Economia

Medicamentos sobem até 4,46% em 31 de março, segundo Interfarma

Estimativa é de entidade do setor farmacêutico. Aumento, previsto em lei, ocorre uma vez por ano e farmácias já começam a alertar os clientes sobre a alta de preços. Usuários reclamam do custo elevado dos tratamentos

Bruno Santa Rita - Especial para o Correio
postado em 02/03/2019 07:00
Percentual é o máximo que as empresas podem aplicar aos produtos. Cada fornecedor pode dosar o reajuste de acordo com variação de custos

O preço dos medicamentos pode ter aumento de até 4,46% no fim deste mês, de acordo com estimativa realizada pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). O reajuste é previsto, todos os anos, para 31 de março. Com a proximidade da data, as farmácias já começaram a notificar os clientes sobre os possíveis aumentos.

O reajuste que será anunciado é o máximo que as empresas podem aplicar aos seus produtos. Isso significa que algumas farmácias podem ter aumentos diferentes para a mesma mercadoria ou até mesmo não fazer nenhuma alteração no valor. A correção é definida todos os anos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), conforme estabelecido na Lei n; 10.742/2003. Normalmente, o reajuste é baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e, no ano passado, girou em torno de 2%.

Segundo a gerente de uma farmácia localizada no Sudoeste, a partir de ontem, a recomendação aos clientes é que comprem mais unidades de remédios de uso contínuo, com exceção dos que exigem prescrição médica e por isso não podem ser comprados em grande quantidade. Além disso, ela lembrou que, todos os anos, o reajuste provoca reclamações dos clientes.

Para a diarista Jacinta dos Santos, de 70 anos, a notícia do possível aumento é péssima. ;Eu me sinto lesada. Posso passar até fome;, explicou. Jacinta recebe hoje um salário mínimo por mês, ou R$ 998. Como ela tem problemas no nervo ciático e hérnia de disco, os remédios são necessários todos os meses. ;Eu faço empréstimos para comprar remédios;, reclamou. Segundo a diarista, no mês passado, a medicação recomendada chegou a custar R$ 1.000.

Eugênio Martinez precisa usar medicamentos de uso controlado e gasta cerca de R$ 700 em cada compra

O servidor público Eugênio Sales Martinez, de 43 anos, também pode ser afetado pelos preços. Ele sofre de transtorno de bipolaridade e precisa utilizar medicamentos controlados. Segundo Martinez, uma ida à farmácia para comprar todos os remédios prescritos pode custar até R$ 700. ;Eu não posso ficar sem tomar os medicamentos;, destacou. Eugênio informou que conta com um privilégio. O órgão em que trabalha oferece restituição de 50% do valor gasto com remédios mediante laudo médico. ;Mesmo assim, este ano ainda não tive tempo de conseguir a restituição. A despesa toda está saindo do meu bolso;, lamentou.

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal (Sincofarma -DF), Francisco Messias Vasconcelos, todo aumento que vem para o setor varejista é visto negativamente pelo consumidor e pelo vendedor do produto. ;O cliente não gosta e diminui o consumo. Isso é ruim tanto para o consumidor quanto para as empresas;, explicou. Vasconcelos recomenda pesquisar preços e prestar atenção a produtos genéricos, que podem ser mais baratos. Além disso, ele condena a ideia de formar estoques. ;Estocar remédios pode trazer prejuízo. O médico pode mudar a receita ou suspender o uso. Aí, o cliente vai ter que jogar fora;, explicou.

Segundo o professor de economia da Universidade de Brasília Newton Marques, setores como o farmacêutico costumam repassar o reajuste autorizado para o preço dos produtos. ;Esse setor é regulado e autossustentável. As pessoas, em geral, necessitam de remédios e não deixam de comprá-los;, explicou. Marques, no entanto, avaliou que o aumento não deve vir forte este ano. ;A economia está desacelerada, sem sobressaltos. Com isso, não devemos ter grandes surpresas;, analisou. Outro fator apontado pelo economista que justificaria um reajuste menor este ano é que as matérias-primas dos medicamentos não costumam variar muito de preço.

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