Economia

Startups desafiam o oligopólio de décadas das instituições financeiras

Uma das principais, o Nubank, já recebeu US$ 420 milhões e tem valor de mercado equivalente a US$ 4 bilhões

Hamilton Ferrari, Gabriel Ponte * - Enviado Especial
postado em 24/02/2019 08:00
Rua comercial em Estocolmo, na Suécia, país que deverá ser o primeiro a abolir o papel-moeda, em 2025

O fim do dinheiro já começou para algumas pessoas. O estudante João Pedro Miranda, 20 anos, e a maior parte de sua geração não entendem a necessidade de carregar cédulas e moedas na carteira. Além de serem um peso a mais, os itens foram substituídos pela tecnologia. Nos aplicativos, João Pedro consegue, por exemplo, pagar boletos, visualizar o saldo, realizar parcelamento de compras e efetuar transações. Tudo em poucos cliques.

As soluções digitais que facilitam o pagamento surgem a todo instante. Serviços como o de transporte de passageiros e entrega de alimentos foram dominados pelas novidades tecnológicas. E esse movimento de inovação diminuiu a necessidade do dinheiro. ;Otimizou muito minha rotina. Eu uso tudo pelo celular, convertendo o dinheiro na hora, checando meus gastos, além de ajustar, instantaneamente, o limite do meu cartão de crédito;, conta o estudante. João Pedro também diz que se beneficia da competição entre as novas ferramentas para conseguir a adesão dos clientes.

;Minha instituição financeira não cobra anuidade, algo que um banco tradicional faz. Além disso, sou titular de um cartão de crédito e não pago mensalidade. Acho muito bom, sem falar na organização e na estrutura do aplicativo;, diz João Pedro.

Já é possível, por exemplo, fazer compras pelo celular sem a necessidade de cartões de crédito. Relógios inteligentes também permitem fazer pagamentos. Além de diminuir custos, a inovação traz mais facilidade para o usuário. Aplicativos de acompanhamento financeiro também auxiliam na reformulação da cultura do consumidor digital.

Startups financeiras têm desafiado o oligopólio estabelecido durante décadas por poucas instituições financeiras. Uma das principais, o Nubank, já recebeu US$ 420 milhões e tem valor de mercado equivalente a US$ 4 bilhões. ;Iniciamos nossa jornada com um cartão de crédito sem anuidade e com juros competitivos. A partir daquele momento, as pessoas passaram a ter uma agência no bolso;, diz Vítor Olivier, líder da NuConta, um dos produtos da empresa.

Experiências


O movimento de digitalização foi acompanhado pelo Banco Central (BC) nos últimos anos. De acordo com a autoridade monetária, o cheque foi usado 1,2 bilhão de vezes em transações bancárias em 2009. O volume caiu para 479 milhões em 2017, redução de 60,9%. No mesmo período, as operações de cartões de crédito e de débito saltaram de 5,2 bilhões para 14,3 bilhões. Operações feitas por celular e outros aparelhos, por sua vez, saltaram de 96 milhões para 24,5 bilhões.

A dependência das pessoas das notas pode diminuir com a continuidade de popularização de smartphones e de facilitação de pagamentos. Um levantamento feito pelo Pew Research Center, divulgado neste ano, coloca o Brasil como o líder no uso de smartphone entre os países emergentes. Cerca de 60% dos adultos têm celulares inteligentes, em comparação com 33% de aparelhos simples. Mas 17% das pessoas ainda não têm acesso à tecnologia móvel.

O professor Luis Braido, da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que não é possível prever quando o dinheiro vai acabar, ou se o fato ocorrerá, mas ressalta que as inovações têm permitido novas experiências ao consumidor. Segundo ele, muitas pessoas ainda realizam pagamentos de baixo valor com cédulas, por exemplo, passagens de ônibus.

;É difícil acabar com as notas porque há práticas ilícitas como de lavagem de dinheiro em todo o mundo, que, com certeza, representam grande parte do volume em circulação no mundo. Mas, excluindo isso, ainda é preciso um processo maior de digitalização que permita que mais pessoas ingressem nesse mundo tecnológico. Muito mudou nos últimos anos. A tendência é aumentar;, ressalta Braido

A maior demanda por facilidades cria um amplo mercado por empreendimentos, sejam de serviços comuns, sejam financeiros. De acordo com Priscila Salles, diretora de Marketing do Banco Inter, o surgimento de novas fintechs e bancos chega como uma oportunidade para crescerem juntos e aumentar a competitividade.

;Na nossa visão, o aumento da concorrência e a diversificação da oferta de serviços bancários é um movimento bastante positivo, que beneficia o consumidor. O desenvolvimento tecnológico permite reduzir custos para o cliente final;, avalia Priscila.


Prazo


A Suécia pode tornar-se o primeiro país do mundo a abolir a circulação de cédulas em sua economia. Pesquisa feita com lojistas do país mostrou que, pelo menos, metade deles estima que notas não serão mais aceitas em estabelecimentos comerciais até 2025. Segundo o estudo, um quinto dos suecos não usa mais os tradicionais caixas eletrônicos, o que equivale a dois milhões de pessoas em um país com quase 10 milhões de habitantes.

Além disso, a China reforçou as inovações em pagamentos digitais, sendo a líder mundial nesse ramo. O Brasil ainda enfrenta barreiras socioeconômicas para isso, mas está no caminho da digitalização.

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