Economia

Ações da Gol sentem efeito da tragédia com avião na Etiópia

Com 133 aviões 737 MAX 8 encomendados à fabricante americana e sete em operação, a companhia aérea decide suspender as operações; papéis caíram 2,92% na B3

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 12/03/2019 06:00
Para a Boeing, o golpe após mais esse acidente com o modelo pode ser ainda maior. Trezentas e cinquenta unidades foram entregues aos clientes até janeiro

São Paulo ; A fabricante de aviões Boeing viu suas ações perderem valor na bolsa de Nova York ontem, um dia depois da queda de uma de suas aeronaves na Etiópia. O 737 MAX 8, da Ethiopian Airlines, caiu seis minutos depois de decolar do aeroporto de Adis Abeba ; 157 pessoas morreram. No fim do dia, os papéis fecharam em queda de 5,33% ; uma pequena recuperação depois de perdas mais altas no início da operação na bolsa.

O mercado reagiu mal à tragédia porque esse foi o segundo acidente em cinco meses com o mesmo modelo. Em outubro, em uma situação semelhante, o avião da Lion Air foi ao solo pouco depois de decolar, em Jacarta, na Indonésia. As vítimas chegaram a 189 pessoas.
As duas tragédias com aeronaves com poucas horas de voo em um intervalo tão pequeno trouxeram dúvidas sobre o projeto da Boeing, que há algumas semanas passou a ter o aval dos acionistas da Embraer para ser a controladora da fabricante brasileira. Além da Etiópia, China e Indonésia determinaram que as companhias aéreas mantenham seus aviões 737 MAX 8 em terra até que as investigações sobre as causas do acidente avancem.

A Cayman Airways, das Ilhas Cayman, optou por suspender voluntariamente o uso desses aviões da Boeing. Em comunicado, Fabian Whorms, diretor executivo, afirmou que a empresa está ;colocando a segurança dos nossos passageiros e da tripulação em primeiro lugar;. Da mesma forma, a direção da Ethiopian Airlines informou que, apesar de ainda não saber a causa do acidente, decidiu suspender a utilização dos 737 MAX 8 por ;medida extra de segurança;.

No Brasil, a Gol tem em sua frota sete aeronaves desse modelo, usadas em voos que operam nas rotas para os Estados Unidos, América do Sul e Caribe. Ao todo, a companhia é dona de 121 aviões da fabricante americana. Assim como aconteceu com a Boeing, suas ações sentiram os efeitos da tragédia na Etiópia. Na B3, a bolsa paulista, os papéis caíram 2,92%.
Depois de afirmar por meio de nota que manteria seus 737 MAX 8 no ar, à noite, por volta das 20h (depois do fechamento das negociações na bolsa de valores), divulgou novo comunicado em que volta atrás na decisão, deixando claro que fez a escolha por decisão própria. As sete aeronaves desse modelo estão nos hangares da empresa desde a noite de ontem. Os passageiros afetados pela medida serão acomodados em outros voos, inclusive de diferentes companhias aéreas. No primeiro comunicado, a Gol disse que seguia ;acompanhando as investigações e mantém contato próximo com a Boeing para esclarecimentos. A companhia reitera a confiança na segurança da sua operação;. O teor da nota é semelhante ao de outras companhias aéreas internacionais, que também divulgaram estar monitorando o assunto junto à Boeing.

Encrenca


A dor de cabeça da Gol, líder em participação no mercado doméstico, poderá ficar ainda maior. A companhia aérea brasileira anunciou, no fim do ano passado, que tem pedidos para a aquisição de 135 aeronaves 737 MAX, com entrega até 2028. Desse total, 133 são do modelo 737 MAX 8, com capacidade para 186 passageiros, além de dois 737 MAX 10, para até 230 passageiros.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que fiscaliza o setor aéreo local, informou por meio de nota que não via a necessidade de suspender o uso do 737 MAX 8. De acordo com o segundo comunicado da Gol, o órgão foi informado sobre a decisão de encostar temporariamente o modelo da Boeing. A agência explicou que tem acompanhado as notícias sobre acidente na Etiópia e vem mantendo contato com a Boeing, ;com a autoridade que originalmente a certificou, bem como com o operador brasileiro;.

O monitoramento da Anac é feito por um processo chamado de ;Aeronavegabilidade Continuada;, que acompanha toda a frota em operação no Brasil e possibilita medir a probabilidade de repetição de falhas, avaliação de riscos e, se for o caso, a limitação das operações da frota de uma aeronave. A agência americana responsável por fiscalizar o setor vai participar das investigações junto do governo etíope e da Boeing.

A avaliação da Fundação Procon de São Paulo, vinculada à Secretaria da Justiça e Cidadania, é diferente da Anac e da Gol, por isso o órgão notificou ontem à tarde a companhia para que suspendesse ;imediatamente a operação de todas as aeronaves da Boeing modelo 737 MAX 8, em razão da ocorrência de acidentes de perfil semelhante em curto espaço de tempo;. Segundo o órgão, a recomendação foi feita para ;prevenir que ocorram futuros acidentes colocando em risco a vida dos usuários do transporte aéreo;.

Estrela americana


Para a Boeing, o golpe depois de mais esse acidente com o 737 MAX 8 pode ser ainda maior. Esse modelo está em operação desde 2017 e 350 unidades foram entregues aos clientes até o fim de janeiro. Ao todo, a fabricante tem em carteira outras 4.661 aeronaves encomendadas.

Para a fabricante americana, desde que esse modelo foi lançado, se tornou a estrela da companhia por conta da aceitação rápida pelo mercado. Especialistas avaliam que, se for identificado algum problema na fabricação do MAX 8, o golpe nas finanças da companhia poderá ser muito grande.

A Boeing, segundo nota, lamenta o acidente e informa que uma equipe técnica irá ao local do acidente para dar apoio e fornecer assistência técnica sob a supervisão do Departamento de Investigação de Acidentes da Etiópia e do Departamento Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA.

Embraer reverte queda


A Embraer também sentiu os efeitos colaterais da queda das ações da Boeing na bolsa americana. Na B3, bolsa paulista, os papéis da empresa brasileira chegaram a cair, mas terminaram o pregão de segunda-feira com uma pequena alta, de 0,05%. Em 26 de fevereiro, os acionistas da Embraer aprovaram em assembleia a parceria com a Boeing. A proposta estabelece uma joint venture entre as duas empresas. Assim que o negócio for aprovado pelos órgãos reguladores dos Estados Unidos e do Brasil, a Boeing passará a ter 80% da nova empresa e a Embraer, os 20% restantes.

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