Jornal Correio Braziliense

Economia

Após euforia, investidor opta pela cautela em pregão morno na bolsa

Sessão de negócios foi marcada pela repercussão da votação em torno de um acordo do Brexit, no parlamento britânico, e pelo aguardo em torno do início da tramitação da reforma da Previdência no Congresso

Em um dia marcado pela cautela nos negócios locais, após forte euforia no pregão da segunda-feira (12/3), quando avançou 2,79%, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou a terça-feira (11/3) em queda de 0,20%, com 97.828 pontos. De acordo com operadores, pesou o aguardo, pelo mercado exterior, de um eventual acordo no parlamento britânico, em torno do Brexit, que acabou rejeitado na tarde de ontem. Já na conjuntura doméstica, os investidores estiveram atentos à tramitação da reforma da Previdência no Congresso.

A expectativa é de que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) seja instalada, na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (13/3). No entanto, já foi firmado entre líderes partidários da Câmara que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência só seja votada, em termos de admissibilidade, na CCJ, após o envio, por parte do governo, do projeto para o grupo de militares, o que deve ocorrer na quarta-feira da semana que vem (20/3).

Na visão de Tiago Mori, assessor da Eixo Investimentos, o pregão de ontem foi marcado por um ajuste técnico, após a euforia nos negócios locais na segunda. "Após o carnaval, tivemos, de fato, um ânimo muito grande, com grandes expectativas em torno da Previdência. A B3 estava em um patamar muito abaixo do normal, quando atingiu os 93 mil pontos. Ontem, com o aumento do apetite ao risco, por parte dos agentes, a tendência era de realização", analisou.

Breno Bonani, analista da Valor Gestora, afirmou que, às vésperas do início da tramitação da PEC da Previdência no Congresso, predomina, entre os donos do dinheiro, a cautela. "A sessão de negócios esteve em compasso de espera. A expectativa dos operadores é de que, ainda nesta semana, a CCJ seja instalada", afirmou. Mori, da Eixo Investimentos, reforça que, enquanto o texto não caminhar para um desfecho, prevalece as incertezas dos donos do dinheiro. "Com os atrasos na agenda econômica, enquanto as coisas não se definirem, a conjuntura afugenta o investidor. A fuga de capital é um exemplo, com o dólar valorizando-se frente ao real", explicou, em alusão ao movimento da moeda norte-americana na semana passada.

No exterior, Mori destaca que, em termos de fundo multimercado, os donos do dinheiro continuam preocupados com um eventual desfecho da saída do Reino Unido da União Europeia, imbróglio que se desenrola desde 2016. "O que mais preocupa os traders é o fato de uma definição. Como uma eventual decisão do episódio é postergada, os agentes ficam receosos em termos de investimento. Para os negócios, o Reino Unido, que poderia oferecer um cenário favorável à inserção de investimentos, poderia ver a aplicação de capitais ser diluída, diante do receio com o que pode vir", completou.

Já na visão de Bonani, merece destaque o fato que a economia turca entrou em recessão, após 10 anos de crescimento. "Isso pode ser ruim entre os países emergentes. Ano passado, já havíamos percebido os efeitos, acompanhando, na época, o aumento dos juros básicos da economia turca alastrando-se em outras economias. É preciso acompanhar a situação de perto. Esses dados podem impactar economias emergentes", frisou o analista.

Já em termos do câmbio, o dólar norte-americano encerrou a terça-feira (12/3) em queda de 0,68%, negociado a R$ 3,815 a venda. A desvalorização da divisa estrangeira frente ao real ocorre em um momento no qual aumenta, no exterior, o ímpeto dos agentes econômicos ao risco, assim como, na conjuntura doméstica, cresce a expectativa em torno do início da tramitação da PEC da Previdência no Congresso.

* Estagiário sob supervisão de Roberto Fonseca