Agência Estado
postado em 25/02/2019 13:31
Recém-nomeado para o cargo de vice-presidente do Banco Mundial (Bird) para a América Latina e Caribe, Axel van Trotsenburg, afirma que a direção geral da reforma da Previdência no Brasil é muito positiva, mas requer a construção de consenso para avançar. O Brasil, diz ele, não está sozinho na tarefa de mudar as regras previdenciárias. Ele acena com ajuda para os Estados em crise financeira, mas afirma que haverá necessidade de reformas no nível estadual.
Axel foi um dos líderes da negociação que permitiu o aumento de capital do banco que, em abril de 2018, resultou na aprovação, pelos acionistas, de um transformador pacote de capital, que previa, entre outras coisas, um aumento do capital do Bird em US$ 60 bilhões.
Ele escolheu o Brasil para a primeira visita à região no cargo e deu entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual a estratégia do banco para a América Latina?
A estratégia para a região está baseada no fato de que o banco tem basicamente dois objetivos: reduzir a pobreza e também impulsionar a prosperidade compartilhada através do apoio de políticas que tratem da agenda de crescimento inclusivo, construindo resiliência contra a crise ou também contra desastres naturais.
Como o banco vê situação fiscal na região?
Após o fim da alta das commodities, houve a criação em vários países de um déficit primário substancial, e isso causou problemas. Há sempre um desafio de gerenciar os ciclos de commodities de uma maneira ideal, e tomar as medidas fiscais necessárias nos tempos de alta. Certamente, a situação fiscal é uma das áreas centrais onde é preciso se concentrar em relação às políticas macroeconômicas. Isso está sendo feito também aqui, e eu acho que tudo caminha bem para um futuro.
Como o banco vê a perspectiva da reforma da Previdência?
O Banco Mundial, como tal, não toma posições sobre como as negociações vão se desenvolver, mas é certamente uma área onde, o Brasil não está sozinho. O desafio da previdência é mundial. Você vai nos países industrializados e vê uma questão enorme nas reformas previdenciárias. Você vê isso também em mercados emergentes. Devemos pôr isso num contexto em que esta é uma das questões mais difíceis que precisam ser abordadas. O fato de afetar muitas pessoas e representar uma parte considerável do PIB requer construção de consenso, para ver como podemos avançar.
O banco está otimista com a chance de aprovação da reforma?
Acho que precisamos deixar o processo democrático seguir seu caminho. Mas acho que a direção geral é muito positiva. Teremos de deixar para os legisladores a missão de encontrar o acordo necessário.
O baixo crescimento do Brasil é um problema grande ainda não solucionado.
Os desafios na agenda do crescimento são múltiplos. É o que acontece com a economia mundial. As últimas projeções foram de correção ou queda. O Brasil tem desafios semelhantes aos de outros países da América Latina e é a questão da produtividade. O crescimento da produtividade é, em muitos países da região, baixo.
Os Estados estão tendo um problema fiscal e estão interessados em empréstimos do banco.
O Brasil é um parceiro estratégico, pois possui o maior portfólio de todos os países do mundo. Nós vemos nossos serviços como um pacote, então tivemos, como você diz, os empréstimos. Mas eu penso que igualmente importantes são as ideias que prosperam em nosso relacionamento com vocês como um país, nos permitindo ser muito engajados em, por exemplo, fornecer aconselhamento. Isso pode ser trabalhado em investimento de capital, mas também pode ser em empréstimos. Nesse contexto, agora há o novo governo, e o sinal que eu gostaria de dar durante esta visita é: primeiro, este é o primeiro país que visito. Segundo, estamos interessados em desenvolver um programa forte que apoie o Brasil.
Em alguma área específica?
Temos o cuidado de que a demanda não seja determinada em Washington. Temos trabalhado com situação fiscal dos Estados. Estamos interessados em fornecer o suporte necessário. E isso terá de ser decidido pelo governo, de que forma eles gostariam de fazê-lo. Já fornecemos muita assistência técnica e estamos dispostos a continuar apoiando. Concordamos com o diagnóstico de que os Estados vão precisar de apoio, mas também haverá necessidade de reformas no nível estadual, porque é importante criar uma situação fiscal sustentável que permita o bom funcionamento do financiamento estatal.
O problema é que muitos Estados não podem tomar o empréstimo porque não têm garantias.
Mas foi isso que eu disse: quando você está começando, é importante articular com o governo qual é a melhor maneira de fornecer apoio. Como você sabe, muitas das operações que empreendemos em nível estadual exigem uma garantia federal também, de modo que isso está em discussão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.