Economia

Diferença salarial entre homens e mulheres atinge todas as classes sociais

Para especialistas, estrutura cultural brasileira, que atribui a elas a responsabilidade por crianças e idosos, contribui para o quadro

Bruno Santa Rita - Especial para o Correio, Beatriz Roscoe*
postado em 08/03/2019 06:00

O mercado de trabalho brasileiro ainda é injusto e abusivo com as mulheres tanto em relação às vagas disponíveis, quanto aos salários pagos pelos empregadores. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), relativa ao 4; trimestre de 2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no período foi de 11,6%, mas com diferenças significativas entre homens (10,1%) e mulheres (13,5%).

A diferença ocorreu nas cinco regiões do país, com destaque para o Norte, onde a diferença entre homens e mulheres foi a maior (22,9 pontos percentuais), e para o Sudeste, com a menor diferença (17,7 pontos percentuais).

Já o estudo País Estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras, produzido pela Oxfam Brasil, em 2018 com dados de 2017, a diferença de salários entre os gêneros atinge todas as classes sociais.

De acordo com o estudo, em 2017, as mulheres receberem 70% dos rendimentos dos homens. A diferença ficou ainda maior do que em 2016, quando as trabalhadoras receberam o equivalente a 72% dos salários pagos aos homens. Os valores se referem à remuneração média paga a todos os trabalhadores brasileiros naquele ano.

No recorte do estudo que considera os 50% da população brasileira mais pobres, as mulheres tiveram renda equivalente a 75% da média obtida pelos homens neste segmento. Na classe mais rica, ou seja, a parcela de 10% dos trabalhadores, a variação foi ainda pior. Em 2017, as mulheres receberem o equivalente a 60% dos salários dos homens, enquanto em 2016, foram 69%.

De acordo com o coordenador de campanha da Oxfam Brasil, Rafael Georges, a principal causa para os resultados desiguais no meio de trabalho vem da estrutura cultural brasileira e do preconceito. ;O Brasil avança muito devagar no que tange a políticas de empoderamento feminino;, afirmou. ;A mulher ainda é a figura que tem obrigação de ficar em casa para cuidar dos filhos e das tarefas domésticas;, completou.

Infográfico sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres

Falta suporte

;A mulher quase sempre cuida de criança e de idosos. Isso devia ser provido pelo Estado;, completa. Para ele, o Estado deveria dar mais suporte para a mulher ingressar no mercado de trabalho. Ele considera que esse problema poderia ser reduzido com a disponibilidade de mais creches. ;No Brasil, a regra é o homem ficar pouco tempo dentro de casa, e a mulher, disponível para a criança, sem tempo para a carreira dela;, comparou.

A presidente da Sempreviva Organização Feminista (SOF), Maria Luiza da Costa, aponta outros problemas, como a dupla jornada de trabalho que as mulheres enfrentam, o que limita o tempo disponível para elas se dedicarem à carreira. Ela lembra, ainda, que a média de ingresso das mulheres no mercado de trabalho coincide com idade média da maternidade. Além disso, Luiz acredita que a falta de representatividade feminina em cargos altos nas centrais sindicais resulta numa baixa progressão para as mulheres. ;O mundo sindical ainda é bastante masculino. A maior parte das decisões nesse âmbito são tomadas por homens. É natural que não sejam previstos os problemas das mulheres;, explicou.

Para Luiza, a desigualdade de gênero vem ganhando espaço nos fóruns de discussão na sociedade. No entanto, ela acredita que as discussões ainda não se traduziram em ações práticas e políticas públicas. ;Ainda falta organização e ação conjunta;.

Segundo a professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB) Débora Barem, as mulheres são as primeiras a sofrer as consequências durante as crises econômicas. Para ela, a reforma trabalhista aprovada durante o governo Michel Temer, em 2018, afetou mais as mulheres. ;Como elas já são o lado mais frágil no mercado de trabalho, acabam sendo as primeiras a serem demitidas ou empurradas para a informalidade;.

Para Débora, as mulheres deveriam ocupar mais os espaços de discussão e somar esforços para ocupar mais as cadeiras no Congresso Nacional. Nesta nova legislatura, elas representam apenas 10,7% dos parlamentares. Ainda é pouco, mas é o dobro do que há 20 anos.

* Estagiária sob supervisão de Claudia Dianni

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