento da atividade econômica é baseado muito mais em expectativas do que em algo concreto, o índice de confiança cresce apenas na parte das expectativas;, avaliou. ;A recuperação não é acompanhada de massa salarial, e se não há aumento na massa de salários, o crescimento é baseado em endividamento, o que costuma não durar muito tempo;, complementa.

Passagens aéreas

O recuo nos preços do grupo transportes influenciou o custo de vida em Brasília, que apresentou deflação de 0,15 em fevereiro. O principal motivo, além do recuo no preço dos combustíveis, foi a queda de 18,33% no valor das passagens aéreas.

O IPCA-15 mede a variação dos preços da cesta de consumo de famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia. A metodologia utilizada é a mesma do IPCA, a diferença é o período de análise.

Infográfico sobre a inflação de fevereiro

Em janeiro, pobres sofreram mais

As famílias das classes mais baixas foram as mais afetadas pela inflação de janeiro. É o que mostra o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O impacto da inflação nas contas de famílias com menor poder aquisitivo foi de 0,41%, ante 0,25% nas mais ricas.

Segundo o Ipea, isso ocorreu porque os preços do grupo alimentação subiram 0,30%, principalmente cereais, frutas e leite e derivados, itens que pesam na cesta de consumo das classes mais baixas. Além disso, o preço dos transportes subiu 0,09%, devido aos reajustes das tarifas de ônibus urbanos, trens e metrô. Em contrapartida, o preço do combustível caiu 2,1%, o que beneficia as classes mais altas, que se utilizam de veículos particulares para se locomoverem.

O estudo analisa o IPCA, que abrange famílias com renda até 40 salários mínimos, separado por seis faixa de renda.Em janeiro, o indicador subiu 0,32%. ;Existe uma diferença muito grande entre uma família com renda de meio salário mínimo e uma família com renda de 30 salários mínimos. A alimentação por exemplo, corresponde a um terço dos gastos de uma família de baixa renda, enquanto a porcentagem é muito menor para famílias de classes mais altas;, explica Maria Andreia Lameiras, economista do Ipea responsável pelo estudo.

Maria Andreia explica que, neste mês, provavelmente, os impactos serão mais equiparados, uma vez que a educação foi o item que teve a maior alta, e as famílias com maior poder aquisitivo serão as maiores afetadas. Para a projeção anual, a economista aponta um ambiente de tranquilidade inflacionária, e acredita que o IPCA ficará abaixo das expectativas do mercado, de 3,75%. ;Esperamos não ter muitos problemas. Estamos prevendo um câmbio melhor, uma desaceleração de preços de alimentos por conta da previsão de boas safras, além do barateamento de produtos importados. Tudo isso mantendo as taxas de juros baixas e atraindo investidores;.

Cresce intenção de consumo

O cenário de inflação comportada e juros nas mínimas históricas, com o alívio nas taxas finalmente chegando ao consumidor final, vai impulsionar o aumento da confiança a curto prazo. A avaliação é do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, com base na evolução da Intenção de Consumo das Famílias (ICF), indicador calculado pela entidade. O ICF avançou 2,7% em fevereiro diante de janeiro, atingindo o maior patamar para fevereiro em quatro anos. Na comparação com fevereiro de 2018, a alta foi de 13,1%. ;A inflação baixa e a queda no valor das prestações elevaram o otimismo do consumidor a curto prazo;, disse Bentes.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

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