Jornal Correio Braziliense

Economia

Saques da Poupança no primeiro bimestre são os maiores desde 2016

Volume total aplicado na caderneta cai entre janeiro e fevereiro. Especialistas afirmam que recurso foi usado para honrar compromissos financeiros. Apesar dos saques, volume na aplicação ainda é maior do que o do mesmo período do ano passado


O brasileiro recorreu à poupança para pagar as pendências financeiras do início do ano. Segundo dados do Banco Central (BC), houve uma retirada líquida de R$ 15,253 bilhões no primeiro bimestre do ano, o que representa o maior volume para o período desde 2016. A caderneta perdeu atratividade com a queda da taxa Selic, mas o principal motivo, para analistas, é o aperto financeiro.

O educador financeiro e especialista Ricardo Rocha, do Insper, explicou que os trabalhadores precisam arcar com vários compromissos financeiros no início do ano, sejam com viagens, matrícula e materiais escolares, sejam com impostos e outros. ;Normalmente, o início do ano é um período em que se ampliam os gastos das famílias. Embora sejam despesas esperadas, é comum a retirada de recursos da poupança para ajudar no pagamento;, destacou.

Segundo o BC, os saques totalizaram R$ 11,23 bilhões em janeiro e R$ 4,02 bilhões em fevereiro. Somando os dois valores, as perdas para a caderneta atingem R$ 10 bilhões a mais neste ano em relação a 2018. Para a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti, apesar de ter sido maior, o importante é que a poupança está num processo de alta nos últimos meses.

Os números mostram que, de janeiro para fevereiro, o volume total de recursos aplicados caiu de R$ 788,898 bilhões para R$ 787,933 bilhões. ;Se compararmos este saldo com fevereiro de 2018, perceberemos que houve um acréscimo de 8,75%. Ou seja, indica que as pessoas estão poupando;, avalia Marcela. O estoque de dinheiro no investimento somava R$ 724,54 bilhões no mesmo mês do ano passado.

De acordo com uma pesquisa feita pelo SPC Brasil, o cenário de recuperação de crédito entre os consumidores começa a dar sinais de melhora. O número de brasileiros inadimplentes que regularizaram as pendências cresceu 11,5% no acumulado de 12 meses terminados em janeiro.

O levantamento mostrou ainda que a dívida não é um evento isolado na maioria dos casos. Do total de consumidores que foram negativados no último mês de janeiro, 79% são reincidentes, ou seja, já ocuparam o cadastro de devedores ao longo dos últimos 12 meses. Segundo o SPC Brasil, o tempo médio entre o vencimento de uma dívida para a outra é de 96 dias. Isso significa que, depois de pouco mais de três meses após ficar inadimplentes, o consumidor volta a atrasar o pagamento de uma segunda conta. Em 2018, com a recuperação do mercado de trabalho e renda, a poupança fechou o ano com captação líquida de R$ 38,260 bilhões.


Rentabilidade


O Banco Central mostrou ainda que a rentabilidade da caderneta permitiu ganhos de R$ 2,965 bilhões em fevereiro. De acordo com Ricardo Rocha, mesmo que em efeito menor, o saque do dinheiro pode ser explicado pela menor atratividade da poupança. O rendimento da caderneta é calculado pela soma da taxa referencial (TR) com 70% da taxa Selic, que atualmente está no menor nível da história, em 6,5% ao ano.

Na prática, quanto menores os juros, pior será o retorno financeiro para os poupadores. Hoje, a caderneta rende 4,55% mais TR. Há no mercado várias opções de investimentos seguros que dão maior ganho. ;É uma porcentagem menor desta retirada, mas há pessoas que migram para outras aplicações mais rentáveis. Tem opções que dão ganhos maiores;, declarou Rocha.

Em janeiro de 2017, porém, os ganhos da poupança superaram R$ 4 bilhões. O número expressivo é explicado pela mudança de legislação quando a taxa Selic está acima de 8,5% ao ano, o rendimento da caderneta é de 0,5% ao mês mais a taxa referencial.