Economia

Futuro presidente do BC, Roberto Campos Neto defende mais concorrência

Economista que assumirá a presidência do Banco Central reconhece concentração e afirma que mercado bancário precisa ser modernizado. Em sabatina no Senado, ele promete manter a política monetária e considera fundamental autonomia do BC

Hamilton Ferrari
postado em 27/02/2019 06:00
Segundo o futuro presidente da autoridade monetária, projetos para reduzir juros serão enviados ao Congresso
Aprovado para assumir o Banco Central (BC) no lugar de Ilan Goldfajn, o economista Roberto Campos Neto reconheceu que o setor financeiro é concentrado em poucos bancos. Apesar disso, minimizou os lucros das instituições financeiras e disse que há competição, mas que é preciso aumentar a concorrência através da modernização do mercado. O plenário do Senado Federal deu o aval para o economista ocupar o cargo máximo da autoridade monetária por 55 votos favoráveis e seis contra.

Antes da decisão do plenário, Campos Neto foi sabatinado por mais de quatro horas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), na qual recebeu 26 votos favoráveis e nenhum contra. Na CAE, ele destacou que pretende dar continuidade à política monetária que vem sendo adotada desde meados de 2016 pela gestão de Goldfajn. Segundo ele, a autonomia do Banco Central também é fundamental para manter os juros em patamares mais baixos no futuro. Um projeto de lei já tramita na Câmara sobre o tema.

Questionado sobre o que pretende fazer para reduzir os juros cobrados no país, em especial os do rotativo do cartão de crédito, que atingem quase 300% ao ano, o economista afirmou que o spread bancário ; a diferença entre a taxa pela qual as instituições financeiras captam dinheiro e os juros que cobram ao realizar empréstimos ; é composto por quatro fatores. ;Basicamente, 35% é inadimplência; 25%, custo financeiro; 25%, imposto e 15%, lucro;, afirmou. ;Quando olhamos outro países, o componente lucro é razoavelmente maior do que no Brasil, então grande parte do spread bancário não reflete lucro, mas, sim, outros custos;, afirmou.

Campos Neto ressaltou que é preciso diminuir o impacto dos diversos fatores que encarecem o custo do dinheiro para reduzir os juros. Uma das opções, segundo ele, é a aprovação da lei do Cadastro Positivo, que passou pela Câmara e está no Senado. Ele também defendeu ;remodelar; os empréstimos compulsórios mantidos pelos bancos no BC. E disse que novos projetos para reduzir as taxas de juros serão encaminhados ao Congresso.

A inadimplência também é fator de preocupação. ;O Brasil, hoje, tem uma recuperação de crédito muito lenta e muito custosa. Para se ter uma ideia, a cada R$ 1 emprestado, se recupera R$ 0,13, num prazo, em média, de quatro anos. Em outros países emergentes, a taxa de recuperação é de 60% em um ano e meio a dois anos;, argumentou Campos Neto.

Competição


Sobre a concentração bancária, o economista ressaltou que, no Brasil, a situação é parecida com a de outros países, como Alemanha e Inglaterra. Segundo dados do Banco Central, os quatro principais bancos do país detém 80% do mercado de crédito. ;No Brasil, apesar de o mercado ser concentrado ; reconhecemos isso ;, dá para dizer que existe competição. No entanto, isso não gerou um spread adequado;, admitiu Campos Neto.

Questionado sobre os lucros dos bancos, que continuam em expansão mesmo com a crise econômica iniciada em 2014, o economista destacou que ;não é uma boa métrica; observar apenas esse fator, sendo necessário acompanhar a rentabilidade das instituições. ;É preciso ver qual é o lucro em relação ao capital empregado. O retorno dos bancos já foi bem maior, de 19%, 20%, e caiu para 12%. Bancos rendiam a mesma coisa que títulos do governo. Agora a rentabilidade voltou para algo como 15%. Apesar de o lucro ser crescente, a rentabilidade baixou muito. Voltou a crescer agora, mas ainda está abaixo do máximo;, afirmou o futuro presidente do BC.

O economista disse, ainda, que a Agenda BC%2b será ampliada, e a modernização do setor financeiro será uma das prioridades. O Senado também aprovou a indicação do economista Bruno Serra Fernandes, para a Diretoria de Política Monetária do BC, e de João Manoel Pinho de Mello, para a de Organização do Sistema Financeiro. Flávia Perlingeiro recebeu aval para ocupar uma diretoria da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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